5.5.06

Desprivatização ainda que tarde

É certo que Evo Morales está aí nos assombrando com os prejuízos que pode causar ao Brasil com a estatização dos recursos naturais bolivianos e a hora não é boa para defender estatização (a bem da verdade, tem mais de 15 anos que se proclama que só a privatização pode nos levar ao paraíso). Mas a frase do prefeito José Ronaldo, ao declarar que assina com “o coração partido” o aumento dos ônibus, pois se não aumentar as empresas vão à falência, me faz retornar ao inconformismo que há muito tenho em relação ao tema: o transporte coletivo é um serviço essencial, como saúde e educação. Deveria, se vivêssemos de acordo com a lógica, ser proporcionado pelo Estado ao menor custo possível e não servir para dar lucros vultosos à iniciativa privada às custas do sacrifício da população.
As empresas privadas de ônibus, Brasil afora, vivem envolvidas com denúncias de corrupção, sendo o caso mais nebuloso e grave o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Mas ninguém cogita de ser o serviço de transporte coletivo estatizado, como era em muitas cidades antigamente. Em trens e metrôs ainda se aceita a participação do Estado como proprietário, mas no transporte coletivo por meio de ônibus, neste ninguém toca. Formou-se uma aliança inquebrável entre políticos e empresários, pela qual o usuário jamais é prioridade. A percepção que a população tem, devido à má qualidade do serviço, é que embora o governo tenha o poder regulador e fiscalizador, o negócio se conduz da forma como os empresários bem querem e entendem.

Rentabilidade

Quem dera o Brasil chegasse ao menos perto da taxa de juros obtida pelo vereador Fábio Lucena. Pegou o dinheiro em junho de 2005 e devolveu em abril de 2006 pagando o mesmo valor (cerca de R$ 20 mil). Inegavelmente se configurou um empréstimo, mas com zero de juros. Foi um dos melhores negócios do período. A não ser que o dinheiro tenha ficado paradinho lá na conta. Mas isso não saberemos, porque seus colegas preferem não investigar.

Novo Fabinho?

Leio na Tribuna que Antônio Lomes decidiu deixar a política em Serrinha. Ligo o rádio em mais um programa noticioso que surgiu, desta vez ao meio dia na rádio Antares FM, de propriedade do mesmo Lomes e lá está ele, como o entrevistado que teve direito ao maior tempo no programa, a comentar sobre política nacional (a greve de fome de Garotinho, a atitude que o governo federal deve tomar em relação à Bolívia).
Estaria buscando se expor a fim de seguir o exemplo de Fernando de Fabinho, que construiu a carreira na vizinha Santa Bárbara e hoje atua fortemente em Feira? Ou será apenas alguém que gosta do microfone e resolveu utilizar o tempo livre como comentarista? O tempo dirá.

Angelo Almeida
Recebi no blog onde arquivo as colunas publicadas aqui na Tribuna, comentário do suplente de vereador Ângelo Almeida, a respeito de artigo da semana passada, em que critiquei a proposta de aumento do número de vereadores. Naturalmente, ele não concorda comigo, mas publico abaixo na íntegra sua objeção, incluindo a insinuação de que sou preguiçoso:

Prezado Glauco. Brigar para que os "sem dinheiro" possam representar as suas comunidades não é vexame. A redução de vagas elitizou as câmaras e veio cercada de farsa. Primeiro do TSE que usou dois pesos e duas medidas ( corte de vagas/quebra da verticalização). Depois pela própria imprensa, que pautou-se na economia de recursos públicos para defender a redução das vagas. Vendeu uma mercadoria e não entregou à sociedade. Você pode até estar satisfeito com a situação da Câmara de Feira, afinal sem o bom debate, com menos vereadores, trabalha-se menos também. Tenho certeza que o povo da minha terra, quer mais representantes, mais debate, mais fiscalização, mais representatividade. É por isto que luto!! Quanto à qualidade dos mandatos, cabe dizer que não devemos mascarar, a nossa democracia é jovem, precisa ser tratada com carinho, por todos, inclusive pela imprensa, que ajudou a concebê-la. Ajudou, não conquistou sozinha, fomos nós, todos nós que a conquistamos. Saudações democráticas. Angelo Almeida

Publicado na Tribuna Feirense em 05/05/2006

30.4.06

A História de todo dia

Embora a imprensa tenha subido no conceito da opinião pública ultimamente (segundo as pesquisas), tem muita gente que duvida do que é publicado. Esta gente, reconheça-se, tem motivos para fazê-lo, porque notícias podem conter erros, bem como podem ser influenciadas pela ótica de quem escreve, pelo interesse de quem deu a informação, por pressões políticas, econômicas, por um monte de coisas, inclusive pelo fato de que jornalistas não são, como alguns se acham, deuses infalíveis.
Mas notícias impressas são registros históricos de qualquer modo, que transcendem em muito a importância da edição de cada dia. São documentos. Tem um monte de certidão de nascimento por aí forjada em cartório e nem por isso deixa de valer. Vale o que está escrito, ensina, sem querer, o jogo do bicho.
Neste nosso país de maioria analfabeta, poucas cidades que não sejam capitais, têm o privilégio de possuir parte significativa de sua história registrada nas páginas de periódicos. Feira de Santana tem este privilégio. Diversos foram os jornais que circularam ao longo do tempo, como atesta semanalmente a coluna do arqueólogo das notícias, Adilson Simas.
O problema é que além do Adilson, poucas são as pessoas que podem consultar estas fontes. E quem pode, só pode da maneira tradicional e morosa: folheando, coisa que está ficando impensável nestes tempos modernos de bancos de dados e respostas instantâneas para pesquisas em textos.
Os jornais que contam o dia a dia de Feira de Santana são um patrimônio histórico que, mais do que os prédios, precisa ser salvo e colocado à disposição da população, para consultas nas bibliotecas e no mundo todo, via internet.
Feira abriga a quase centenária Folha do Norte. Teve durante muitos anos a presença do Feira Hoje, registrando diariamente os fatos. E vários outros menos cotados. Nada disso está devidamente arquivado, apesar do inestimável valor histórico. Creio que nem mesmo a Tribuna Feirense e a Folha do Estado, embora mais recentes, possuem o próprio conteúdo arquivado em meio digital.
Ao contrário da restauração de imóveis (também inquestionavelmente necessária, claro), a digitalização deste conteúdo, embora possa ser um serviço demorado, não consumirá tantos recursos e terá alcance maior. É tempo da nossa universidade, que tem curso de História, ou a Prefeitura, ou seja quem for, assumir esta tarefa.

Publicado na Tribuna Feirense em 28/04/06

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