10.3.06

Obras anunciadas para 2006

A lista é longa, ocupa quase duas páginas, mas importante para quem mora nos bairros beneficiados, até para cobrar ao governo a realização do serviço.
Portanto, aqui vai a relação completa do pacote anunciado pelo prefeito José Ronaldo na terça-feira. Nota-se que o governo teve a preocupação de fazer alguma coisa em toda parte, para ninguém se dizer excluído.

Mangabeira
Pavimentação em paralelo das ruas Guarapura, Lourdes Maria, Mathias, Iatabirita, Imbituba, Itapira e travessa Camamu.
Tomba
Pavimentação em paralelo das ruas Emanuela Guimarães, João de Carvalho, Jasmim, Nilo Peçanha, Magnólia, Virgem, Tafarel, Trecho da rua D, Nova Esperança, 2ª travessa Salvador, João de Deus, Tocantinópolis, travessa Tocantinópolis, 1ª travessa Guilherme Azevedo, Leonardo Evangelista, travessa 2 Irmãos, travessa Trajano Morais, travessa Torre de Pedra, travessa Timbaúba, 1ª travessa Caraguatatuba, São João do Cazumbá.
Queimadinha
Pavimentação em paralelo das ruas Lorena, São Paulo, Rio Grande, Minas Gerais, Amazonas.
Conceição
Pavimentação em paralelo das ruas Branca, Palmerindo, Palmito, Vila Mariano, avenida Heitor Villa Lobos
Jardim Acácia
Pavimentação em paralelo, trecho da rua Mercúrio, Belo Horizonte, travessa Belo Horizonte.
Gabriela
Pavimentação em paralelo das ruas Sinhazinha, O Direito de Amar, complemento da rua Flamengo, Santana do Agreste, lateral da Escada, Bravo.
Parque Getúlio Vargas
Pavimentação em paralelo da rua São Domingos.
Santa Mônica
Pavimentação em paralelo da praça Arnaldo Brito, complementação e pavimentação em asfalto das ruas São Romão, Cariri, Itaporanga, Galiléia, Porto Príncipe, Moamedi, Alvin, Cosme e Damião, São Pedro, Tocantins, São Cristóvão, coronel Alfredo Coelho.
Avenida Rio de Janeiro (DNER)
Reurbanização da praça da Concórdia
Feira X
Construção e urbanização da Praça do conjunto Feira X
Brasília
Pavimentação em concreto e paralelepípedos das ruas Rodeio (esquina com a Pedro Suzart), 3ª travessa rio Itapemirim, travessa rio Purus, travessa rio Juruá (Vila Queiroz), travessa Milão, travessa Pedro Suzart, travessa rio Itapemirim e travessa Rio Solimões.
Conjuntos localizados na região do Tomba
Pavimentação em paralelo das ruas do conjunto Fraternidade, do Loteamento Escoteiro, conjunto Luciano Barreto e recuperação da praça poliesportiva do conjunto Feira VII.
Complementação e pavimentação em asfalto da rua Vespasiano (até o novo posto de saúde).
Cidade Nova
Reurbanização da praça do Correio, urbanização da praça da rua Clodoaldo, drenagem de águas pluviais da Cidade Nova à avenida Maria Quitéria (Praça João Havelange)
Olhos D´água
Reurbanização da Praça da Paquera, fechamento do canal da rua Araújo Pinho.
Feira VI
Pavimentação em paralelo da rua Pomedore e rua O.
Serraria Brasil
Pavimentação em paralelo da rua Pedra Cruz
SIM
Pavimentação da rua Passo Alegre
Agrovila
Pavimentação em paralelo das ruas do bairro Agrovila
Campo Limpo
Pavimentação em paralelo das ruas Humildes, Ipanema, Paissandu, Itapororocas, Mirandrópolis, Canidópolis, João Lima, construção da pista de bicicross da cidade (Loteamento Vivenda Anselmo Gomes), complementação e pavimentação em asfalto das ruas Uberaba, Tomazinha, Engenheiro Navarro, Ipanema, Assis Brasil, rua e Travessa Mereópolis, Santo Antônio de Pádua
Novo Horizonte
Pavimentação em paralelo da rua Padre Manoel da Nóbrega e acesso ao bairro
Coronel José Pinto
Pavimentação em paralelo da rua Caxias
Jardim Cruzeiro
Complementação e pavimentação em asfalto das ruas Barrolândia, Barro Branco, Barro Duro, Barro Alto, Petrolina, Senhor do Bonfim, Nazaré, Itambé, Itabuna, Miguel Calmon, Juazeiro, Nossa Senhora da Purificação, construção de muro e alambrado do campo de futebol, ampliação do Hospital da Mulher (setor administrativo).
Nova Esperança
Pavimentação em paralelo das ruas Três Riachos, 1ª e 2ª Travessas Três Riachos.
Parque Ipê
Pavimentação em paralelo das ruas Campo Grande, Portuguesa de Desportos, e construção da Quadra Poliesportiva
Parque Brasil (Conceição)
Recuperação da Associação de Moradores do Parque Brasil (Creche Tio Jonas)
Rocinha
Pavimentação em paralelo das ruas Shalon, Geová Nissi, Isolina Bastos, Ebenezia
Eucalipto
Pavimentação em paralelepípedo da rua Agrônomos
Estação Nova
Pavimentação em paralelo das ruas Peru, Gardênia, Istefânia.
Pedra do Descanso
Pavimentação em paralelo da rua Jacuí
Conjunto Feira IX
Construção da praça esportiva, praça pública da rua A, Caminho 09.
Capuchinhos
Complementação e pavimentação em asfalto das ruas Botelho, Bossoroca, Coromandel, coronel Murta ( Irmã Dulce) e recuperação da quadra poliesportiva da Escola Monteiro Lobato
Subaé
Recuperação da quadra poliesportiva
Centro
Urbanização da praça Jackson do Amauri com a construção do Monumento do Caminhoneiro.
Conjunto Feira V
Pavimentação em paralelo do Caminho 16
Panorama
Complementação e pavimentação em asfalto das ruas Contagem, André Vital, Américo Simas, Afonso Celso, Conceição da Barra, Conceição, Conceição do Almeida (Trechos 1 e 2), Conceição do Araguaia, ruas Cocal (trechos 1 e 2), Álvares de Azevedo, Colinas.
Bonfim de Feira
Recuperação da quadra poliesportiva
Jaguara
Urbanização da praça do povoado de Sete Portas
Tiquaruçu
Pavimentação em paralelo do povoado Alto do Santo
Jaíba
Pavimentação em paralelo do conjunto Renato Costa
Humildes
Construção da biblioteca
Distrito Maria Quitéria
Construção do Salão de Recreação da Escola Francisco Martins da Silva

Micareta: mais de 90% dos camarotes vendidos

A pouco mais de um mês do início da Micareta (20 a 23 de abril), até o final da tarde de quinta-feira restavam apenas 40 camarotes, dos 430 colocados à venda pela Toldos São Paulo (são 120 camarotes com capacidade para 20 pessoas e 310 para 12 foliões).
As vendas foram iniciadas em setembro. Restam 16 com capacidade para 20 pessoas (custam R$ 2.500 divididos em cinco vezes no cartão de crédito Mastercard ou em duas vezes no cheque) e outros 24 camarotes para 12 pessoas (R$ 1.500).
As vendas estão sendo feitas na Central dos Camarotes, no primeiro piso do Arnold Silva Plaza.

Atrações sairão ao meio-dia na sexta de Micareta?

Foi o que anunciou a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, que se reuniu com representantes dos blocos que desfilarão na Micareta na noite de segunda-feira no CIFS (Centro das Indústrias de Feira de Santana).
A conferir quando começar a festa (se bem que depois que começa todo mundo esquece do atraso). A Micareta de Feira de Santana acontece de 20 a 23 de abril.

SIT tem 75% de aprovação

Fui ao Secretário de Transportes e Trânsito e vice-prefeito, Antonio Carlos Borges Júnior, me queixar do SIT e fazer uma série de questionamentos. Não adiantou muito. O secretário sacou uma pesquisa ainda inédita, encomendada pela Prefeitura à Economic, mostrando que o novo sistema tem 75% de aprovação dos usuários.
De acordo com o secretário, o número de queixas que recebe, agora que o SIT está em funcionamento há alguns meses, é bem menor do que recebia antes desta arrumação do transporte coletivo. E mais, o grosso das reclamações hoje é sobre a falta de bancos no Terminal Central e não sobre demora ou qualidade dos ônibus (a propósito, a licitação para os bancos saiu esta semana e o prazo para a vencedora fazer o serviço é de cerca de um mês. Então espera-se que em meados de abril já se possa sentar no Central).
Quanto à qualidade, apenas uma empresa está adequada às exigências de idade da frota e cumpriu com os prazos acertados com a Prefeitura para renovação dos ônibus. As outras duas estão devendo, o que é fácil de perceber ao andar nos ônibus.
Mais radiante ainda ficou o secretário ao saber de pesquisa com a população de São Paulo, que deu apenas 55% de aprovação dos usuários ao serviço de ônibus municipal.
Para mim, há um problema de amostragem aí, sendo os paulistanos muito mais exigentes com o serviço público. Outro dia me espantei ao ouvir um transeunte dizer que "podia ter ônibus pelo menos de hora em hora" para a localidade dele. Ora, para mim, 15 minutos é o tempo máximo admissível. Mas o vice-prefeito não concorda comigo nem com o vereador da base aliada, Getúlio Barbosa, que ainda outro dia queixou-se no rádio de que as empresas prestam um péssimo serviço e não deviam estar falando em aumentar passagem.
Já disse aqui e repito, que o SIT é um primeiro passo, sem dúvida uma evolução em relação ao que tínhamos. Mas precisa melhorar muito ainda, pois espera-se demais em muitas linhas, vans de distritos continuam a andar superlotadas e há ainda quatro tipos de transporte que estão fora das regras: motoboys e vans clandestinas, táxis fazendo lotação e carros particulares fazendo lotação também. Tem gente inclusive que vem de outros municípios trazer algum passageiro e passa o dia rodando em Feira, transportando clandestinamente. Quanto a isso, vem aí uma nova onda de repressão, envolvendo Agerba, Polícia Rodoviária Federal, Superintendência de Trânsito e PM, que já se reuniram com a Secretaria de Trânsito para combinar como serão as blitze. Para mim, permanece o conceito de que se há espaço para tanta clandestinidade é porque o sistema oficial não atende a contento a população.
No final acabei esquecendo uma pergunta, que lanço aqui para reflexão coletiva. Porque há tantos ônibus com a parte de baixo das janelas vedadas, sem poder abrir? Para proteger do frio, neste nosso sertão, é que não é. Eu até poderia imaginar que se tratasse de um modo de evitar que o passageiro pulasse pela janela, sem pagar passagem, mas isto não é viável porque a cobrança é feita logo que o usuário entra no coletivo. Só suicidas em último estágio passariam pela roleta para depois pular pela janela. Eis um mistério que desafia a lógica.

Rali na avenida

Manhã de quinta-feira, tudo estava seco, depois de chuva não muito volumosa da véspera. Mas algo de muito errado existe com o sistema (se é que existe) de escoamento de águas pluviais neste trecho da avenida Getúlio Vargas, na esquina com rua Teu Teu. Muita água e profundidade razoável, o que obrigava os carros a passar em marcha lenta e motoqueiros a desviar o caminho ou se aventurar com as pernas suspensas no meio da poça com extensão aproximada de 100 metros. Dependendo do carro e do entusiasmo do motorista que passasse, podiam-se admirar cenas dignas de rali, com água espirrando longe.

Publicado na Tribuna Feirense em 10/03/06

VEJA ABAIXO FOTOS DA ÁREA ALAGADA, POR VOLTA DE 8 DA MANHÃ DE QUINTA






1 bilhão

Comentei na coluna passada que o negócio é comprar música de uma por uma, em MP3, pagando só pelo que você quer ouvir; e que portanto, CD é coisa ultrapassada.
No domingo, a imprensa norte-americana noticiou que com a compra feita por um adolescente da música Speed of sound, do Coldplay, completaram-se um bilhão de músicas vendidas pelo principal serviço deste tipo no mundo, o Itunes.
A mesma matéria informa que em 2001 foram vendidos nos Estados Unidos 763 milhões de CDs. Em 2005, número caiu para 619 milhões.

Auxílio-gogó

José de Arimatéia, o original, era um homem generoso. Ofereceu um túmulo de sua propriedade para o enterro de Jesus, que àquela altura, tinha passado de profeta, líder de multidões, a renegado, abandonado pelos próprios discípulos, esquecido pelo povo e tido pelas autoridades como um subversivo perigoso, finalmente eliminado.
José de Arimatéia era também legislador, como o nosso vereador de mesmo nome. Era membro do sinédrio, um conselho formado basicamente por sacerdotes. Os estudiosos acreditam que fosse um homem de posses. Generoso e endinheirado, não se imagina José de Arimatéia solicitando ao sumo-sacerdote um auxílio-túnica para comparecer a contento nas sessões plenárias.
O nosso vereador, porém, reclama o auxílio-paletó. E além do pedido de uma verinha a mais, surge com uma justificativa infeliz, a saber, a alegação de que em Salvador houve redução no recesso porque os vereadores ganham esta ajuda. É uma lógica um tanto enviezada. Seria melhor o vereador dizer que ganha pouco e que com estes caraminguás não pode comprar um paletó a mais para dar conta de mais algumas sessões que ocorrerão nestes dias acrescentados ao ano legislativo.
Pessoalmente, eu concordo com a sugestão já expressa pelo César Oliveira, de que o melhor seria, neste calor, abolir o paletó. Mas não somos vereadores e usar este modelito importado de países onde faz frio é assunto que diz respeito exclusivamente a eles.
O que não diz respeito exclusivamente a eles, mas eles fingem que sim, é a forma como se gasta o dinheiro público. O auxílio-paletó é uma vergonha. Mas seriam até aceitáveis uns cursos de formação para ensinar ao vereador qual é o seu papel e como desempenhá-lo melhor. Acrescido, claro, de algumas aulas sobre finanças públicas, lei de responsabilidade fiscal, oratória e filosofia (mal comparando, poderíamos chamar de auxílio-gogó).
A cidade ganharia homens públicos melhor preparados e não teríamos que ouvir propostas deste quilate. Ou como aquela outra de extinguir a Tribuna Livre por ser mal utilizada, como cogitou Fábio Lucena. Ora, mal utilizada a tribuna é frequentemente pelos próprios vereadores e nem por isso se propõe a extinção do legislativo municipal.
Cursinhos preparatórios permanentes, bem que podem valer a pena (atenção: não valem aqueles congressos turísticos onde vez por outra nossos vereadores se aventuravam alegremente Brasil afora e até nas fronteiras internacionais, quando a coisa acontecia em Foz do Iguaçu).

Bancos

Não falo dos bancos fechados pelo Procon, que sobre isso já há um bocado de notícias e debates acalorados. O que me chamou a atenção foi ver a divulgação pela Secretaria de Comunicação, da colocação de sete bancos na agradável pracinha construída nas imediações do EMEC.
A Secom está aí para informar mesmo o que o governo faz. Mas eu gostaria de ler que a Prefeitura colocou pelo menos 700 bancos pela cidade. A Getúlio Vargas mesmo, lugar onde tanta gente caminha, inclusive pessoas idosas, pode-se dizer que praticamente não possui bancos. Tantas árvores frondosas, com sombras que são um oásis no verão! Porém, não há onde sentar. A ausência de bancos é tamanha que a colocação de sete vira notícia.
Mais bancos e mais latas de lixo, por favor!

Publicado na Tribuna Feirense em 04/03/06

O papa feirense

Não sou e nunca fui católico, mas não custa explicar. João Paulo I (aquele que durou só uns 30 dias, dizem que assassinado por certa máfia infiltrada no Vaticano por ter idéias excessivamente cristãs para um papa), foi o primeiro a adotar o nome João Paulo (não foi à toa que se chamou Primeiro).
O segundo foi o Wojtila, este que ao contrário do primeiro, não era simpático, durou demais e morreu no ano passado - embora nos bastidores o Bento XVI, quando ainda era somente Ratzinger, já fosse considerado há anos como o poderoso chefão.
Sendo assim, nunca antes do SIT tinha existido um papa João Paulo XXIII. O nome João Paulo foi uma homenagem do Papa Sorriso (o João Paulo I), aos seus antecessores imediatos, Paulo VI e João XXIII.
O papa inventado em Feira está lá em uma das placas do Terminal Central, como mostra a foto abaixo.



ENEM

O Jânio Rego já registrou, mas como foi assunto de comentário aqui nesta coluna semana passada e citei especificamente a Direc também, reforço o elogio. Foi louvável a atitude da diretora da Direc, Lindinalva Cedraz, de admitir que eram baixas e preocupantes as notas dos alunos da rede pública no ENEM. Por si, este reconhecimento não resolve nada, mas admitir a doença é o primeiro passo da cura.
Lamento que o diretor do Colégio Modelo L.E.M. tenha demonstrado aqui no jornal tanta satisfação com a nota 47,67 dos alunos, mas digamos que seja uma questão de ponto de vista. Pelo menos também não nega que é preciso melhorar e muito.
Um dos motivos de um ensino tão fraco, a reportagem do Primeira Página, que Valdomiro Silva conduz na Rádio Povo, deixou claro nesta quinta-feira. Entrevistadas alunas de escolas estaduais, relataram como fato corriqueiro a falta de professores por meses, mesmo em disciplinas básicas como matemática e português. Quando sai algum, até chegar o substituto, perde-se pelo menos um bimestre, o que obviamente compromete todo o ano.

Música sob medida

Travou-se acirrado debate no rádio por conta da apreensão de CDs e DVDs piratas no Feiraguai. Como qualquer produto, as cópias ilegais vendem porque encontram comprador. E encontram comprador porque o original é caro demais.
Acontece que a solução já está aí no mundo há alguns anos, só falta se popularizar, coisa que ainda demora um pouco em país pobre como o nosso. É o MP3, que permitiu a troca de arquivos digitais e a compra de música na base da unidade.
Nos EUA, o processo alavancou as vendas de aparelhos tocadores de MP3 (principalmente o I-pod) de tal forma que a mania já se tornou grave ameaça à audiência das rádios. Afinal, cada um leva a sua própria seleção musical com centenas ou milhares de músicas no bolso, sem intervalo comercial e sem locutor tagarela. Eu mesmo dificilmente vou pra rua encarar o SIT sem o meu aparelhinho no ouvido (eu chamo de I-não-pod, devido à sua modesta configuração).
Muito antes de existir o MP3 ou mesmo o CD (que na minha opinião hoje em dia é uma coisa mais ultrapassada do que LP), o consumidor de música sempre se sentiu lesado ao ter que pagar por um disco inteiro quando na verdade queria ouvir apenas uma ou duas músicas. Até porque a maioria das músicas que fazem sucesso são descartáveis.
Com a música vendida na base da unidade, você compra só o que quer, pagando pouco. Esta semana mesmo descobri que uma rede de eletrodomésticos de Manaus vende assim pela internet, cobrando 0,99 centavos ou R$ 1,99 por música. Assim como já o fazem diversas gravadoras. E agora surge uma outra idéia, na verdade nem tão nova, mas que deve “pegar” pois está para ser adotada pela maior livraria virtual do mundo, a Amazon: uma espécie de aluguel de música. O sujeito paga uma assinatura mensal ou anual bem baratinha e vai ter um caminhão de músicas à disposição. Mais uma revolução digital derrubando preços.

Publicado na Tribuna Feirense em 24/02/06

7.3.06

O melhor dos piores

Ontem (16/02) o jornal trouxe matéria com a direção do Colégio Rotary explicando porque os alunos que fizeram o Enem deram à escola a pior média entre as públicas de Feira de Santana.
Mas quem precisa vir a público se explicar nem é tanto a direção desta escola, última colocada e sim a direção da primeira, o “Colégio Modelo” Luís Eduardo Magalhães. Ou explique-se a Direc. Ou a secretária de Educação. Ou o governador Paulo Souto.
Afinal, o mais bem situado entre todos os colégios “modelo” da Bahia não obteve sequer média 5,0. Os colégios modelo estão reprovados. Os outros também. Não há o que comemorar. Só o que lamentar. A média 31,63 do Rotary não é tão pior do que a média do primeiro colocado da rede pública, que obteve míseros 47,67.
Alguém pode dizer que a educação pública é ruim em todo o país. Mas na propaganda do governo do estado, a Bahia melhora, melhora muito, melhora depressa, melhora mais do que o resto do Brasil, que a bem da verdade não melhora nada há muito tempo. Então, se a Bahia avança tanto, mas a educação permanece como está, ainda que sejam verdadeiras as melhorias alardeadas, elas não irão adiante, porque não se sustentam sem educação.
O Colégio Modelo, na concepção anunciada pelo falecido que empresta o nome a estas escolas, teria que ser uma referência, uma excelência, que serviria de inspiração para toda a rede pública. Luís Eduardo não viveu para implantar aquilo que propôs. Não sabemos se com ele seria diferente, mas certamente seus herdeiros não fizeram jus ao ideal. É um ensino como o de toda a rede pública, de péssima qualidade. Um ensino com o qual nem a Bahia nem o Brasil sairão da situação de pobreza em que patinam há tanto tempo.
Não é por outra razão que Salvador sempre se “destacou” entre as capitais brasileiras com os piores índices de desemprego. É gente demais sem instrução, sem qualificação, disputando as mesmas poucas vagas. Enquanto isso, quando um empregador procura alguém com um pouco mais de preparo, simplesmente não encontra ou tem muito trabalho para encontrar.
Benditos sejam os exames de avaliação, tanto de universitários (pelo Provão) quanto de estudantes dos outros níveis de ensino. E pensar que já foram execrados por tantas agremiações de estudantes e políticos do tipo que é contra tudo que não seja feito por eles (entre os inimigos do Provão, por sinal, se contavam os petistas hoje no poder).
Graças a estas avaliações, as reclamações sobre a calamidade do ensino brasileiro, em todos os níveis, ganham dados concretos e inquestionáveis. Que assim como o Provão provocou mudanças no sistema de terceiro grau (obrigando faculdades, principalmente particulares, a investir em melhorias e qualificação de seu quadro docente), os resultados do Enem tragam vergonha principalmente aos governantes e melhorias no sistema público de educação.

Publicado em 17/02/06 na Tribuna Feirense

Morreu? É vagabundo

Feira de Santana vive uma escalada de violência, como se vê desde o final do ano passado. Isso causa não apenas horror, como é apropriado, mas certa excitação nas massas. Sabe-se que as notícias de crime chamam mais atenção e os jornais vendem mais nos dias em que um crime repercute na comunidade.
Excitação para uns, indiferença para outros, que dão de ombros e acham que quem morre assassinado aparentemente por encomenda, como está ocorrendo com freqüência, é “vagabundo”.
Temos essa cultura da violência entranhada, em que matar é normal, aceitável e até desejável. Claro, desde que as mortes permaneçam lá entre os desconhecidos e não atinjam a nós, nossos parentes ou conhecidos. A dor de quem fica, as conseqüências familiares daquela morte, a herança da violência deixada nos que ainda vão crescer, nada disso entra na conta dos que dizem: “Morreu porque era vagabundo!”
E todo que morre assim é vagabundo até provar o contrário, coisa que como morto só poderia fazer se fosse personagem de ficção espírita. Então quem mata um “vagabundo” já começa a se achar no direito de decidir quem é ou não vagabundo, visto que tem a licença e até o incentivo da sociedade para matar.
Policiais, que tem a missão de garantir a segurança e não a “faxina”, freqüentemente matam em “troca de tiros” com o marginal. Marginais sempre de péssima pontaria, pois são invariavelmente os que morrem e nunca os que matam. E se morreu é culpado, ninguém discute.
E a comunidade achando bom, porque é um bandido a menos; e não quer saber se o bandido é bandido mesmo; e não acha que lugar de bandido é na cadeia e sim debaixo de sete palmos. Se for pra cadeia, que seja humilhado, coma comida que nem bicho quer, conviva com ratos, baratas, pulgas e piolhos nas celas.
Infelizmente mesmo nos meios de comunicação, colegas de imprensa apregoam estas como as únicas saídas convenientes para quem é bandido.
Ainda que não seja por humanidade, pelo menos por inteligência, por favor, vamos parar com essa mentalidade! Vamos começar a cobrar das autoridades cadeias decentes, polícia que investiga, que previne, que prende. E sobretudo uma justiça que não solte com muita facilidade o que tem advogado, deixando preso somente o que não tem (mesmo que autor de delitos muito menores).
Matar bandido nunca será a solução. O matador que começa matando bandido, sempre acaba se colocando no papel de juiz, para decidir quem é bandido e quem não é. Bandido passa a ser quem pisou no pé dele, quem olhou pra mulher dele, quem comprou fiado no bar do comerciante que gosta do matador e não pagou, quem colocou som alto no domingo, quem pediu para o matador abaixar o som.
E muita gente inocente vai morrer, para depois ser chamado do lado de cá, longe da periferia violenta, de “vagabundo”. Longe mas não tão longe, pois o matador circula e um dia essa mentalidade de faroeste começa a fazer vítimas por toda parte.

Publicado na Tribuna Feirense em 10/02/06

Viajou na maionese

Deu na Tribuna de ontem. Tentando se passar por assessor de deputado, um cidadão foi preso por falsidade ideológica, visto que possuía carteira falsa de assessor parlamentar e com esta falsa, queria viajar no ônibus intermunicipal sem pagar.
O que me espanta na notícia não é a cara de pau do falsificador. É saber que se fosse assessor parlamentar viajaria de graça. Tadinhos dos deputados, certamente o que ganham na Assembléia não lhes permite custear as despesas de locomoção de seus assessores, que, premidos pela necessidade de servir ao povo, necessitam desta benesse.
Não pense que quem paga é a empresa de ônibus. A empresa não iria ficar no prejuízo, por mais que a consciência cívica lhe sugerisse a gratuidade em nome do bem maior. Os custos desta e de outras benfeitorias estão embutidos nos preços que pagamos.
Quem sabe se a gente aumentar o número de assessores parlamentares poderemos todos também obter algumas vantagens que amenizem o parco ganho de todo mês? Por exemplo, cada deputado poderia contratar 100 mil assessores. Pronto! Ficávamos todos contemplados e poderíamos integrar o clube exclusivo de vantagens da assessoria parlamentar.
Ah!, mas se todos pudessem entrar, não seria exclusivo e se é assim, contraria a nossa alma brasileira. Vantagens e privilégios somente para os de casa e ninguém tem uma casa com 100 mil pessoas. Revogue-se a idéia.
A graça é ser de casa. Como o nosso amigo detido da carteira falsa, que também tem outra importante posição: é genro do “presidente de uma Câmara Municipal da região”.
O homem pode não ser assessor de deputado, como alegou, mas tem “fortes ligações com políticos”, como definiu o texto da matéria. Deve ter mesmo, porque tá aprendendo tudo direitinho. Inclusive apareceu muito sorridente e despreocupado, qual mandatário em campanha pela reeleição.
Esse vai longe. Por enquanto de ônibus. Um dia, quem sabe, de King Air ou pelo menos Sucatão.

PS: Viajou na maionese é uma expressão que simplesmente não faz sentido. Como os nossos deputados.

Publicado na Tribuna Feirense em 03/02/06

UEFS na contramão

Sob determinado ponto de vista, pode-se dizer que a avenida Getúlio Vargas é a principal de Feira de Santana. Admitamos que seja. Que pensaria um visitante que atravessasse esta avenida de ponta a ponta, se ela fosse toda esburacada? Haveria de pensar muito mal de nossa cidade e sobretudo de seus administradores. Felizmente a avenida Getúlio Vargas, como outras importantes vias do centro, está em bom estado e por este motivo não falarão mal da cidade.
Mas pensando em visitantes, que pontos de Feira de Santana são mais freqüentemente vistos por pessoas de fora? Certamente a Universidade Estadual estará entre eles. Para ela acorrem milhares de alunos vindos de outros municípios. Não são poucos os professores que não moram em Feira. E devido à finalidade a que se presta a instituição, é freqüente a presença de visitas rápidas, que eventualmente nem sequer passam pelo restante da cidade e praticamente só ficam conhecendo a UEFS. Estes certamente pensarão muito mal de quem administra aquele pedaço de Feira de Santana.
Não se concebe que tendo uma única via para manter, a administração da universidade não consiga fazê-lo. Justificativas hão de existir muitas, porém nenhuma delas vai convencer o usuário eventual ou costumeiro.
Foi publicada nesta Tribuna em 14/12 declaração de funcionário da administração da UEFS dando conta de que o Derba somente tem recurso para asfaltamento de um dos lados (guarita ao sétimo módulo) e que mesmo assim, nenhuma empresa se habilitou na licitação ocorrida em 24/11, ficando remarcada para a quarta que passou (21/12).
São as chamadas justificativas que não justificam. O usuário não quer saber que trâmites burocráticos impedem a resolução do problema. Ele precisa é do problema resolvido. A incapacidade dos gestores de resolver questão tão evidente, provoca sérias dúvidas sobre a possibilidade de resolverem outros que freqüentemente vêm à tona naquela instituição.
Um problema aliás que já se manifestava em todo seu "esplendor" na gestão da reitora Anaci Paim. E que lhe causaria embaraços numa eventual candidatura a prefeita (já se especulava nos preparativos da eleição de 2000 que Anaci poderia ser a candidata carlista). Como responderia a um adversário ou repórter que questionasse sua capacidade de consertar as crateras de toda a Feira, se não conseguia fazer isso na única rua que estava sob sua jurisdição? Não consta que o atual reitor tenha pretensões políticas. Porém, espera-se que tenha vontade de fazer um mínimo possível e causar impressão melhor. Em matéria de aspecto físico, a universidade está na contramão da cidade.

Publicado na Tribuna Feirense em 23/12/05

O leão, a feiticeira e o guarda-roupa

Ler é muito melhor que ver filme sobre o livro, todo mundo sabe e acabo de constatar mais uma vez, ao assistir o Leão, a feiticeira e o guarda-roupa. A razão, muito simples, é que o livro cada um imagina como quer, enquanto o filme é necessariamente a visão do diretor sobre o livro, que dificilmente vai se conciliar totalmente com a sua e é claro que em geral as expectativas mais delirantes não se cumprem.
Porém, qualquer um que leu, não há de querer perder a oportunidade de assistir a versão cinematográfica de obra que mexe tanto com a imaginação. E com certeza não vai se decepcionar, pois basicamente o filme é uma versão fiel do livro.
A boa notícia mesmo do negócio todo é que ainda no final de outubro, as Crônicas de Nárnia (uma coleção de sete livros cujo segundo volume é a história transposta agora para o cinema) já estava entre os livros mais vendidos no país.
Seu autor, CS Lewis, vale muitíssimo mais a pena ser conhecido do que os prediletos atuais do Brasil e do mundo: Dan Brown (Código da Vinci), JK Rowling (Harry Potter) e Paulo Coelho.
O que precisávamos era de mais traduções de CS Lewis, um dos autores mais populares em língua inglesa, mas muito desconhecido no Brasil. Em matéria de Crônicas de Nárnia estamos bem servidos porque a editora Martins Fontes acaba de relançar na esteira do filme, a coleção completa reunindo os sete livros num só volume. Mas muita coisa boa, que até já se encontrou em português, hoje não se acha mais.
CS Lewis era um intelectual de grosso calibre, professor em Oxford e Cambridge, na Inglaterra, mas também um escritor muitíssimo cheio de imaginação, de texto fácil e atraente.
Acontece que era religioso. Passou de ateu a anglicano, dizem que muito sob a influência do colega professor e escritor Tolkien, de O Senhor dos Anéis. Seus livros de ficção embutem sempre a religião, mas não de uma maneira dogmática e moralista e nem deixam de abrir espaço para dúvidas e questionamentos. Enfim, são realistas como a Bíblia, mas nada parecidos com o grosso da chata e mal escrita literatura evangélica em geral. Daí que o bom e velho Lewis, melhor do que todos os outros autores da área reunidos e multiplicados por dois, não encontra mais espaço nas editoras evangélicas. Nem muito menos nas leigas, pelo que perdemos todos.
As Crônicas de Nárnia, onde o leão Aslam representa Jesus, conseguiram ser uma exceção por duas grandes razões. É um dos maiores clássicos na Inglaterra, um dos mais lidos e influentes livros infanto-juvenis. A própria autora de Harry Potter confessa-se influenciada por ele. O lançamento mundial do filme, semana passada, teve a presença de príncipe Charles e Camila, que só vão ao cinema uma vez por ano (uma honra que para nós pode parecer duvidosa, mas que na Inglaterra é um apoio de peso). A outra razão para ser traduzido e lançado por uma editora nacional importante é que a tradução foi feita pelo já falecido e muito respeitado intelectual Paulo Mendes Campos.
Pena que não tenha traduzido também Cartas do Coisa Ruim (um muito engraçado livro em que um diabo velho escreve ao sobrinho sobre como impedir que um sujeito freqüente a igreja), Perelandra (um homem sai do nosso planeta para tentar fazer com que em outro mundo, a história de Adão e Eva não acabe mal como aqui) e O grande abismo (um ônibus leva os passageiros do inferno para um tour no céu. Só que nem todos na turma concordam que vivem no inferno e nem reconhecem o céu como céu).
Destes, apenas o último livro acho que ainda é encontrável nas livrarias.

Para César Oliveira

Estamos em rota de colisão pelas páginas da Tribuna. Eu advogando mais civilização, que traz consigo mais polidez e tolerância, o que, admito, em ultima instância contribui, se não com a feminilização dos machos, pelo menos com a desmasculinização, que tanto lhe preocupa.
Tens razão porém para te preocupares. Se não me engano, em teu artigo de 15 dias atrás, em meio a tantos sinais de que em breve, ao contrário do que esperava Nietsche, teremos não o Super homem, mas o meio homem, nem chegaste a mencionar um sinal dos tempos que considero dos mais nefastos e reveladores: a raspagem dos pelos do peito. O mais grave é que é praticada pelos fortões, que deveriam priorizar mais os hormônios.
Porém desde que o competente lobby gay conseguiu fazer os músculos serem coisa do reduto, acabou-se o mundo. Falarás, gritarás ao vento, clamarás no deserto e quando muito terás que te contentar em esperar, como eu, que quando teus netos estiverem no mundo, não estejamos já na fase em que as mães dirão aos filhos: "Meu filho, não anda com aquele menino não, que pega mal pra você. Ele é heterossexual!"

Indústria de multas

Se a chamada “indústria de multas de trânsito” fosse mesmo uma indústria capitalista, com dono ou acionistas e executivos, boa parte de seus funcionários perderia o emprego, por falta de produtividade, por desperdiçar oportunidades para faturar.
Porque o que se comete de infração nesta cidade é um espanto. Então, mesmo sem saber quantas multas são aplicadas, sei que está muito aquém do que poderia ser. Eu mesmo vejo a todo momento um guarda liberar um avanço de sinal ou outra infração, porque não conseguiu ou não quis anotar a placa do infrator. Deixou pra lá, como dizemos neste país tão compreensivo.
O caso é que somos tão compreensivos que o cidadão quer pintar o sete no trânsito sem ser multado e ainda se acha no direito de protestar contra uma suposta indústria de multas. A verdade é que o motorista de Feira de Santana ainda não teme a multa. Vá dirigir ali na avenida Paralela em Salvador e você vai ver que (quase) todo mundo vai direitinho nos seus 80 quilômetros, porque sabe que se vacilar, é clic do radar e multa chegando pelo correio (chega pros motoristas feirenses de passagem também). Isso a despeito daquele espação todo, que convida a pesar o pé no acelerador. Vá na América do Norte e passe do limite de velocidade na estrada, pensando que ninguém tá vendo e logo você vai escutar a sirene zoando e piscando no seu retrovisor.
Para grande parte do bicho humano, o que faz com que a regra de convivência em sociedade seja cumprida é o temor da punição. É o mesmo princípio do policiamento ostensivo, que a comunidade cobra tanto para ter mais segurança: o ladrão não vai assaltar vendo o policial ali pertinho.
No trânsito de Feira, a lei da selva ainda tem muitos adeptos. Seta indicando que o sujeito vai dobrar para esquerda ou direita, boa parte dos motoristas parece que não sabe pra que é (será que é um acessório família, pros filhos pequenos brincarem na garagem?). Faixa de pedestre parece mais uma interseção entre os que vão a pé e os motorizados, onde o motorista fica disputando com o pedestre quem vai passar primeiro. Também é muito utilizada por motoqueiros para treinar zig-zag com as pessoas, como se fossem aqueles cones de moto-escola ou exame de habilitação.
Até outro dia, ainda era muito comum, principalmente o morador mais antigo da cidade (talvez achando que antiguidade é vaga), parar em qualquer dia e qualquer hora em fila dupla no centro, fechar o carro e ir ao comércio. Hoje em dia é mais comum a tática do carona que fica no carro pra qualquer emergência de convencer o guarda ou até retirar o veículo se não tiver jeito.
As nossas autoridades de transporte têm muito o que fazer e que melhorar no trânsito. Devem ser cobradas por muita coisa, como o péssimo sistema de transporte coletivo ou as sinaleiras que usam a tática exclusiva da onda vermelha (você pára de sinaleira em sinaleira). Mas o pecado de um suposto excesso de multas, elas não têm.
Que venham os radares, que nos farão avançar em civilização. Civilização é isso. É controlar nossos instintos primitivos, um dos quais é o cada um por si ou no máximo cada um pelo seu grupinho e dane-se o interesse coletivo que isso é algo muito abstrato que a gente passa por cima sem nem ver!

Publicado na Tribuna Feirense em 09/12/05

Feira de Santana X Campina Grande

Em Feira de Santana é comum a comparação da cidade com Campina Grande (PB), município que como o nosso também fica no interior e tem uma grande vitalidade econômica (embora a cidade paraibana tenha população bem menor: 376.132, estimados para julho de 2005, contra 527.625 de Feira no mesmo período, de acordo com o IBGE).
Os dois municípios são pólos de desenvolvimento situados fora das regiões metropolitanas das capitais e por isso são destacados no Nordeste pelo IBGE, em seu recém lançado estudo sobre o PIB dos municípios brasileiros:
“Na Região Nordeste, os cinco municípios que se destacaram no valor adicionado da indústria em relação ao País e que estão fora dos centros urbanos são: Canindé de São Francisco (Sergipe) (0,25%), Catu (Bahia) (0,16%), Ilheús (Bahia) (0,14%), Campina Grande (Paraíba) (0,14%) e Feira de Santana (Bahia) (0,11%)”.
Leia o que diz o Instituto no resumo das características econômicas de Feira e Campina e perceba que as semelhanças são realmente muitas:

FEIRA DE SANTANA
O Município de Feira de Santana é integrante do “Polígono das Secas”, sendo o segundo maior do estado em termos populacionais. Sua localização geoeconômica o coloca como um dos maiores entroncamentos rodoviários do interior do país, cortado por três rodovias federais e quatro rodovias estaduais, funcionando, desse modo, como fronteira com o Recôncavo Baiano e como entreposto que liga o Nordeste ao Centro-sul do País, o sertão à capital e aos tabuleiros do semi-árido da Bahia. Tal situação reflete na sua economia, tornando o setor de comércio (segundo maior do estado) o de maior importância econômica. Possui também um parque industrial de peso nos ramos da química, material elétrico e de transportes, alimentos, eletrodomésticos, calçados, vestuários e metalurgia.

CAMPINA GRANDE
Campina Grande (Paraíba), segundo maior município do estado, tornou-se um importante centro de comércio, serviços e alojamentos do estado. Neste ano (2003) o setor industrial apresentou um bom desempenho, principalmente nos seguintes gêneros: minerais não metálicos, produtos alimentares, químicos, vestuário, calçados e artefatos de couro. Além disto, tem duas grandes universidades, uma federal e uma estadual.

“E daí?”, dirá o leitor. E daí que apesar das semelhanças, estamos ficando para trás. A renda per capita em Feira não somente é menor como a defasagem aumentou em relação a Campina Grande nos últimos quatro anos. Veja no gráfico abaixo que a curva de crescimento da renda das duas cidades se distanciou de 2000 a 2003, último ano disponível para comparação.



Feira cresceu, mas Campina Grande cresceu mais. Parte da explicação certamente está no tipo de aposta que cada cidade vem fazendo para o futuro. Campina Grande, com seus centros universitários formando cérebros, aposta na indústria do conhecimento. Pode-se ver isso pela própria análise do IBGE, quando detalha mais um pouco que tipo de produção se destaca em cada cidade: “Em Campina Grande existem empresas produtoras de software voltadas para o mercado externo e em Feira de Santana existe um parque industrial de peso nos ramos da indústria de transformação”.
Parece que Campina Grande fez a opção certa ao apostar na tecnologia, que vem ajudando a desenvolver ou manter em crescimento países tão distintos quanto Irlanda, Coréia do Sul, Finlândia e Índia. Aqui mesmo na Bahia, Ilhéus consegue com o pólo de informática, tirar o pé do cacau, que ia de mal a pior, levando a cidade junto com o chocolate amargo.
Feira deve seguir o mesmo caminho? Não tenho base para julgar. A cidade (seus dirigentes) tem uma alternativa pensada ou está ao sabor do vento? Desconhecemos, mas seria bom saber.

Publicado na Tribuna Feirense em 02/12/05

SIT é só primeiro passo

Temo que inadvertidamente meu comentário de sexta-feira passada tenha causado a impressão de que me oponho ao SIT. De maneira alguma. O novo sistema é um passo na direção de melhorar o serviço de transporte coletivo na cidade. O problema é que o serviço é muito ruim e apenas bons projetos não irão resolver o problema. Podem ser um paliativo, mas não a solução.
O problema básico é que falta ônibus. Não se admite um bairro populoso como o Jardim Cruzeiro ter ônibus saindo do terminal central somente de meia em meia hora. Não se admite esperar este tempo, penso eu, para canto nenhum, pelo menos não em um dia útil.
A proposta do SIT, de convergirem as linhas para estações de transbordo, de onde se pega outro transporte, sem pagar, é boa, sem dúvida. Racionaliza as linhas (não só para o passageiro mas também para as empresas, é bom observar) e traz economia para parte dos usuários (nem todos se beneficiaram da novidade: alguns vão para o transbordo porque é o jeito, com as mudanças de roteiro introduzidas).
Só que esta passagem pela estação não pode implicar em um grande aumento do tempo da viagem, como está ocorrendo a moradores de vários bairros da cidade. A vantagem de pagar apenas uma passagem mesmo pegando dois ônibus não é suficiente para contentar o passageiro. Transporte não serve apenas para chegar, mas para chegar na hora. Não tem economia que compense os inconvenientes de perder a hora. Se a questão fosse apenas de economia e não de pontualidade, muita gente andaria a pé ou de bicicleta.
Como dizia, o SIT é bem pensado, mas não funciona a contento se não houver ônibus em quantidade suficiente. Transporte coletivo é para ser feito em ônibus e pronto (ou trem ou metrô, quando possível). Van, Kombi, mototáxi, táxi-lotação, são todas alternativas que a necessidade do mercado faz surgir e a falta de emprego formal decente faz crescer. São todas alternativas que não satisfazem da melhor forma a necessidade do usuário de transporte, apenas remediam aquilo que seria pior se não existissem esses improvisos.
Portanto, mais ônibus são necessários. Para quem está dentro é uma questão de segurança e conforto (apesar do desconforto dos nossos coletivos; mas isso é assunto pra outro dia). Para quem está fora, de carro particular, mais gente de ônibus representaria menos vans e menos motos superlotando as ruas e gerando engarrafamento. E para a natureza – e portanto para todos – menos gás carbônico no ar, pela diminuição do número de veículos em circulação (apesar da poluição emitida pelos nossos coletivos; mas isso é assunto pra outro dia).

Publicado na Tribuna Feirense em 25/11/05

6.3.06

Sente e espere

Quando ouvi falar em SIT, antes do sistema começar a funcionar, apressadamente concluí que algum criativo bolara a sigla para que soasse como city, que é a palavra para cidade lá na nossa matriz, os Estados Unidos.
Depois que começou a funcionar, me dei conta da literalidade do SIT, que é sentar, em inglês. Na verdade, SIT é só começo do nome, que completo deve se chamar SIT AND WAIT, ou SENTE E ESPERE. Mas aí é que está a ironia (ou a perversidade) do negócio. Sentar como, se quase a totalidade dos pontos e mesmo os terminais, são desprovidos de assentos para tanta gente que precisa de sit?
Escrevo este texto na Getúlio Vargas, sentado, porque saí depois da hora do rush e fui o segundo num destes raros pontos que têm banco. Já espero há 12 minutos por um ônibus que me leve ao terminal central. Enquanto isso, passaram por mim três vans superlotadas. A única que se deu ao trabalho de parar, compactou mais dois passageiros no bagageiro e partiu (bagageiro sim, porque somente objetos e não pessoas andam desse jeito).
17 minutos de espera. Quem não quer esperar, pega um motoboy, o único transporte eficaz na cidade, em termos de horário. É incontável o número dos que passaram por mim nesses minutos de espera pelo ônibus vermelho. De moto é mais caro, é perigoso, mas chega logo. Por isso não faltam passageiros para motoboys legalizados e informais. Por isso eles andam com um celular e quando deixam um passageiro já têm um cliente cativo esperando.
Eu, 22 minutos esperando. Ouço um colega de espera comentar que veio de outro lugar onde esperou em vão por mais de 40 minutos.
25 minutos. Passa a quarta van superlotada, a terceira que não pára. 16 pessoas se acumulam no ponto, quase todas em pé, que os bancos não foram projetados para tanto tempo de espera. Teriam que ter muitos metros de comprimento. Chega o ônibus. Descubro que sou um sortudo por ter esperado menos de meia hora, pois um senhor morador das imediações informa que o ônibus anterior (e de outra linha), passou há 45 minutos.
20 minutos depois estou no terminal central. Hora de esperar em pé. Talvez seja uma medida igualitária. Como é muita gente para esperar, não haveria bancos para todos, então que fiquem todos em pé.
Dessa vez espero só cinco minutos. Mais alguns minutos e estou no meu destino, uma hora depois de chegar ao ponto. Se viesse de motoboy gastaria uns 15 minutos.
Certo que o transporte é coletivo e não está aí para atender minha conveniência. Mas tem que atender a de todos na medida do possível. Com esse tempo de espera, não atende a de ninguém. Talvez atenda às empresas, já que não se importam de perder tantos passageiros para as ágeis motos.

publicado na Tribuna Feirense em 18/11/05

Engodo caro

Centenas de milhões de reais jogados fora. É a conseqüência mais concreta do referendo sobre a venda de armas e munição, que ocorre neste domingo. O dinheiro jogado fora é o custo de R$ 270 milhões da votação, de acordo com o TSE.
Bons argumentos existem dos dois lados, tanto do SIM quanto do NÃO. Pessoalmente sou a favor da proibição. Mas acontece que proibir a venda de armas e munição como está proposto, não vai alterar nada.
É apenas a tentativa de fazer uma lei nova e diferente sobre o mesmo assunto, para ver se dessa vez pega, quando tentativas passadas fracassaram. Pois andar armado já é proibido. Ninguém, salvo poucas exceções, pode sair pela rua carregando revólver. Andar armado sem autorização é crime inafiançável. Por acaso você já viu alguém ir para a cadeia por isso? As exigências para tirar porte de arma são muitas mas a gente sabe que a rua está cheia de valentões confiantes no revólver que carregam para cima e para baixo.
Os contrários ao desarmamento argumentam que o governo não vai desarmar os bandidos. Bem, a proposta não é mesmo desarmar bandidos diretamente e sim tirar de circulação armas que não só acabam caindo nas mãos de bandidos como também matam quando seus donos, mesmo sem intenções premeditadas e antecedentes criminais, praticam crimes num momento de fúria. Se essas armas da “gente de bem” deixassem de existir, seria um reforço para a paz.
Porém, a lei dará direito a quem já tem armas, mantê-las. Assim como a quem mora longe, isolado na zona rural de adquiri-las. Assim como a quem estiver sofrendo ameaças. Ora, são tantas as concessões que tornam a eventual “proibição” inútil e o referendo uma perda de tempo e dinheiro.
Votar no SIM e acreditar que vai dar resultado em termos de redução das mortes por armas de fogo, é uma questão de fé. Não admira que igrejas e lideranças religiosas em geral estão engajadas deste lado da campanha (recebi até um folheto na rua avisando: “Quem crê em Cristo, vota 2”).

Pouca chuva, nenhuma informação

Fiz uma busca na internet para descobrir a pluviosidade no semi-árido. Claro que na internet é preciso tomar cuidado pois proliferam informações pouco confiáveis.
Quando se trata de encontrar informação consistente em português, há dificuldade. Às vezes assuntos sérios em português somente são encontráveis em sites de Portugal.
No Brasil é mais complicado. De qualquer modo, não esperava ver tanta desinformação sobre um dado relativamente simples como a pluviosidade.
Mas foi o que aconteceu. Limitando-me apenas à primeira página de respostas do mecanismo de busca, achei sete pluviosidades diferentes. De oito sites, apenas duas tinham informação coincidente. Um festival de falta de informação segura.
Um site (de um certo Projeto Cactáceas Brasileiras) diz que a pluviosidade mínima já registrada no Nordeste do Brasil foi de 278 milímetros em um ano. O outro, do Ministério da Integração Regional dá a entender que é comum chover ainda menos: a pluviosidade varia, diz a página do governo, de 250 a 800 milímetros. Já o pessoal do Fome Zero (um site da sociedade civil, de apoio ao programa governamental), fala em média de 700.
E por aí vai. Entre fontes desconhecidas e outras aparentemente confiáveis, o resultado é que se desconfia de todas e constata-se o quanto o nosso Nordeste é tão pouco estudado e conhecido.
Difícil é crer que se não se conseguiu ainda nem determinar com segurança quanto chove por aqui, os sábios da transposição sabem mesmo o que estão fazendo quando se propõem a desviar água do São Francisco para resolver o problema da seca.

Feira do céu

  Posted by Picasa
Essa é a imagem de Feira de Santana fotografada por satélite, disponível no Google Earth, programa que faz furor na internet, mostrando detalhes do mundo afora.
No caso de Feira, as imagens não são detalhadas (alias as de Salvador também não). Mas para sei lá quantas (creio que milhares) de cidades o nível de detalhamento é tão grande que já deu até encrenca com alguns governos, assustados com a facilidade para espiões e terroristas localizarem seus alvos (até imagens de pessoas na rua dá pra ver).
De fato, é informação que até pouco tempo só quem tinha na vida real era agente secreto (e na ficção os filmes hollywoodianos). Agora de vez em quando aparece nos gráficos de tv imagem chupada do Google Earth.
Claro, facilita absurdamente para aprender Geografia, e os professores mais espertos já estão usando mesmo, porque para os alunos vira uma brincadeira “segurar o mundo nas mãos” e descobrir coisas.
Não precisa ficar na internet para usar. Apenas baixa-se o programa e instala-se no computador. Vai lá em earth.google.com e do lado direito da tela clica em Get Google Earth. São pouco mais de 11 megas de download.

Quem está com a razão?

A transposição do Rio São Francisco, para o bem ou para o mal, vai afetar na prática a vida de mais gente do que o desarmamento (ou a falta dele). Falar assim pode parecer exagero, porque o referendo é uma questão nacional, enquanto o São Francisco é um assunto regional.
Mas enquanto sofrer um assalto é algo que está no campo da hipótese, mais ou menos provável dependendo de onde se mora, a escassez de água é um drama quase cotidiano na vida de milhões no interior nordestino.
Por isso, mais do que o desarmamento, que é questão de fé, importa saber o que é melhor para o rio. Não seria mal um referendo nordestino sobre o assunto. Mas independente disso, é preciso saber do que se trata afinal.
Para tomar uma posição, nada melhor do que ouvir os dois lados.
Veja o que dizem os sites do governo e de opositores.

GOVERNO:
“O Velho Chico vai continuar no mesmo curso que sempre teve. Só uma pequena parte do seu volume – ou seja, apenas 1% da água que ele joga no mar – vai ser captada para garantir o consumo humano e animal na região do semi-árido nordestino, onde vivem 12 milhões de pessoas. Não haverá nenhum problema ambiental para o São Francisco ou para qualquer atividade econômica que hoje se desenvolve ao longo de seus 2.700 km de extensão.”

OPOSITORES:
“O impacto nocivo ao meio ambiente, ao invés de transformar o sertão em mar, como propaga o governo federal, poderá nos deixar um grande deserto, com milhares de quilômetros de canais de cimento espalhados pela caatinga e a população necessitada sem uma gota sequer de água.”

Isso é apenas uma amostra de quanta divergência há. Por isso, é melhor pesquisar mais e ir direto na fonte. Especialmente se você é vestibulando, pois a transposição é matéria obrigatória de Vestibular, possível tema de redação.
Veja dois dos principais sites sobre o assunto:

PRÓ: Ministério da Integração Nacional
www.integracao.gov.br/saofrancisco

CONTRA: Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco
www.cbhsaofrancisco.org.br

APAEB Valente ganha prêmio latino-americano

A APAEB Valente conquistou mais uma premiação internacional, por seu trabalho de desenvolvimento sustentável na região sisaleira. Desta vez o reconhecimento veio da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), órgão que faz parte da estrutura da ONU, e que promoveu o concurso Experiências em inovação social na América Latina e Caribe.
A APAEB recebeu da organização um comunicado informando que está entre os 20 finalistas, que participam dias 10 e 11 de novembro em Santiago, Chile, da Feira da Inovação Social, onde vão expor seus projetos, que serão a partir de agora divulgados em toda a região.
Ainda em Santiago, haverá apresentação dos projetos e um comitê de notáveis irá escolher os cinco primeiros colocados entre os 20 finalistas. Os demais receberão uma menção honrosa.
“Nós já nos consideramos vencedores, por estarmos entre os finalistas. É um estímulo especialmente no momento de crise que a APAEB tem enfrentado durante todo o ano, com dificuldades financeiras provocadas pela diminuição de receita por causa da queda do dólar”, afirma o presidente da instituição, Misael Lopes da Cunha. Atualmente, cerca de metade da produção da fábrica de tapetes e carpetes de sisal destina-se ao mercado externo.
Para chegar a este fase da premiação, a APAEB teve que passar por várias etapas de seleção. 1600 projetos de todo o continente se inscreveram, sendo 338 somente do Brasil. Os projetos enviaram informações à organização e os 45 considerados mais inovadores foram visitados e avaliados por consultores externos. O concurso é promovido em conjunto pela Cepal e a norte-americana Fundação Kellog, que apóia projetos sociais ao redor do mundo.

RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

A APAEB Valente recebeu em janeiro de 2004, em solenidade ocorrida na Índia, o Prêmio Japão para projeto mais inovador de desenvolvimento: oferecido pela organização não governamental GDN (Rede Global de Desenvolvimento) com o apoio do governo do Japão. A APAEB ficou entre as três finalistas da premiação em todo o mundo.
Em 2001, seu diretor executivo, Ismael Ferreira, já havia sido reconhecido pela Fundação Schwab, da Suíça, entre os 40 principais empreendedores sociais do mundo. Por conta deste reconhecimento, Ismael esteve em três edições anuais do Fórum Econômico Mundial, em Davos, representando os empreendedores sociais do Brasil.

A fome contra Lula

A fome já foi cabo eleitoral do presidente Lula, que fez do programa Fome Zero um dos principais cavalos de batalha de sua eleição. Agora ela se volta contra ele, por causa do bispo de Barra em greve de fome.

Na época da posse, Lula dizia que sua meta era que todo brasileiro comesse pelo menos três vezes por dia, no café, no almoço e no jantar. Agora, mais preocupado em manter a popularidade que lhe resta, ele certamente se contentaria que o bispo Luiz Flávio Cappio fizesse refeições.

Afinal, ninguém sabe quantos nem quem está passando fome Brasil afora. Andaram até dizendo que a obesidade é um problema maior do que a fome, mesmo entre os pobres. Mas a fome do bispo é notícia nacional, logo logo vira mundial.

A fome do bispo incomoda tanto que Lula já se saiu muito mal ao comentá-la (não precisa dizer que foi em discurso, porque entrevista o presidente só dá quando está fora do Brasil, respirando ares mais democráticos – ou republicanos, como os petistas gostam de dizer e dizem com propriedade, pois depois de meses esbravejando nos palanques ele deu entrevistas, apressadas, acossadas, nos corredores, mas deu, enquanto estava na reunião da ONU em Nova York, cidade símbolo do país do republicano Bush).

Mas, como dizia, Lula reclamou que se cada vez que o governo propusesse qualquer coisa e alguém que fosse contrário entrasse em greve de fome, ficaria complicado.

Uma fala que transmite a impressão de que o presidente considera o ato extremo do religioso quase sexagenário uma birra, uma implicância, uma atitude inconseqüente e uma banalidade, que pode ser praticada por qualquer um.

Pior ainda foi o arremate da fala presidencial: “Mas eu tenho paciência de Jó”. Como se ele estivesse sofrendo e sendo testado mais do que o homem que assume um sacrifício pessoal e coloca em risco a própria vida, em nome de uma causa que considera vital para o próximo.

Como para político voto é a única coisa vital, o presidente deveria tomar mais cuidado com o que fala, ainda mais quando envolve a Bahia, estado que em seguidas eleições tem lhe confiado votações maciças, proporcionalmente as maiores entre todos os estados do Brasil.

Assim evitaria que a Bahia também se voltasse contra ele, como a fome se voltou.

Ele voltará

Severino foi. Podia não voltar, se os comparsas, digo, colegas, não tivessem adiado a abertura de processo contra ele. Mas como deixaram essa brecha pra ele voltar, não perdeu os direitos políticos e volta sem falta. Só não volta se não quiser.

Como eu sei? Ora, todos voltam. “O povo de Pernambuco não me faltará”, disse ele. Aqui na Bahia já temos essa experiência. Até a frase de ACM foi a mesma, quando renunciou para não ser cassado pela fraude no painel eletrônico de votação no Senado. Voltou e se multiplicou, fabricando o Neto, na eleição seguinte. Outro renuncista que se foi junto com ACM foi Jader Barbalho. Voltou também.

E enfim, com ou sem renúncia, eles voltam, porque o povo nunca lhes falta. Nunca falta povo para elegê-los, porque sabem reproduzi-lo em grande quantidade nestes bolsões de pobreza pelo Brasil afora, lugares onde cada mãe fabrica cinco, seis, sete filhos, prontos para elegerem estes Severinos em troca de um favorzinho qualquer, 10 reais ou a promessa de um emprego.

É um povo que não escreve nem lê e que não acha Severino “uma vergonha para o Brasil”, como diz o Gabeira. É um povo que não tem água pra beber, como é que vai ter discernimento para julgar Severino?

Até porque, segundo o próprio, não há provas. E olhaí a coincidência de frases novamente. “Não há provas” é o mesmo que diz o José Dirceu e outras encalacrados nesse lamaçal.

Desse jeito, acabam não punindo ninguém com exceção de Roberto Jefferson, e de tanta “falta de prova”, abrem caminho para outro retorno na eleição de 2006: o retorno do presidente Lula, aquele que governou o Brasil até meados de 2005.

Publicado na Tribuna Feirense em 23/09/05

Dom Rian

Nem Dom Juan nem Dom Vian.

Dom Itamar Rian foi o nome com o qual o site Último Segundo, do IG, rebatizou o arcebispo de Feira de Santana, até então conhecido como Dom Itamar Vian.

No sábado, início da noite, saiu a notícia (atribuída à Agência Brasil) sobre o bispo de Barra, frei Luiz Cappio, em greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco. O frei recebeu naquele dia a visita do arcebispo feirense, que rezou missa.

A troca de nome ilustra bem uma dificuldade que só tem a imprensa local, de cidades pequenas ou até médias, mas que não chegam a ser metrópoles. Quando esta imprensa local erra um nome, os críticos caem matando, porque todo mundo conhece o personagem. Ocorre que a chamada grande imprensa, a dos grandes centros, faz isso o tempo todo. Só que numa metrópole, ninguém fica sabendo e o(s) erro(s) passa(m) despercebido(s).

No caso da notícia publicada no Último Segundo, não sabemos a quem atribuir a imprecisão. O redator recebeu informações de um assessor do religioso (pode-se supor que o assessor não teria soletrado direitinho o nome do arcebispo). Mas não se sabe assessor de quem, pois aí o site comete outra imprecisão, que explico reproduzindo o trecho da matéria:

Dom Luiz co-celebrou hoje uma missa ao lado do arcebispo de Feira de Santana, Dom Itamar Rian, que foi visitá-lo a pedido do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Dom Geraldo Majella. Segundo o porta-voz do religioso, como a capela é pequena, a missa teve que ser campal devido à quantidade de pessoas que se aglomeravam no local.

Em tempo: o porta voz é de qual dos três religiosos citados?

Devolve o dinheiro!!!!!!!

Ainda não cheguei aos 40 anos. Portanto, antes de eu entender qualquer coisa sobre política, antes de ser capaz de falar corretamente uma palavra comprida como governador, antes de saber ler e se não me engano antes de ter visto uma televisão pela primeira vez, o Paulo Maluf já era denunciado por corrupção. Eu não soube na época, mas depois fiquei sabendo que, em 1970, como prefeito de São Paulo, ele andou enrolado com uma história de doação de fuscas aos jogadores do Brasil tricampeões no México (Fusca naquele tempo era carro).

Tanto tempo e muitos escândalos depois, o homem descobriu o desgosto de passar uns dias numa cela, ainda que seja luxuosa, comparada aos criminosos que por muito menos vivem anos em presídios com privações quase indescritíveis.

Pois bem, eu não sinto nenhum prazer, nenhum sentimento de vingança por ver o Maluf na cadeia. Ficaria mais feliz se visse, por exemplo, os repórteres pararem de chamá-lo de “doutor Paulo” (conformemo-nos, chamam até delegado de doutor, imagina se não vão chamar assim um político milionário).

Definitivamente, não me importa o Maluf preso nem solto. Mas seria preciso vê-lo pobre. Sim, devolvendo tudo que desviou. Claro, teria que devolver com correção, porque somente o rendimento da aplicação de tantos milhões já o faria rico. Não precisava nem ser condenado a prestação de serviços à comunidade.

Mas não, ficamos aqui ainda neste estágio pré-civilizatório da nação brasileira, comemorando a ensaiada imagem da prisão de um figurão, onde encenam o próprio, a Polícia Federal, os advogados. Tudo só para dias depois vê-lo sair da cadeia.

E antes dele já saiu o Nicolau dos Santos Neto (vulgo juiz Lalau) para a prisão domiciliar. E saiu o Sergio Naya, agora absolvido. E a lista não terminaria nunca.

Mesmo condenado, como se sabe, o réu não vai para a cadeia, porque é primário, porque tem mais de 70 anos, porque tem as costas quentes, porque o ministro da Justiça não quer, porque o Lula não deixa, porque apoiou a Marta, porque ...

Por isso, o caminho é confiscar os bens, tal e qual se faz com os traficantes.

O quê? O dinheiro indo para o erário será desviado pelos valérios, delúbios e dirceus? Certo, mas impedir isso já é uma outra história, um outro estágio de evolução que precisamos alcançar. Porém igualmente ligado à necessidade de melhorar a eficiência do Judiciário.

Publicado na Tribuna Feirense em 14/09/05

Um absurdo a menos

Seja porque se implanta uma reformulação de grande porte no transporte coletivo ou porque alguém enxergou um palmo adiante do nariz, foram tomadas providências em relação a uma das mais patéticas e injustificadas características urbanas do centro de Feira: os cruzamentos em que o veículo tinha que atravessar um autêntico abismo para galgar o outro lado.

O absurdo já vinha sendo há muito consertado em trechos diversos, mas a obra no cruzamento das avenidas Sampaio e Senhor dos Passos é a prova mais evidente da gravidade do problema. O desnível era tão grande que requereu uma intervenção em uma área considerável, uma boa quantidade de material e a interdição do trecho por vários dias.

São ações que esperaram por muito tempo para serem executadas. Pequenas, mas necessárias, para que a cidade se torne mais amigável para seus moradores e visitantes.

A esperança é que o surto de bom senso alcance a regulagem dos sinais, que tumultuam o trânsito do centro, fechando em seqüência, e obrigando o motorista a parar com uma freqüência irritante. Este é o principal motivo para que o tráfego seja lento como não poderia ser, numa cidade de médio porte como a nossa.

Publicado na Tribuna Feirense em 07/09/05

Manifesto contra a razão

Vou lançar um manifesto contra tudo isso que está aí.
Contra o que foi e contra o que será.
Temos que encher as ruas com manifestações. Vamos primeiro protestar. Depois procurar um sentido.
Sugiro abaixo algumas causas, sem prejuízo das demais que os leitores quiserem acrescentar.
Nossa luta será pela paz, a favor da Bomba.
Contra a poluição e a favor do gás carbônico.
A favor da água e contra o hidrogênio.
Contra Deus e a favor da fé.
Por um mundo mais colorido, todo em tons de cinza.
A favor do silêncio e dos trios elétricos.
Em defesa dos judeus e do holocausto.
Pela união da água com o óleoe dos cães com os gatos.
Contra a dengue e a favor do Aedes Aegypti.
Pró russos e chechenos.
Em defesa do mosquito e do Baygon.
Contra a corrupção e a favor de Lula.

Publicado na Tribuna Feirense em 01/09/05

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