19.2.10

Se visse Alex você não diria que ele é capaz de matar o filho e estripar a mulher


A faca do crime (fotos:Reginaldo Pereira)

Não consegui esconder a surpresa ao entrar na sala. Só havia uma equipe de TV, facilmente identificável. Então a quarta pessoa só podia ser “o monstro”, como o chama agora o pai da moça estripada.

Um guri.

Novo, baixinho e franzino.

De costas para ele perguntei ao motorista da TV, arregaçando as sobrancelhas: - É esse o cara?


O "monstro" perdera a fala. Suas respostas eram baixas demais, inaudíveis. A repórter reclamou depois: - Teve coragem pra fazer o que fez e não tem pra falar.

O que Alex da Cruz Martins fez foi matar a mulher com quem vivia há menos de um ano, da mesma idade, 19, com facadas. Provavelmente com o mesmo corte que fez em sua barriga atingiu o filho – o próprio filho – já com oito meses, que ela carregava. O feto caiu para fora. A mãe ficou no chão gritando por socorro e Alex foi alcançado pelos vizinhos e espancado. Não morreu porque a polícia chegou a tempo de impedir o linchamento. A ambulância também ainda encontrou a mulher viva, mas quase sem chances de sobreviver. O golpe que arrancou e matou o bebê tirou também vísceras da mãe, de acordo com o policial Antônio Sampaio, que fez o levantamento cadavérico. Pouco depois de partir para o hospital, a ambulância retornou trazendo o corpo.

INDÍCIOS

Quando Joseane Azevedo dos Santos estava grávida de três meses, teve uma briga com Alex da Cruz Martins. Ele descarregou a raiva na cômoda comprada no dia anterior para guardar as roupinhas do bebê que nasceria em março.

A mãe de Joseane, Maria Helena de Azevedo, lembra que a fúria de Alex ao destruir o objeto que serviria para o bebê deixou a família dela assustada. Em outra ocasião, o pai de Joseane, José dos Santos, 55 anos, confessa que chegou a providenciar um revólver para tirar satisfação depois que a filha se queixou de ter apanhado do homem com quem vivia há cerca de um ano, mas não casada oficialmente. “Mas ele se desculpou”, diz José chorando e lamentando a segunda chance que deu.

Alex diz que não lembra do momento exato do crime, ocorrido por volta de meio dia da Quarta Feira de Cinzas. Não lembra nem de quando deu as facadas, cometendo o duplo homicídio, nem de quando quase foi morto espancado pelas pessoas que presenciaram a briga e o assassinato. Conta que bebeu quatro doses de cachaça em um bar, enquanto esperava a chegada da carne que tinha saído para comprar. Calcula que demorou cerca de meia hora e diz que ao voltar para casa encontrou a mulher na cama “se pegando” com um homem que para ele é desconhecido e que fugiu.

O pai da vítima duvida que isto seja verdade. “Como pode ser, se a menina não ia para lugar nenhum sem ele?”, questiona José. A mãe afirma que a garota teve somente um namorado antes de Alex. “Há muito tempo”, acrescenta.

Segundo Alex, depois do flagrante ele apenas chamou a mulher para conversar, ela saiu com a carne dizendo que ia colocar na geladeira, mas correu para se esconder na casa da vizinha. Sua versão é de que neste momento ele pegou a faca e foi buscar a mulher. Joseane tentou fugir correndo, mas foi alcançada e atingida fora da casa, no pasto.

O casal morava na Fazenda Guedes, povoado de Mato Grosso, na zona rural do município de Conceição da Feira, cidade vizinha a Feira de Santana. Alex trabalhava em uma granja e era ajudado pela companheira. Segundo o policial que foi ao local do crime, os vizinhos dizem que a mulher era agredida constantemente.

Alex tem um imenso inchaço na testa, resultado de uma ou algumas pancadas que levou na tentativa de linchamento. De tão grande parece uma outra cabeça crescendo sobre a original.


Meneando a cabeça, o próprio delegado regional Fábio Lordelo parecia perplexo diante do quase menino, sem antecedentes criminais, capaz de fazer uma barbaridade dessas. Para que não fosse morto no superlotado complexo, pediu a transferência do “monstro” para o Conjunto Penal, onde há mais condições de mantê-lo isolado dos outros presos, cujo código de ética condena crimes do tipo que Alex praticou.

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Glauco no Carnaval

Este blog ficou parado durante o carnaval, pois seu autor foi para a Chapada Diamantina. Foi trabalhar, escrevendo sobre a festa em Palmeiras, Mucugê e Rio de Contas, cidades que a Bahiatursa quer promover e contratou a Agência A Tarde para produzir as fotos e textos.

Então lá estava o estranho no ninho, no axé, no pagode, no frevo e em todos os ritmos dançantes (“- Por que as pessoas dançam?”, é a pergunta que sempre me faço). O carnaval é uma coisa e um lugar que me deixam perplexo, esteja eu alienado do evento, passando em frente à TV ou dentro dele.

No meu possivelmente incurável sedentarismo, acho que quem pula é pulga. Também não vejo porque andar dançando quando é mais confortável andar andando.

Não gosto da maioria das músicas nem de som alto.

Não me acostumo a falar gritando no ouvido alheio nem ao slogan “cala a boca e me beija”.

Aliás podem dizer que o carnaval é um lugar onde ocorre uma facilidade para enroscar-se no sexo oposto, mas o que vejo é muita gente zanzando pra cima e pra baixo sozinho ou em grupos, homem com homem, mulher com mulher; sobem, descem, pesquisam e continuam sozinhos. Os casais são minoria. Vai ver está todo mundo esperando eu ir embora (saio logo que possível) para começar a pegação geral que apregoam.

De qualquer modo não é lugar para procurar relacionamentos duradouros e pelo que já observei ao longo dessas quatro décadas de vida, as mulheres estão sempre nesta esperança, mesmo as mais periguéticas.

Claro que para os homens dispostos a usar técnicas de sedução do tempo do tacape sempre haverá lucro, mas a minha incompetência neste método é incontornável.

Enfim, se o sentido do carnaval é fazer uma catarse, eu não devo ter nenhuma pra fazer ou terei que achar outro meio. De qualquer modo, gosto de escrever. Ainda que seja sobre algo que não gosto, quero que saia bem escrito. E como este blog reproduz os textos que escrevo, pois serve também como arquivo, os leitores vão me perdoar a publicação destes textos. Há também fotos, umas minhas e outras boas, que são de Reginaldo Pereira.

Quem não se interessa pelo tema, por favor pule as 11 postagens abaixo.

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Instrumentistas e artesãos descansam agora. Os pés também

O carnaval chegou ao fim em Rio de Contas, na Chapada Diamantina, conseguindo reforçar o aspecto cultural que é uma marca da festa na cidade. Novidades não há, já que se trata de recuperar e manter tradições. Mas houve uma renovação de público, pois além de velhinhas saudosas dançando quase freneticamente ao som das bandinhas e de crianças que dançam conforme qualquer música, havia muitos jovens que optaram pelo estilo tradicional junto ao palco exclusivamente dedicado aos clássicos.

Quem quisesse variar, era só dar alguns passos e chegar no palco mais voltado ao axé, pagode e parada de sucessos. Afinal, ficavam todos na mesma praça da Matriz. Na última noite as opções foram a energia acústica da Orquestra Sopro da Alegria e o elétrico Renan Moreira, que sem a fama das estrelas do axé conduziu o público como se fosse já um nome consagrado na mídia.

A “casa” estava mais cheia ainda, na despedida dos foliões. Mas a tranqüilidade prevaleceu. Impressiona como Rio de Contas consegue reunir no mesmo ambiente gente de todas as idades. Os pais carregam as crianças de colo. As que já andam, enquanto não bate o cansaço, correm espalhando espuma, confetes e serpentina.

“Quem não conhece isso aqui deve vir, que não vai se arrepender”, recomenda o comerciante Uilton Coelho, 52 anos. Ele mora relativamente perto, em Vitória da Conquista, a 200 quilômetros de distância. Diferente de muitos dos seus conterrâneos,  nunca tinha estado no carnaval de Rio de Contas. “Adorei. É um povo tão hospitaleiro”, diz sorrindo, acompanhado da família e amigos.

“É muito agradável, tem segurança, os banheiros organizados e sem ambulantes com isopor espalhado pela rua”, corrobora o engenheiro Otávio Gaino, 51 anos, morador de Lauro de Freitas, que faz a comparação com o carnaval de Salvador.

Só o que não se pode controlar é o ambiente musical, o mais democrático possível. Espaço garantido tanto para os carros particulares com potência de um trio elétrico tocando “Relaxe na bica”, até o hino do velório carnavalesco, aquele que trata da camélia que caiu do galho e morreu. Com direito a intervalos roqueiros, na voz e guitarras de Mark Knopfler e Dire Straits. Ano que vem tem mais.

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O encontro dos figurões

fotos:Glauco

Lula, Obama e Bin Laden se encontraram. Mas não resolveram nenhum dos problemas que preocupam a comunidade internacional. Nem poderiam, porque só fizeram brincar o tempo todo, já que o encontro ocorreu no concurso de máscaras do carnaval de Rio de Contas.

São vários tipos de máscaras, mas as que se destacam mesmo são as dos bonecos gigantes. No meio da praça, no meio do povo, no meio do frevo, tudo gira em torno dos bonecos, que nem podem girar muito, já que são pesados e desajeitados. Mesmo assim, incendeiam a imaginação popular e fazem a festa esquentar ainda durante a tarde, com ajuda da animação incansável da banda Panela de Barro, uma das que se revezam no último dia da festa, para manter o pique lá em cima.

Rio de Contas tem mais gente na despedida da folia. Tem mais homens vestidos de mulher também. Invadiram até o palco, mesmo fora da programação, para um rápido showzinho particular. A quantidade e a sofisticação das fantasias aumentaram tanto que já justificariam até um concurso próprio, do tipo o homem mais feminino ou a boneca mais convincente. Mas não pode, porque ainda são olhados com ar de “sai pra lá”, por boa parte do público, principalmente os pais de crianças pequenas preocupadas com seu futuro.

Os pais zelosos foram salvos do susto do show dos travestidos no palco principal, pelo início do concurso de máscaras, que monopolizou a atenção do público no centro da folia, na Praça da Matriz, mostrando que o esforço para recuperar a força do carnaval tradicional está produzindo resultado.

O município recebeu apoio financeiro da Bahiatursa, que ofereceu R$ 65 mil, para serem usados da maneira que os gestores considerassem mais adequada. De acordo com o diretor de turismo, Gilcarlos Dantas, a fatura da festa já passava dos R$ 200 mil e ainda não tinha sido fechada. Mas ele considera que há ganhos, tanto para o comércio local quanto em termos de divulgação da cidade, que resulta em novas visitas em outras épocas.

Um que promete voltar sempre não veio a passeio e sim para ganhar dinheiro. Edvaldo Ribeiro, ou Edvaldo da Pipoca. “Ontem era meia noite e meia e eu queria ir embora, mas estava vendendo e fui ficando. É a hora de aproveitar para ganhar dinheiro”, constata animado o ambulante, que como muitos outros, veio da vizinha cidade de Livramento de Nossa Senhora, a 12 quilômetros de distância.


Robin Hood também foi. E outros bichos 


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As duas bandas da meia-noite

FOTO: REGINALDO PEREIRA

Meia noite em Rio de Contas. A bandinha do município de Pé de Serra toca em um dos palcos e de repente outra aparece no chão da Praça da Matriz, acompanhada dos bonecos gigantes e um bloco de carnavalescos. Surpresas como essa da noite de segunda-feira podem acontecer a qualquer momento no carnaval de Rio de Contas. Afinal é um autêntico carnaval de rua, sem uniforme e com espaço para a criatividade.

Por exemplo, no desfile das baianas, oito – das quais sete eram homens –apareceram “vestindo” um carro alegórico “movido a jurubeba”, segundo um cartaz carregado por uma delas. O carro era só uma moldura em volta da cintura dos foliões e dependia dos passos de cada um para sair do lugar, à moda dos Flintstones. Certamente o único carro do mundo que mesmo sem rodas corria o risco de virar, dependendo do percentual de jurubeba ou outro combustível etílico no sangue dos condutores.


Carros – os fabricados em série pelas montadoras multinacionais – chegam cheios na cidade a todo momento, com três na frente e cinco atrás. Ou mais ainda, se forem transportados na carroceria de um utilitário. Eles vêm principalmente das cidades mais próximas. Este ano, Rio de Contas tem ainda mais visitantes, porque a vizinha Brumado não teve carnaval.

Os moradores se amontoam nas casas de parentes e cedem espaço para a moçada que vem curtir a festa sem muita exigência quanto ao conforto. Uma casa de dois quartos pode ser cômoda para uma família de cinco ou seis pessoas. Mas não para uma turba de 40 homens dormindo em colchonetes. O risco de faltar água é grande. Para esquecer o transtorno, os visitantes “comem água”, ouvem música e dançam. Na frente de uma destas casas, carinhosamente denominada “área escolar”, a moçada improvisou até um palco na calçada, com cantor, microfone e instrumentos.

Segundo o diretor de turismo de Rio de Contas, Gilcarlos Dantas, em 2009 a polícia militar calculou que por dia estiveram na cidade 12 mil pessoas. A sede do município tem pouco mais de 7 mil moradores. “Este ano temos mais gente, mas o cálculo só é feito após a festa. Alguns problemas acontecem, mas as queixas são poucas”, minimiza.

Tão difícil quanto harmonizar o estilo de vida pacato do resto do ano e o turbilhão momesco, é conciliar tradição e modernidade nos palcos. Mas os organizadores, com o apoio financeiro da Bahiatursa, tentam. Duas bandas tocam ao mesmo tempo em palcos separados por poucos metros na Praça da Matriz. No palco do axé, o público é mais numeroso e 100% jovem. No das músicas clássicas da folia, comandado por bandinhas de sopro e percussão, o público típico é de meia idade mas há uma surpreendente quantidade de jovens que preferem a tradição do que o rebolation e suas variáveis.

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Rio de Contas revela novas baianas

fotos inseridas ao longo do texto: Reginaldo Pereira
fotos da galeria: Glauco

Na Bahia, os dias santos acabam em festa de largo; e o carnaval, na porta da igreja. Foi o que ocorreu em Rio de Contas, onde a histórica igreja de Senhora Santana foi o ponto da dispersão do desfile das baianas, depois de mais de uma hora percorrendo o centro da cidade que tem o carnaval mais procurado da Chapada Diamantina.
Para ser baiana não é preciso ter nascido na Bahia nem ter nascido mulher. Pelo menos no carnaval, encarnar a baiana é acima de tudo vestir a indumentária típica (com direito a variações ditadas pela criatividade moleca do período). Por isso ninguém estranha uma baiana com o nome de Otávio Gaino, 51 anos, engenheiro que mora em Lauro de Freitas. Ao lado da mulher Marta, também fantasiada para o desfile, ele veio curtir o carnaval na Chapada pela primeira vez, juntamente com outros dois casais amigos.


Baiana desajeitada


Baiana descolada

Em Salvador, ele já não veste a fantasia nem de folião, preferindo ficar nos camarotes quando vai ao circuito. Já na Chapada, caiu para dentro da brincadeira. “Aqui a gente se sente como se estivesse em família. Todo mundo veio somente para brincar”. Marta apoia. “Aqui é tranqüilo. Eu gostei. É como o carnaval que acontece no Pelourinho”, compara.

Mas nesta época Rio de Contas é invadida sobretudo por jovens, principalmente das cidades vizinhas. Para conciliar os públicos com gostos divergentes, são montados dois palcos, ambos na praça da Matriz, com apresentações ao mesmo tempo. Um com grupos que se dedicam a tocar as imortais marchinhas e outras canções que marcaram época. Outro oferecendo os ritmos e sucessos do momento. “No ano passado o palco mais tradicional ia somente até meia noite. Este ano, por exigência do próprio público, vai até três da manhã”, explica o diretor de turismo, Gilcarlos Dantas.

No palco “do axé” o show vai até mais tarde, praticamente até o dia clarear. O que significa dizer que em Rio de Contas são quase 24 horas de som, porque nos dias de folia cada carro, casa ou barraca para venda de bebidas e lanches pode se transformar em uma rádio particular. É música alta para todos os lados, vinda até de um “reboque elétrico”, com mais de 20 caixas de som. Tem também um mini-trio. Mini mesmo: uma carreta do tamanho de um brinquedo, mas cheia de alto-falantes, com potência para ser ouvida longe.

É um carnaval na porta de cada casa, que os moradores abandonam por alguns dias, lucrando com o aluguel dos imóveis, que pode render até R$ 1.500,00 o período.


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18.2.10

Reggae e outros ingredientes para a paz em Mucugê

FOTOS: REGINALDO PEREIRA

J.Veloso (com o microfone) e seu sucessor Nando Borges (foto:Reginaldo Pereira)

“Eu falei com o pessoal da banda: - Vamos fazer reggae, que combina com a Chapada... Diamantina”. No palco, entre reggaes puros e sucessos vertidos para o ritmo jamaicano, J.Veloso justificou assim a opção pelo som que dominou o início de sua apresentação na noite de domingo no carnaval de Mucugê, cidade mais conhecida pelas belezas naturais que pela folia momesca.

O show do artista, patrocinado pela Bahiatursa, foi a maneira que os organizadores encontraram de trazer um pouco do clima carnavalesco para os muitos visitantes hospedados na cidade, que tinham passeios marcados para a manhã do dia seguinte e não podiam ir dormir tarde.

“A nossa opção deu certo”, comemorou o prefeito Fernando Medrado (PDT), ao ver a Praça dos Garimpeiros se encher. “O turista quer sossego mas não ficar no hotel assistindo televisão”.

A apresentação começou cedo, pouco depois das nove e acabou antes da meia noite. Para a juventude e os moradores da cidade, a banda Arrumba se encarregou de dar continuidade, tocando os sucessos e ritmos do momento, como pagode e axé.

Antes, J.Veloso fez a alegria de muitos jovens, mas principalmente de turistas de meia idade, relembrando artistas como Moraes Moreira, homenageando os 60 anos do trio elétrico, os 50 anos de Roberto Carlos e até Raul Seixas, “porque também combina com a Chapada”. Já que o assunto era Carnaval, teve espaço também para o frevo, executado com maestria pelos instrumentistas da banda Cavaleiros de Jorge, que acompanham o artista. Aos poucos J.Veloso foi parando, parando, parando... e o comando do show ficou a cargo de Nando Borges, que canta bem e toca melhor, mas não tem o mesmo carisma.


Se esse carro tivesse aparecido em Mucugê, JVeloso teria embarcado para Santo Amaro. Mas foi em Rio de Contas (foto: Glauco)

De qualquer modo foi o desfecho ideal para um dia de resgate das tradições, que a cidade vem ensaiando como forma de atrair um público diferenciado tanto durante o carnaval quanto no resto do ano. Blocos de mascarados desfilaram pelo centro da cidade e a programação nas ruas terminou no entardecer, com a banda de sopros e percussão Bartira (“porque o que a gente ganha, o bar tira”, me explicou um componente) puxando mulheres, crianças e homens, vários deles travestidos de mulher, sob a bandeira do cabaré do Fecha Nunca.

Os turistas entraram na brincadeira dançando, filmando e fotografando. “Eu sempre digo que toda pessoa deveria vir na Chapada Diamantina pelo menos uma vez na vida”, assume a entusiasmada alagoana Vanessa Valeriano, que está na região pela terceira vez e só espera o filho de oito anos virar adolescente para trazê-lo também para conhecer as belezas culturais e naturais baianas.

Como em Mucugê tudo tem uma marca própria, é só na segunda que sai o resultado da votação para Rainha e Princesa do Carnaval. A coroação ocorre na terça 19 horas, último dia da festa, que será encerrada pelas bandas Cidade Liberal e Coração Cigano.


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O Carnaval em meio à natureza, em Mucugê

Cadê o Carnaval em Mucugê? Tá lá em baixo. Aqui é só a tranqüilidade da manhã de segunda-feira, com chuva fina (foto: Glauco Wanderley)

Claudia veio para Mucugê em busca de novidade, porque enjoou do carnaval de Salvador. Eugênia buscava tranquilidade. Williams queria qualquer lugar na Chapada Diamantina. Todos estão na cidade pela primeira vez e se dizem muito satisfeitos com a escolha.

“Eu vim pela natureza, pelos rios, cachoeiras e trilhas. Mas é bom que tem o carnaval de noite. Disseram que aqui não tinha nada de carnaval, mas estou achando a cidade até animada”, observa o alagoano Williams Vieira, estudante de Direito, que veio com um grupo de 16 pessoas do estado vizinho.

A gerente de loja Claudia Castelo Branco gosta de Carnaval. Morando em Salvador, sempre foi freqüentadora do circuito Barra-Ondina. “Mas já sei de cor tudo que vai acontecer. Então queria este ano alguma coisa diferente. Estou maravilhada”, define.

A amiga Eugênia Santos, supervisora de vendas, veio com a família e um amigo e dispensa a folia. “Eu gosto é de silêncio. Vim em busca de paz e tranqüilidade e encontrei aqui”, comemora.

Mas não se incomoda com o carnaval tradicionalista exibido pelas ruas da cidade ecológica, que agora também quer se tornar conhecida pela recuperação da própria história.

Uma iniciativa que começou no ano passado e já começa a render frutos. Nota-se um aumento no número de turistas em relação a 2009. Encontram-se muitas pessoas adultas, diferente do que ocorre em Palmeiras e Rio de Contas, referências do carnaval na Chapada.

A intenção em Mucugê é também virar uma referência, mas cultural. Segundo o prefeito Fernando Medrado (PDT) as manifestações culturais podem atrair pessoas em grande quantidade fora dos feriadões de Carnaval e São João. Assim, a parcela da cidade que vive do turismo, terá público para consumir serviços de hospedagem, alimentação e produtos como artesanato.

“Queremos elaborar com a Bahiatursa e outros órgãos um calendário de eventos. Este ano, no dia de Reis já houve um crescimento significativo de participantes”, analisa Medrado.

A primeira tarefa é mobilizar a própria população. Na tarde do domingo desfilou o estranho bloco Macutum Zezê e os cão de Loi. Um grupo encabeçado por um mascarado com a cara do capeta, seguido de crianças com o corpo coberto de lama, e outros mascarados e tipos esquisitos diversos, andando em fila indiana ao som do batuque. “É uma tradição que estava abandonada e estamos trazendo de volta este ano”, explica a produtora Ana Cristina Collier.

Durante a caminhada os “cão de Loi” cruzaram com um grupo instrumental que promovia uma batucada e cada um seguiu seu caminho, em meio a turistas fotografando e crianças olhando assustadas o desfile do capeta.

Mesmo no palco de shows noturnos, com atrações bancadas pela Bahiatursa, há uma preocupação em dar espaço à tradição. Neste domingo é dia de J. Veloso. “Nós também pedimos ao pessoal da banda local que faça um carnaval mais leve no começo da apresentação”, defende o prefeito.

Fotos a seguir de Reginaldo Pereira

O capeta e seus seguidores enlameados


Faixa explica o desfile, no fim da fila dos "cão de Loi"


A Batucada são só esses mesmos. Quase não faz barulho e passa logo


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Folia é dinheiro no bolso

Quem vive em Palmeiras tenta trabalhar e fazer festa ao mesmo tempo na época de carnaval. Ninguém quer perder a diversão, mas não se pode desperdiçar o momento mais propício do ano para fazer negócios.

Os hotéis são poucos. Mas as residências fazem concorrência direta a eles. “As casas são alugadas por valores entre R$ 300 e R$ 800 para os dias de festa, dependendo da casa”, explica Selma Pessoa, dona de hotel. “Essa é a época de ganhar dinheiro”, justifica.

Até quase 22 horas, quem passasse na porta da cabeleireira Simony Nascimento ainda a veria fazendo penteados. “A clientela aumenta pelo menos 65% em relação a um dia normal”, conta. Para dar conta, ao invés de fechar logo no início da noite, o jeito é esticar o expediente em pelo menos mais três horas. “Depois a gente brinca”, avisa Simony.

A esta altura muitos grupos recém-chegados ainda carregavam suas bagagens em meio à folia. Os jovens são maioria no carnaval e entre eles uma enorme quantidade de meninos e meninas pré-adolescentes. Não vieram sozinhos para a cidade, naturalmente. É que muitas famílias elegem Palmeiras como destino.

O tempo todo a meninada é vista na rua desacompanhada, porque é difícil para os pais controlarem e manterem sob vigilância garotos no auge da euforia.

Para dar conta desta tarefa, há um plantão permanente de conselheiros tutelares, como Kácia Andrade. “A maior preocupação são as confusões e o excesso de álcool”, entrega.

CHUVA

Na noite de sábado, alguns daqueles penteados feitos pela cabeleireira Simony foram por água abaixo. Choveu forte durante meia hora. Forte o bastante para mostrar que não tem ninguém mais animado que os foliões que pulam nos blocos tradicionais, ao som de bandinhas de sopro e percussão. Encharcados, eles iam e vinham na passarela do carnaval, mais alegres ainda do que antes da tempestade.

Quando a chuva passou, o espaço foi retomado pela multidão que não parou de aumentar. Shows na praça Souto Soares esquentaram o público para a atração principal da noite, a banda Motumbá, que tocou até o dia amanhecer.

 

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Mais gente ainda, pra ver Motumbá em Palmeiras

É, mas deu errado, porque choveu forte, estragou o som, Motumbá tocou com o dia amanhecendo e muitos cansados acharam que já tinham se divertido bastante - inclusive debaixo de chuva - e deram no pé

A partir deste sábado, as ruas de Palmeiras, já naturalmente estreitas, começam a ficar intransitáveis para carros e por alguns instantes até para pessoas. É hoje que começa a chegar a maioria dos visitantes que fazem dobrar a população da cidade no carnaval. Palmeiras atrai mesmo sem divulgação, porque já é sinônimo de diversão no carnaval da Chapada. Mas neste sábado há um motivo a mais a encher as ruas: a apresentação da banda Motumbá, marcada para começar meia noite, no palco armado na praça Souto Soares, em frente ao mercado municipal.

E se alguém não gostar de Motumbá? A opção, no mesmo horário é correr para o Espaço Alternativo, comandado por DJs. Marquinhos é quem dá a largada na música eletrônica, no mesmo horário dos intérpretes do mega-único-sucesso Bororó, Bororó.

Quem chegar mais cedo ou permanecer depois da apresentação do Motumbá, também tem alternativas. A banda local Energia, que se apresentou na abertura, sexta-feira, volta ao palco nas primeiras horas da noite e Baê Bakana encerra a festa, provavelmente já com o dia amanhecendo.

Diversão garantida para a juventude, maioria entre os visitantes. É comum encontrar gente com lugar cativo no carnaval palmeirense. Como o estudante Uirã Oliveira. “É a quarta vez seguida que venho. Aqui é muito bom”, assegura.

Para o comerciante Carmilof Araújo, 2010 também marca a estreia em Palmeiras. Não como carnavalesco, porque ele já passa dos 60 e é um amante das marchinhas que tocam a todo volume na porta de seu estabelecimento. Mas o que ele está experimentando pela primeira vez é a oportunidade de lucrar com a presença destes milhares de visitantes. “Estou esperando que o movimento cresça muito a partir deste sábado”, torce. As possibilidades de ganho são grandes, já que a cidade ainda é carente de serviços para atender os turistas.

O prefeito Marcos Teles (PR) admite que mesmo com o sucesso ano após ano, é preciso planejar mais. “Já temos ajuda da Bahiatursa para custear e promover o carnaval. E queremos estender esse entendimento para fazermos um diagnóstico sobre o evento, para que se possa sempre atrair um público qualificado”, explica o prefeito. Para ele, o grande fluxo de visitantes compensa as despesas com a festa, porque a economia é movimentada e a cidade divulgada.

 

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O carnaval passa na porta em Palmeiras

Esse aí é o arrastão do dia do show de Motumbá, no sábado, mas ilustra bem o texto abaixo que fala das ruas estreitas, etc


Para participar do primeiro dia de Carnaval em Palmeiras, Chapada Diamantina, não foi preciso sair de casa. Muitos optaram mesmo por ficar na calçada ou na janela, enquanto o bloco desfilava pelas ruas.

A trilha sonora é aquela com décadas de história e aparentemente fôlego para mais alguns séculos de sucesso: as marchinhas dos carnavais de meados do século XX, que quase todo mundo conhece. Se alguém é tão novo ou tão desligado que nunca ouviu, não é problema. O ritmo é contagiante e a empolgação dos músicos e carnavalescos se encarrega de colocar todos no mesmo compasso. “Todos” inclui velhinhas que levantam de suas cadeiras na calçada e netinhos de colo que só mexem os bracinhos enquanto são sacudidos nos ombros pelos pais ao som da banda. Ou Filarmônica Santa Cecília, nome oficial do conjunto que se reúne em épocas de festa na cidade, sendo o carnaval a principal delas.

Ao longo do trajeto entre as duas praças e dois palcos que compõem o circuito da folia, os blocos com suas roupas tradicionais e estandartes, vão se misturando com o povo. No estreito corredor da reta final do percurso, já não é mais possível separar multidão e bloco. Destaque mesmo só para o Rei Momo e a Rainha do Carnaval, que pairam acima de todos, desfilando sobre um tablado rebocado por um carro de passeio.

Tão importante é o carnaval na cultura palmeirense que acolhe e promove manifestações de outras épocas. Dois grupos de terno de reis, por exemplo, estavam no palco na primeira noite.

Essa característica atrai também gente jovem, teoricamente mais ligada às modernidades do axé. Elane Novaes, 20 anos, de Irecê, disse que deixou de ir a outra cidade para conhecer Palmeiras e não se arrepende. “Estou adorando, porque é um lugar que tem cultura, gente bonita, é seguro e animado”, define. Junto com ela veio a amiga Bruna Natany, 18, que vê outras vantagens. “Aqui a gente pode fazer passeios durante o dia pela natureza e vir para a festa se divertir de noite”, justifica.

Os 84 anos de história fazem do carnaval de Palmeiras uma marca consagrada na região. A cidade é pequena, com 8,5 mil habitantes e a prefeitura estima que a população chega a 15 mil nos dias de festa, principalmente a partir do sábado. Visitantes não faltam. A preocupação é como aproveitar da melhor forma a fama. “A Bahiatursa tem nos ajudado a promover. Agora precisamos fazer um diagnóstico com profissionais do setor de turismo, para saber qual o caminho que devemos adotar para qualificar o nosso carnaval”, diz o prefeito Marcos Teles (PR).

Um caminho para o futuro do carnaval de Palmeiras subiu ao palco na noite de abertura. Quem se encarregou de eletrizar o público no fim da noite e na madrugada foi a banda Energia, composta por jovens do próprio município.

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Palmeiras teu cenário é uma beleza

FOTO: REGINALDO PEREIRA

A população de Palmeiras dobra durante o Carnaval, segundo a estimativa da prefeitura. O número de visitantes é calculado em pouco mais de sete mil pessoas, que se juntam aos 8.437 habitantes permanentes da cidade, de acordo com a estimativa de 2009 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A fama do carnaval palmeirense atrai gente de todo o estado, mas principalmente das cidades vizinhas na Chapada Diamatina, como Seabra, Jacobina e Itaberaba. Foi desta última que veio Breno Souza, 16 anos. Apesar de ter uma tia morando em Palmeiras e conhecer bem a cidade, veio para o carnaval pela primeira vez, porém cheio de segundas intenções. “Para quem está solteiro como eu é o lugar ideal. Me disseram que vem muita mulher”, confessa.

Como entre os visitantes predomina o público jovem, são muitos os pedidos para trazer pelo menos um artista ou banda famosa. Este ano, o evento tem como principal atração a banda Motumbá, que se apresenta no sábado, a partir da meia noite.

Mas a Bahiatursa – órgão estadual de promoção do turismo, que apóia o evento – e a prefeitura, querem investir também no resgate de tradições que estavam quase se perdendo. Por isso hoje, na abertura oficial, está prevista a apresentação de diversos blocos que evocam a memória dos carnavais do passado. A intenção se expressa no tema oficial: As riquezas de nossa cultura popular.

O pessoal do bloco Capa preta, por exemplo, representa os escravos, enquanto as Holandesas simbolizam a elite, que não se misturava nem na época da folia. A eles se juntam em um desfile único na noite de abertura As Casadas, a Mulinha de Ouro, a Quilombagem (uma dança de escravos também) e até o terno de reis, de um grupo do distrito Campo de São João, no mesmo município. Todos ao som da Filarmônica Santa Cecília, encarregada da animação musical até 22 horas, quando assume a banda Energia.

De sábado até terça-feira, a festa começa sempre no final da tarde, com blocos e mini-trio (as ruas estreitas e as construções históricas não permitem o uso dos gigantescos e potentes trios típicos do carnaval de Salvador).

No começo da noite, o som acontece nas ruas e no palco armado em frente à prefeitura, na praça Dr. José Gonçalves. Quando a noite avança e a festa esquenta, um arrastão musical conduz a multidão até o palco maior, na praça Souto Soares, em frente ao mercado municipal, onde a música rola madrugada adentro. Entre os dois palcos, o “espaço alternativo”, conduzido cada noite por um DJ, já que atualmente uma parte da juventude exige música eletrônica.

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Glauco no Carnaval

 

 

Este blog ficou parado durante o carnaval, pois seu autor foi para a Chapada Diamantina. Foi trabalhar, escrevendo sobre a festa em Palmeiras, Mucugê e Rio de Contas, cidades que a Bahiatursa quer promover e contratou a Agência A Tarde para produzir as fotos e textos.

Então lá estava o estranho no ninho, no axé, no pagode, no frevo e em todos os ritmos dançantes (“- Por que as pessoas dançam?”, é a pergunta que sempre me faço). O carnaval é uma coisa e um lugar que me deixam perplexo, esteja eu alienado do evento, passando em frente à TV ou dentro dele.

No meu possivelmente incurável sedentarismo, acho que quem pula é pulga. Também não vejo porque andar dançando quando é mais confortável andar andando.

Não gosto da maioria das músicas nem de som alto.

Não me acostumo a falar gritando no ouvido alheio nem ao slogan “cala a boca e me beija”.

Aliás podem dizer que o carnaval é um lugar onde ocorre uma facilidade para enroscar-se no sexo oposto, mas o que vejo é muita gente zanzando pra cima e pra baixo sozinho ou em grupos, homem com homem, mulher com mulher; sobem, descem, pesquisam e continuam sozinhos. Os casais são minoria. Vai ver está todo mundo esperando eu ir embora (saio logo que possível) para começar a pegação geral que apregoam.

De qualquer modo não é lugar para procurar relacionamentos duradouros e pelo que já observei ao longo dessas quatro décadas de vida, as mulheres estão sempre nesta esperança, mesmo as mais periguéticas.

Claro que para os homens dispostos a usar técnicas de sedução do tempo do tacape sempre haverá lucro, mas a minha incompetência neste método é incontornável.

Enfim, se o sentido do carnaval é fazer uma catarse, eu não devo ter nenhuma pra fazer ou terei que achar outro meio. De qualquer modo, gosto de escrever. Ainda que seja sobre algo que não gosto, quero que saia bem escrito. E como este blog reproduz os textos que escrevo, pois serve também como arquivo, os leitores vão me perdoar a publicação destes textos. Há também fotos, umas minhas e outras boas, que são de Reginaldo Pereira.

Quem não se interessa pelo tema, por favor pule as próximas postagens.

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