Um ano depois da invasão da fazenda Cruzeiro do Mocó, na zona rural de Feira de Santana, nem os Sem Terra conseguiram a posse nem a EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) recuperou o controle sobre a área, que é destinada a pesquisas.
As famílias acampadas sobrevivem de cestas básicas enviadas pela Conab e plantam culturas de subsistência, como feijão e milho, enquanto esperam o resultado de negociações com o governo do estado.
A direção do MST diz que há 100 famílias instaladas, mas admite que muitos não ficam permanentemente no local, alternando entre a fazenda e “bicos” na cidade. A propriedade fica apenas 9 quilômetros distante do Contorno, avenida que circunda Feira de Santana. De lá é possível ver os prédios do aglomerado urbano.
O coordenador regional do MST, Weldes Queiroz, informa que a pretensão do Movimento é conseguir a posse de toda a área, calculada por ele em mil hectares. “Para os padrões locais, é considerada um latifúndio, já que os pequenos agricultores em Feira costumam ter entre 2 e 3 hectares”, compara.
Uma vez desapropriada, a fazenda passaria ao controle do MST, porém mantendo a finalidade de pesquisa, sendo utilizada para o desenvolvimento de tecnologia adequada aos pequenos produtores que vivem no semi-árido.
Procuramos a presidência da EBDA, que, através da assessoria de imprensa, prometeu, mas não entrou em contato para informar sobre o andamento das negociações.
Verdival Almeida, que saiu há pouco da chefia da estação experimental, diz que os trabalhos de pesquisa continuam a ser feitos normalmente com gado guzerá, cabras de leite e jumento. “Apenas alguns leilões de animais deixaram de acontecer durante o ano”, detalha.
Como o acampamento iniciado em 16 de maio de 2009 ocupou apenas um lado da fazenda, o pessoal da EBDA segue a rotina de trabalho no escritório e demais instalações da propriedade. Já os Sem Terra sobrevivem dentro de barracas feitas de pedaços de madeira e cobertas com plástico.
Os recursos são escassos, mas as culturas de amendoim, melancia, abóbora, feijão e milho ajudam na sobrevivência. Cada família cuida de seu lote. Durante a semana que antecedeu o aniversário de um ano da invasão, o grupo preparou o plantio de uma horta comunitária.
Satisfeita em voltar para o campo, Célia Bastos, 57 anos, se antecipa à pergunta e vai dizendo: “Eu tô muito feliz”. Enquanto capina, ela conta que cresceu na roça em sua cidade natal (Brejões). Já como adulta e mãe de família, mudou-se para a cidade, onde criou os seis filhos. “Mas continuava sempre com saudade da roça”, suspira. Deixou a casa no bairro Alto do Papagaio, em Feira de Santana, e aguarda ansiosa o recebimento de um lote definitivo.
O próprio coordenador do acampamento, Carlos Machado, tem história parecida. Saiu do campo quando ficou órfão de pai e mãe e precisou assumir a criação de uma irmã e uma sobrinha. Na cidade, trabalhou em diversas áreas, sempre informalmente, sem assinatura na carteira. Com o avanço da idade viu crescer a dificuldade para encontrar emprego e resolveu aderir ao movimento. Atualmente alterna a residência entre a fazenda e a casa na cidade.
Luciano Alves, que tem mulher e um filho de 11 meses, acaba de encerrar uma temporada em Ilhéus, no sul do estado, como entregador. Voltou para Feira e foi em busca de um lote na invasão, onde diz ter sido um dos primeiros, em maio do ano passado. “Eu já conheço o pessoal e acabei de receber uma área para começar a plantar milho e feijão”, anima-se, vendo a terra molhada pela chuva que caiu durante o dia.
Os acampados confirmam que novas famílias estão sempre chegando. “Neste final de semana chegaram cinco”, contabiliza o coordenador Machado.
“São mais de 400 famílias cadastradas na região, por isso vamos buscar também a desapropriação de outras áreas para atendê-las”, avisa o coordenador regional do MST, Weldes.
Nas fotos de Reginaldo Pereira, o preparo da roça após a chuva de sexta-feira, o galinheiro e melancias produzidas na Fazenda Mocó
Posted via email from Glauco Wanderley