23.9.06

O voto nulo

As ruas foram tomadas, agora às vésperas da votação, por uma campanha em out-doors pregando o voto nulo. A opção é tentadora. Já pareceu assim também a mim, que estava disposto até a participar da pregação contra o voto. Antes, porém, precisaria me convencer de que se trata de uma boa opção. Não consegui me convencer.
Quem está indignado? Apenas os mais conscientes. Quem é consciente, tende a escolher melhor seus candidatos. Embora não esteja livre de se enganar ou ser enganado. Mas a perda destes votos conscientes só iria beneficiar os piores da política, aqueles que têm seus currais eleitorais e que compram votos e não dependem da consciência de ninguém para vencer uma eleição.
Está claro pelas pesquisas que a maior parte do eleitorado não compartilha da idéia de anular o voto. Propaga-se uma informação de que com mais da metade dos votos anulados, anula-se a eleição. A idéia é atraente, pelo impacto que isto causaria, por expressar o quanto a sociedade está indignada. Mas seria um grande risco. Varreríamos do Congresso políticos melhores, eleitos pelas pessoas conscientes, deixando o Legislativo para os conhecidos curraleiros e mercadores de votos, continuadores dos mensaleiros, sanguessugas e outros bichos.
“Não é o voto que se invalida, mas o eleitor”, advertiu Gustavo IOSCHPE, que é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA), em artigo publicado no último dia 6 na Folha de São Paulo. É fácil constatar isso com uma conta bem simples, que reproduzo do artigo:
“Imagine que o eleitorado consiste de cem votantes e que 41 pretendem votar no candidato A, 24, no B, 10, no C e 5, no D. Vinte pretendem anular/votar em branco/ficar em casa. Resultado: com 41 de 80 votos válidos, o candidato A se elege em primeiro turno. Se os 20 descontentes espalhassem seus votos entre os outros candidatos, teríamos segundo turno”.
Prossegue o articulista: “Quando uma pessoa politizada a ponto de querer usar o voto como arma de protesto o joga fora, o que ela está fazendo é reforçar o peso dos outros eleitores. Delega-se a escolha para pessoas que talvez se importem menos. Aquele que quer anular seu voto por protesto ao sistema vai acabar reforçando os mandarins do sistema que rejeita. Não faz sentido”.
Portanto, leitor, pense, escolha e vote. Pelo menos nesta eleição, com a proibição da boca de urna (o que já será uma maneira de reduzir a influência do poder econômico) você terá direito a votar em paz e pensar bem no que está fazendo. Boa sorte para todos nós.

Publicado na Tribuna Feirense em 23/09/06

18.9.06

Todos pela educação

A Bahia tem um dos piores desempenhos nacionais na área do ensino fundamental, de acordo com a medição feita em todo o país pelo MEC, através da Prova Brasil. Piores que a Bahia, somente cinco outros estados do Nordeste.
O trágico é que a Bahia está entre os últimos estados do Brasil, que é um dos últimos países do mundo em educação, de acordo com exame internacional realizado em 40 nações (PISA). Em resumo, alunos de 8ª série têm conhecimento equivalente à 4ª e os de 4ª sabem nada, nem ler.
Em Feira de Santana, o desastre é o mesmo, com o agravante de que as escolas municipais obtiveram resultados um pouco piores que as estaduais (os resultados, escola por escola, estão na edição de lançamento da revista Atual, que está nas bancas da cidade).
Por que chegamos tão fundo neste poço de ignorância? Com certeza, uma das razões é que nunca se deu prioridade à educação. O Brasil se propôs a erradicar a poliomielite das crianças e conseguiu. A Bahia se propôs a erradicar a febre aftosa do gado e conseguiu. O Brasil se propôs a fazer aviões e conseguiu. Se propôs a explorar petróleo e em 53 anos saiu do zero para a quase auto-suficiência (não é verdade que deixamos de comprar petróleo, como o governo federal quer nos fazer pensar).
Na educação, foram estabelecidas apenas duas grandes metas para inglês ver: colocar todas as crianças na escola e tirar as crianças do trabalho para as salas de aula (embora o trabalho infantil ainda seja muito presente, mesmo com o PETI). Mas esta escola que temos está servindo mais como abrigo de menores. Em matéria de aprendizado, nada.
Feira de Santana mesma pode ser um caso exemplar de como a educação está no fim da fila das prioridades. Sob o comando do prefeito José Ronaldo, que está perto da metade do segundo mandato, aumentou-se a arrecadação, recuperou-se a capacidade de investimento do município, abriram-se avenidas, foi feita muita pavimentação, reabertos postos de saúde, implantados serviços que não havia, como SAMU. Foram atraídos empreendimentos industriais importantes e recuperou-se força e prestígio para os grandes eventos anuais (Micareta, São João e Expofeira).
Mas a educação é uma ruína que nem a reforma de algumas escolas ou o esforço de educadores comprometidos com o trabalho consegue esconder. E por quê? Também porque a sociedade não cobra e não se importa. As pessoas não cobram educação como cobram saúde, transporte, segurança e emprego. E a política, todos sabemos, é movida fundamentalmente pela pressão. Sob pressão cassam-se mandatos, demitem-se amigos, faz-se reforma agrária, legalizam-se vans e motoboys. Sem pressão, deixa-se como está, para ver como é que fica.
Oxalá consiga a iniciativa dos maiores empresários do país (www.todospelaeducacao.org.br), lançada no último dia 6, alcançar o objetivo de transformar a educação em obsessão nacional, muito mais que futebol e Copa do Mundo. Não existe outra forma de sairmos do atoleiro em que nos metemos há décadas.

Publicado na Tribuna Feirense em 16/09/06

11.9.06

Direito pela metade

Pareceu salutar que a Justiça tenha dito à Caixa Econômica Federal que deve cumprir a lei dos 15 minutos. A mim não pareceu, a partir do momento em que se concedeu ao banco estatal o privilégio de descumprir esta obrigação, quando se trata das pessoas que vão às agências em busca de atendimento para os demais serviços exclusivos do banco público, tais como saque de FGTS, seguro-desemprego e outros.
A Caixa é obrigada a receber esta massa de trabalhadores que superlota suas filas e guichês. Mas certamente não está fazendo favor e lucra com esta exclusividade. Muitos outros bancos gostariam de repartir com ela este peso. A vítima, digo, o cidadão que vai ao banco, este sim não teve direito de escolha. Ele é obrigado a ir à Caixa porque não lhe deram a opção de ir a outro lugar.
No entanto, se a Caixa tiver que cumprir os 15 minutos apenas para os correntistas, sob pena de pagamento de multa, poderá relegar (mais do que já faz) a segundo plano estes tantos trabalhadores que recorrerão a ela por falta de opção. E tudo isso por quê? Porque não se trata de uma relação de consumo. Ou seja, como o trabalhador não é correntista, não é cliente, a Caixa não tem obrigações com ele.
Eis que estamos num contexto em que o respeito à dignidade das pessoas não existe. Só tem valor o consumidor. E isso numa sociedade empobrecida em que milhões ainda não atingiram este estágio da evolução humana que é ser um consumidor.
O cidadão não vale nada e não merece ser beneficiado pela regra dos 15 minutos, regra que veio bem a calhar para colocar um mínimo de decência na relação das pessoas com os bancos, neste país em que as empresas do setor financeiro dão as cartas.
Essa exacerbação do valor comercial das coisas faz lembrar a abordagem freqüente da questão do deficiente como alguém que "é tão produtivo quanto qualquer outro trabalhador". Como se o deficiente só fosse digno de consideração por ser capaz de produzir. Ora, reforçar esta visão é condenar a uma vida de eterna indignidade os que não são capazes de produzir, pois muitos efetivamente não são, devido à gravidade de sua deficiência. Se o deficiente pode produzir, trabalhando numa empresa, ótimo. Ele mesmo se sentirá muito melhor, integrado ao sistema que o cerca. Mas se não for, uma sociedade decente precisa prover os meios para que ele tenha uma vida digna, com respeito aos direitos que todo ser humano tem, independente de ser ou não produtivo no sentido capitalista do termo.

"O" ELEITOR

Cada eleitor tem direito a dar um voto. Neste sentido o prefeito José Ronaldo é igual ao José da Silva Lima, um anônimo que compareça diante da urna na mais remota seção de distrito. Porém nesta eleição, o voto de José Ronaldo está tendo o peso multiplicado. Seu apoio é disputado pelos principais candidatos do grupo político. Uns, como Rodolpho Tourinho, porque precisam desesperadamente de ajuda para subir a ladeira. Outros, porque querem mostrar que são mais amigos de Ronaldo do que o colega ao lado (alguns visando o lugar de honra no palanque de 2008, quando Ronaldo não poderá mais se reeleger).
Na propaganda que nos cerca com intensidade cada vez maior à medida que nos aproximamos do pleito, Jairo, Fabinho, Geilson e Eliana, todos são "candidatos de José Ronaldo". Tarcízio Pimenta, que até outro dia fazia bico para o prefeito, colocou uma mensagem em circulação nos seus carros de som onde dirige um "agradecimento especial pelo empenho de Ronaldo à continuidade de sua luta na Assembléia Legislativa". E até na propaganda de Paulo Souto, que não precisa, lá está Ronaldo a testemunhar.
Como se vê, mesmo sem ser candidato, Ronaldo está cotadíssimo nestas eleições.

2.9.06

Para o senado, ACM

Vote em quem você quiser entre os principais candidatos ao Senado e estará levando um pouquinho mais de ACM a Brasília. Nem todos gostam de ser lembrados disso, mas todos são crias do mesmo. João Durval é o que há mais tempo deixou o grupo, mas foi como carlista que chegou ao governo do estado e angariou, por méritos próprios, vale dizer, o prestígio de que ainda desfruta e que o faz um dos favoritos ao Senado. Tanto identifica-se com os antigos companheiros que chegou-se a especular sobre uma possível aliança com o PFL, conversas que deram em nada depois que o TSE decidiu moralizar um pouquinho a disputa, mantendo a verticalização.
Imbassahy, tucano novo, é o que tem a situação mais difícil de conciliar em matéria de coerência; e conseqüentemente a maneira mais envergonhada de lidar com sua herança pefelista. Quer ser ao mesmo tempo uma opção para oposicionistas, sem perder seus votos carlistas. Apresenta-se como "senador de toda a Bahia" e "novo senador da Bahia", numa tentativa de transformar em vantagem a própria falta de identidade. A confusão é tamanha que vai ainda mais longe, pois em sua propaganda no rádio disse que vai estar "ao lado do presidente", reivindicando em favor da Bahia. Deve estar fazendo confusão porque PFL e PSDB, embora aliados a nível nacional, são inimigos na Bahia. Terá deduzido que sendo assim, o PSDB em Brasília está com o PT. Precisa ser avisado que seu parceiro no PSDB baiano, Jutahy Júnior, é um dos mais implacáveis críticos do governo Lula.
Mas na eleição o candidato carlista mesmo é Rodolfo Tourinho. Perdão, Rodolpho Tourinho. Também não me cobrem um conhecimento profundo sobre o homem, pois até em sua página oficial de senador na internet se pode encontrar o nome grafado das duas formas. Não sou o único que não conhece o Tourinho. O sobrenome até que é razoavelmente popular na Bahia. Talvez fosse o caso do seu pessoal de marketing trabalhar o sobrenome, fazendo o contrário do que fizeram os marketeiros do Alckmin, o Geraldo. Muitos feirenses, por exemplo, fazendo confusão, poderiam votar no Rodolpho pensando se tratar do vereador Roberto Tourinho, certamente mais conhecido por estas bandas, embora de oposição ao PFL (se bem que já foi aliado também em outros tempos). Em Salvador, fez fama Arx Tourinho, destacado advogado, falecido em janeiro do ano passado, que presidiu a OAB e era da cota dos desafetos de ACM. Se seu sobrenome ajudasse a empurrar o pesado candidato, tanto melhor. Seria até uma espécie de vingança para o cabeça branca depois dos aborrecimentos que passou nos embates com o destemido jurista.
Afinal, apesar de seus ex-pupilos Durval e Imbassahy estarem perto da eleição, para ACM não é vantagem alguma, pois desta vez ele queria é o Rodolpho. A vitória de Rodolpho poderia ser a desmoralização da urna eletrônica, pois é difícil acreditar em suas chances de reabilitação nesta campanha. A derrota será a desmoralização da teoria de que "ACM elege até um poste". A tese já foi abalada pela vexatória derrota de César Borges na eleição para a Prefeitura de Salvador em 2004. Tratava-se na ocasião de um candidato que tinha sido governador, ou seja, ao contrário do senador Tourinho, amplamente conhecido. Mesmo assim, por muito pouco não ficou em terceiro, atrás do petista Pellegrino. Agora, o previsível fracasso do candidato pefelista abalaria definitivamente a fama de invencível do líder do carlismo, embora seja conveniente inclusive para os que, dentro do próprio PFL, querem ver ACM perder força.
Aliás, fora uns muros pintados na véspera da carreata para dar satisfação ao candidato e seu padrinho, onde está a campanha de Rodolpho Tourinho em Feira, o segundo mais importante colégio eleitoral do estado?

Publicado em 02/09/06 na Tribuna Feirense

26.8.06

Pontos estratégicos

Em televisão existe uma coisa que se chama Nota-pé, que vem encerrando, como fechamento de um assunto que estava sendo tratado em reportagem anterior. Por exemplo: "Tentamos falar com o deputado acusado de integrar a quadrilha das sanguessugas, mas ele não foi encontrado". Em boa parte das vezes a Nota pé é lida com um misto de ironia e desilusão, pois serve para dar satisfação ao telespectador, ao mesmo tempo em que informa, porém com outras palavras, que uma determinada autoridade não estava fazendo a parte que lhe cabia.
Assim foi esta semana, depois que o telejornal da TV Subaé noticiou o acidente com uma van do transporte alternativo no Novo Horizonte, em que mais de uma dezena de pessoas ficou ferida, pois o veículo superlotado capotou depois de bater numa mobilete. Pode-se dizer – ainda que seja um tanto macabro – que foi sorte termos um único morto (e que por sinal não estava na van). Então a Nota-pé informou que o funcionário responsável na secretaria de transportes, questionado sobre a superlotação, disse que os fiscais estão diariamente nas ruas em pontos estratégicos fazendo a fiscalização.
Foi com espanto que ouvi esta explicação. Seria importante saber que penalidades são aplicadas e se de fato são cumpridas. Onde moro talvez não seja um ponto estratégico. Porque todo santo dia estão lá as vans superlotadas, vindas da zona rural. Tem gente "sentada" no vidro das janelas (bunda no vidro, ombros e cabeça no teto). Nenhuma providência é adotada. Possivelmente não passou por lá nenhum fiscal. Mas talvez eu esteja morando longe. É razoável supor que um "ponto estratégico" seja o centro da cidade. Por exemplo, ali em frente ao jardim adotado pelo J. Santos na avenida Getúlio Vargas existe um ponto de transporte coletivo dos mais movimentados da cidade. Se algum fiscal andar por lá vai ter dificuldade em encontrar alguma van que não passe superlotada.
Mas peraí. Pode estar havendo uma confusão de conceitos sobre o que seriam os "pontos estratégicos", claro. Ponto estratégico pode bem ser um lugar onde não passa van nenhuma. Onde não haja transporte nem alternativo. Num lugar assim, não existem vans superlotadas. Deve ser lá, estrategicamente, que se encontram os fiscais.

Comercial eleitoral

No rádio, ouve-se uma voz apregoar as virtudes do Partido do Remédio Barato. É horário comercial, não horário eleitoral. O propagandista fala que o partido já fez muito pelo povo e vai continuar fazendo, se você ajudar. O falante não se identifica, mas a voz parece muito com a de João Borges, aspirante a deputado federal.
Mas não pode ser, João Borges é candidato, como pode aparecer fazendo propaganda de sua empresa, se ele saiu dos comerciais (junto com a Mamãe) justamente quando homologou sua candidatura? Seria uma exposição maciça e possivelmente irregular de sua imagem, passível de ser enquadrada como abuso de poder econômico. Então na TV desfaz-se o mistério. A propaganda é com João Borges, mas um da segunda geração. Em geral, atores de comerciais não são identificados. Mas neste caso, lá está o nome creditado, como um apresentador de TV: JOÃO BORGES FILHO.
Assim, espertamente, o candidato pai dá um jeito de driblar as restrições legais e aumentar a exposição de seu nome, ainda insinuando sutilmente na propaganda que se você votar em João Borges o remédio barato seguirá firme e forte.
Ainda que disfarçada, é propaganda eleitoral. Mas parece que os outros candidatos não se importam, pois não questionam.

Publicado na Tribuna Feirense em 26/08/06

19.8.06

O novo Lula é o velho Lula

Dizem, com razão, que o Lula da eleição de 2002 foi obra de Duda Mendonça. Que o marketeiro apagou do mapa a imagem de homem do povo, deu-lhe um banho de loja, um ar grave, para aparentar preparo, maturidade e competência. Lembra do tempo em que se ouvia dizer “eu não voto nesse Lula, que é um ignorante analfabeto despreparado”? Isso desapareceu.
O Lula de Duda Mendonça estava muito mais para empresário que operário. E de repente, em 2006, com Duda expurgado da campanha, o mundo gira e Lula volta para o mesmo lugar de onde saiu. Ele agora é homem do povo, “a cara do Brasil”, como diz sua propaganda.
Em propaganda de candidato grande, nada é por acaso e tudo se faz com base no que dizem as pesquisas. Se em 2002 convinha repaginar o Lula, em 2006 é preciso que as pessoas pensem nele como um amigo ou parente próximo. É que mudou o público-alvo, como diriam os publicitários.
Em 2002, Lula tinha que ter cara de empresário porque precisava do voto da classe média pra cima. Hoje ele se equilibra no topo das intenções de voto graças aos clientes do Bolsa Família. O negócio agora é ser da família do Lula (São milhões de Lulas povoando o Brasil, diz o jingle oficial da campanha).
Nesse ponto o marketing não poderia ser mais acertado. Lula é mesmo a cara do Brasil quando dá um jeitinho de desculpar os companheiros que andaram pisando na bola e até “traindo sua confiança”. Quando demonstra enorme dificuldade em dispensar os amigos que aprontaram. Quando age como se as regras valessem apenas para os desafetos, mas não para os amigos. Quando se finge de santo ingênuo, que não sabia de nada.
Lula tanto é a cara do Brasil que nem nome usa, mas apelido. Já seu adversário é a cara de São Paulo, tanto que não usava o nome, mas sim o sobrenome, como se faz no sisudo Primeiro Mundo, organizado e desenvolvido.
Finalmente os marketeiros do PSDB descobriram que o tucano disputa eleição no Brasil e não em São Paulo e apagaram o Alckmin, fazendo surgir o Geraldo. Prejuízo não vai ter, já que ninguém sabia mesmo quem era o Alckmin (eu mesmo que trabalho com isso, para saber como se escrevia o nome – que tem apenas uma letra I – tive que consultar o site oficial).
Muito dura a vida do tucano. Tem que bater na porta da casa das pessoas com aquela cara de vendedor de enciclopédia. A dona da casa abre, mas atende ali na porta mesmo, não deixa entrar. Dentro, ouve-se um burburinho, umas gargalhadas de gente meio alta de algumas doses a mais. Geraldo ouve uma voz rouca e uns erros de concordância familiares. Como é comprido, espicha o pescoço, dá uma olhada pra dentro e lá está o Lula, sentado na mesa, em altos papos com o outro Lula dono da casa. Assim fica difícil.

Publicado na Tribuna Feirense em 19/08/06

13.8.06

Idéias e conceitos em Segurança Pública

Os conceitos e idéias não são minhas. Apenas destaco o que de mais incrível foi dito pelas autoridades máximas da área na Bahia, de passagem por Feira de Santana, em entrevistas nesta semana que acaba hoje. Pelo conteúdo de suas declarações, é de se imaginar que nossas autoridades estejam atordoadas com a escalada de violência que os pegou de surpresa.
a) Sobram policiais em Feira de Santana. Feira tem policiais demais, pelo que declarou o secretário de Segurança Pública, general Edson de Sá Rocha. Veja, palavra por palavra, o que ele disse em entrevista coletiva a emissoras de rádio: Isso eu já detectei há muito tempo e estamos trabalhando em cima de fazer uma distribuição mais eqüitativa. O problema é que eu vou tirar policiamento de Feira de Santana agora? Agora não tem condições de tirar. Então nós temos que formar mais policiais, e isso é uma determinação do governador para poder buscar o equilíbrio sem desfazer a estrutura que está aí montada. Ou seja, se não fosse o momento de intranqüilidade que se vive neste 2006, já poderíamos ter despachado parte do efetivo que atua aqui para outras cidades que não têm a sorte de contar com um poderoso aparato policial, como a nossa.
b) Falta de viatura ou gasolina é relativo. Pouco depois de admitir que há 20 anos o patrulhamento militar em Feira começava o dia com 40 viaturas e hoje, com o dobro de população são apenas 10 viaturas, o general irritou-se com a pergunta de um repórter sobre a carência de recursos materiais, e, antes de encerrar a entrevista, filosofou: O pouco é uma questão de subjetividade. Pode ser pouco para o senhor, muito para mim e nada para outro.
c) Uma delegacia não precisa de telefone, disse o delegado Edmilson Nunes, chefe da Polícia Civil no estado em visita a Feira de Santana, também em coletiva. Falando sobre a Delegacia de combate ao roubo de cargas, que tem meses na cidade mas não possui telefone, o delegado afirmou que bastam celulares na mão dos policiais. Obviamente o número do telefone destes policiais não pode ser divulgado publicamente. Obviamente também a vítima deste tipo de crime em geral é caminhoneiro, que não conhece a cidade, nem sequer sabe se existe uma delegacia especializada. Este cidadão, que ficou a pé, terá que dar um jeito de encontrar a delegacia. Se a empresa dona da carga, que está em outro estado, quiser falar com a delegacia, vai ficar difícil. Mas nada que um pouco de boa vontade e resignação não possam resolver.
d) A população deve colaborar com a polícia, fazendo denúncias. Essa idéia, sem dúvida, entra em contradição com a anterior. Mas foi outra contribuição do delegado na mesma entrevista. Para que se façam essas denúncias, o delegado sugere um interurbano para Salvador, para 71-3235-0000. Não é gratuito, porque segundo a secretaria de Segurança Pública, 85% das ligações estavam sendo trotes.
e) Os bandidos não colaboram. Não tem compreensão. Explicando que não era fácil colocar delegacias nos bairros mais populosos de Feira, Edmilson Nunes listou uma série de dificuldades burocráticas. “Não é da noite para o dia que podemos instalar uma unidade policial. Você tem que fazer um concurso para novos delegados, para novos agentes, para novos escrivões de polícia. Adquirir armas, munição, e... e... e... viaturas. E tudo isso tem que estar dentro do orçamento. Não pode fazer simplesmente a nomeação de um policial e aquele valor respectivo ao seu salário não estar dentro do orçamento daquele ano. Tanto que há uma previsão orçamentária para o ano de 2007, para novos concursos públicos na área de segurança pública, para que aí a gente possa agregar novos policiais na perspectiva de crescimento da instituição e mais qualidade nestas investigações”. A bandidagem, que é malvada e joga sujo, não respeita as dificuldades nem o calendário do nosso esforçado estado. Aproveitou-se e se danou a agir antes da execução orçamentária de 2007.

Publicado na Tribuna Feirense em 12/08/06

6.8.06

Candidatos que não têm nada a dizer

Eu ouvi mal ou surgiu no meio de tantas mudanças propostas para a propaganda eleitoral a idéia de proibir carro de som? Devo ter ouvido mal, porque as nossas ruas estão infestadas deles. Que bom se tivesse sido aprovada tal proibição! Quanto é insuportável ter que agüentar o dia inteiro rodar o carro de som anunciando o nome de um político que passou quatro anos desaparecido. De repente lá está seu nome, subindo e descendo a rua em alto volume e ficamos sabendo por um locutor, que ele trava uma batalha incessante por nós, em Salvador ou em Brasília. Deve ser por isso, por ele ter estado tão ocupado, que passamos os últimos quatro anos sem nem saber se estava vivo ou morto, pois nada disse e até a imprensa tem dificuldade de encontrá-lo. Deve ser por isso que não teve tempo nem de gravar uma mensagem de saudação aos eleitores para rodar no bendito carro de som.
Ou talvez tenha estado desaparecido ou nunca o vejamos se manifestar porque ele não tem mesmo o que dizer. A forma como as campanhas da maioria (ou quase a totalidade) dos candidatos é feita, demonstra isso.
No papel, onde os candidatos poderiam dizer o que pensam e se comprometer com algumas propostas, limitam-se a distribuir santinhos. No máximo, se encontra um calendário no verso. Olhamos para a carinha deles ali, emoldurada pelo nome e número. Só consta o nome do partido porque a lei tornou obrigatório. Quem é ele? O que propõe sobre os assuntos que preocupam o eleitor? Quem sabe? Será que tem mesmo uma proposta?
Como a campanha não se dá por idéias nem projetos, restam dois meios: a compra de votos e a lavagem cerebral. É preciso decorar o número. O nome não, o número. Decorar o número está acima de tudo. Nem importa muito saber quem é o dono do número. Se o eleitor associar demais o nome do candidato ao número, pode até ser que num momento de lucidez, no dia da eleição, se dê conta de que está votando num candidato que ele não sabe quem é e nem o que pensa. Não, o eleitor não vota em um nome, nem em um homem, nem em um conjunto de idéias. Ele vota num número.
Então, é carro de som o dia inteiro, o eleitor tem que dormir e acordar com aquele número na cabeça.
Para ajudar a fixar, nada melhor do que uma musiquinha. Olhando a letra delas, nota-se que qualquer uma serve para qualquer candidato. Não há nada de específico. Parece que os compositores de jingles têm um estoque na prateleira, esperando um interessado bater na porta:
– O que é que você tem aí? – quer saber o candidato.
– Olha, as músicas todas falam que o senhor é trabalhador, honesto e competente. Que vai lutar pela saúde, educação e mais emprego. Só muda o ritmo. Olha esse aqui – sugere o “artista”.
– Não, tá muito desanimado – decreta o candidato.
– E esse outro, em ritmo de forró?
– Não, o São João já passou.
– Então, eu vou lhe mostrar o melhor de todos. Tem vários candidatos interessados nele. Eu vou vender a quem der o melhor preço.
Depois de ouvir, o candidato concorda entusiasmado: - Ah, esse é o melhor mesmo. Eu pago.
– À vista, por favor – garante-se o compositor.

Publicado na Tribuna Feirense em 5 de agosto

De pedra a vidraça

Acostumado a cobrar e criticar, na condição de radialista, Carlos Geilson (46 anos, 28 de profissão) agora pode passar a ser cobrado e criticado. É que agora, sob a legenda do nanico PT do B – partido que tem em Feira de Santana o deputado estadual Humberto Cedraz – o radialista quer chegar à Assembléia Legislativa nas eleições de outubro.
Para isso, conta com a popularidade conquistada como radialista, mas atribui ao grupo político importância fundamental. “Estou entrando na política pelas mãos do prefeito José Ronaldo”, faz questão de enfatizar. Geilson conta com o apoio também do governador Paulo Souto (que foi radialista num passado remoto), mas mesmo assim, diz que se eleito não será mais um deputado governista para dizer amém na Assembléia.
Há mais de 20 anos – desde 1985 –Geilson está na Rádio Subaé AM, onde já passou por várias funções, ao ponto de sem querer já ter a emissora no sobrenome. “Me apresento como Carlos Geilson e as pessoas logo acrescentam: - Da Rádio Subaé?”.
Por dez anos, Geilson apresentou o programa Viva Feliz, no estilo popularesco-dona de casa. Quando a rádio perdeu Dilton Coutinho, que apresentava o Subaé Notícias e partiu para ter seu próprio programa na Rádio Sociedade, foi Geilson o escalado para enfrentar o ex-funcionário e agora concorrente, no programa jornalístico apresentado nas primeiras horas da manhã. O horário nobre do rádio aumentou a fama de Geilson e o aproximou mais dos políticos e da política, a ponto de levá-lo agora a disputar uma eleição pela primeira vez, já começando pela função de deputado estadual.

Muitos radialistas já se aventuraram na política e saindo-se mal, acabaram por prejudicar suas carreiras profissionais. O que lhe faz pensar que com você será diferente?

Eu não estou numa campanha calcado apenas em minha popularidade como radialista. Assim que fiz a opção, numa conversa com o prefeito José Ronaldo, que foi a primeira pessoa com quem discuti o assunto, e ele me deu o sinal verde, estou indo nas comunidades. Claro que o prefeito José Ronaldo tem outros candidatos. Numa cidade do porte de Feira de Santana, o prefeito tem que ter opções e não uma única via.
Em cada comunidade fazemos um palanque, onde a gente discute e se apresenta como político. Não estou calcado apenas no rádio. Tenho me cercado de lideranças, do apoio de vereadores e suplentes e de candidatos a vereador, presidentes de creche e associações de bairro.
Esse grupo me dá o suporte. Junto com o voto de opinião de quem me ouve há muitos anos no rádio, pela avaliação que fazemos bairro a bairro, vemos que o nosso nome surge como um nome de densidade eleitoral, que tem visibilidade. O voto de opinião, por meio do rádio, é importante mas não elege. É necessário o trabalho político de grupo, junto às lideranças.

Por que alguns profissionais não conseguem transformar popularidade em voto?

O rádio é importantíssimo, para popularizar. Mas não resulta em voto, tem que ser feito o trabalho. Tem que chegar na comunidade, conversar, a comunidade tem que lhe tocar. E não ficar simplesmente no rádio levando propostas, sem estar com o povo. O político tem que ir ao encontro do povo. O nome sozinho não elege ninguém.

O que pesou mais em sua decisão de candidatar-se?

Tinha recebido convites antes para me candidatar. Mas não me achava amadurecido, preparado intelectualmente, emocionalmente. Vou completar 30 anos de rádio. Acho que até pelo meu espírito irrequieto, estou sempre tentando algo mais na vida. Já não me contentava simplesmente em ser o radialista disk-joquei, quis ser professor (Geilson é formado em Letras pela UEFS e já deu aulas de literatura, o que hoje faz apenas ocasionalmente, a convite), quis ser jornalista. E agora político. Faz parte do meu espírito de vida, de ser uma pessoa que busca enfrentar os desafios. Quando se levantou a possibilidade de eu ser candidato houve quem dissesse “é um maluco, não vai pra canto nenhum”. Muitos que diziam isso hoje já reconhecem “realmente ele vai ter muito voto”.

Sua ligação maior com Ronaldo e Souto lhe afasta do senador ACM?

Política é grupo. Você não pode contentar grupo A, B e C. Você pode ter simpatia pela amplitude dos grupos que estão num projeto político. Mas todo mundo sabe que em qualquer partido tem político mais ligado a A, B ou C, o que é natural. Eu não diria que isso afasta. Mas estou mais vinculado ao grupo do governador Paulo Souto e do prefeito José Ronaldo. Não que eu tenha definido “eu sou do grupo de Paulo Souto”. É a própria ligação de amizade que define isso. Não fiz a opção de não ser ligado a ACM e ser ligado a Paulo Souto. É uma coisa que acontece espontaneamente, sem que eu declare. As pessoas observam. Se o senador Antonio Carlos Magalhães tem outros candidatos, é obvio que Paulo Souto também tem outras opções. Essas opções são várias, não apenas o meu nome. Como ACM tem várias opções também, de pessoas que recebem o seu trabalho político mais determinado. Agora lógico que o senador sabe que é uma família só, com suas divisões.

Que idéias pretende defender na Assembléia?

Eu estou muito vinculado ao trabalho associativo, comunitário. Vou levar adiante a bandeira do funcionário público e por isso tenho apoios bem definidos na Polícia Militar e na classe dos professores. Temos apoio de vários médicos e estamos com o compromisso de defender uma saúde de qualidade. Quero ser um representante da classe, da categoria dos radialistas, temos algumas idéias sobre este setor. Tenho ligação com o homem do campo, pois vim da roça e estou ligado ao homem do campo.

Deputado governista não diverge, não propõe. Só diz amém. Você tem o hábito de contestar, pela profissão. Como vai conciliar isso, se seu grupo estiver no poder?

Se Deus me der a graça da eleição, quem votar em mim vai saber que não serei mais um para dizer amém. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa de posições bem claras e definidas. Tenho uma relação de amizade com o prefeito José Ronaldo, que todo mundo sabe. E nem por isso no programa se deixa de criticar o prefeito, o governador. Posso lhe dar um exemplo. Recentemente esteve no programa o jornalista Edson Borges (do jornal A Tarde) com uma matéria onde criticava duramente a Coelba. A empresa é nossa parceira comercial de muitos anos. Nem por isso a matéria deixou de ser veiculada. Por aí você vê. Eu sou extremamente fiel aos meus amigos. Não os abandono nas dificuldades. Mas isso não me faz ser subserviente. Nunca fui e nunca serei.

Eu também quero lhe citar um exemplo: em março, numa paralisação de professores por um dia, Eduardo Miranda entrou no ar criticando os salários pagos na Bahia. Em seguida você emendou um discurso em defesa dos professores, mas estendendo o problema para todo o Brasil, tirando o foco do estado da Bahia. É um exemplo de como a situação política condiciona a postura do comunicador?

Não. Eu faria isso, até por uma questão de consciência. Você acha que essa questão é só local? Se estivesse no meu lugar não faria um adendo, dizendo que isso não acontece só na Bahia, mas em todo o Brasil? Você não teria esse discernimento e essa visão além do problema regional?

Se uma autoridade atende a um pedido seu fortalece seu nome. Em caso de recusa, pelo fato de você ser candidato, você não acabaria enfraquecido como comunicador?

Graças a Deus tudo que temos reivindicado tem sido atendido. Então não posso reclamar. Isso tem me fortalecido, inegavelmente, e tem motivado ciúmes de outros políticos.

De que forma?

Eu prefiro não falar, porque na verdade sempre fiz pedidos no rádio para resolver os problemas e não vou parar. Só que antes ninguém se aborrecia e agora se aborrece, reclama com esse ou aquele secretário: “Pô, tudo que Carlos Geilson pede, você atende!” Mas o secretário sabe e o prefeito também, que isso não é de agora. Eu só estou continuando o meu trabalho no rádio. Não mudou nada. O que mudou foi fora da rádio.

Antes você era um repórter. Agora um candidato. O ouvinte não desconfia da sua isenção?

O ouvinte continua tendo o mesmo espaço que sempre teve. De me contestar, me apoiar, reivindicar, dizer o que pensa e sente. Continua do mesmo jeito. Eu sou um político que tem o respeito da esquerda. No meu programa falam Colbert, José Neto, as vezes divergimos, às vezes convergimos. O programa não mudou. A atuação política é fora do rádio. No rádio, sou um profissional da comunicação.

E os políticos, mudaram o tratamento, agora que você é concorrente?

Sem dúvida que alterou com alguns. Eu continuo na mesma. Não tenho ciúme de nenhum. O ciúme existe, mas garanto que não é da minha parte.

Você acha que os deputados feirenses fizeram o suficiente pela cidade?

Quem vai julgar é o povo de Feira de Santana.

Mas você é radialista e faz esses julgamentos o tempo todo...

Qualquer julgamento que eu fizer agora soa como julgamento político. Não vão levar para o campo do jornalista. Qualquer avaliação que eu faça, vai ficar implícito, ou explícito, para alguns, que estou opinando como político e não como um homem qualquer da comunidade.

PARECE FÁCIL, MAS NÃO É

Apesar da indiscutível vantagem que falar no ar todos os dias dá a um candidato, a história mostra que vida de radialista político em Feira de Santana não tem sido nada fácil. Até hoje nenhum conseguiu ser deputado, como almeja Geilson.
O jornalista Adilson Simas lista os que se candidataram sem sucesso à Câmara Municipal: Silverio Silva, Agnaldo Santos, José Silva, Francisco José, Antonio Sotero e Leguelé.
Adilson lembra que mesmo Chico Caipira, muito popular e muito bem votado quando se elegeu vereador em 1982, fracassou como candidato a deputado em 1986 e acabou não conseguindo a reeleição como vereador em 88. Neste ano, elegeu-se Roberto Rubens para a Câmara, mas também não conseguiu a reeleição.
Parece que fez certo o primeiro radialista que conseguiu se eleger, Dourival Oliveira, vereador no distante 1954. “Não se candidatou à reeleição”, conta Adilson.

22.7.06

Estilo PCC chega a Feira

Como é notório a qualquer um que não esteja no mundo da lua, o PCC, organização criminosa paulista, adotou a tática de aterrorizar a população, para mostrar que ninguém pode mexer com eles, que ninguém pode contrariá-los. Os ataques começaram direcionados exclusivamente a policiais ou no máximo bombeiros, em maio. Agora em julho, voltaram-se a princípio contra agentes penitenciários, mas acabaram atingindo diversos tipos de estabelecimentos comerciais, vigilantes civis, funcionários aposentados da segurança pública, transporte coletivo e enfim, qualquer um que lhes atravessasse o caminho, incluindo uma mãe e seu bebê.
A tática da intimidação contra quem contraria interesses criminosos não é novidade nenhuma. A diferença do que aconteceu em São Paulo é que ela foi transformada em banalidade e aí é que mora o perigo.
Não é problema dos paulistas. É problema de todos nós, porque o exemplo se espalha e se espalha depressa. Aqui em Feira, acordamos ontem sabendo que um morador de um bairro central (Brasília), teve o carro atingido na garagem de casa, por pedradas que danificaram a lataria e quebraram vidros. E foi atingido aparentemente pelo acaso de ser vizinho de uma pessoa que atua na fiscalização a veículos que fazem transporte irregular na cidade. Pessoa que nem sequer é fiscal, mas dirige carro no qual o fiscal se locomove. E que não estava com o carro na garagem porque o carro está na oficina, vítima de uma ação idêntica, ocorrida também na garagem de casa. O carro do motorista do fiscal não estava, então sobrou para o carro do vizinho.
Não é caso para deixar para lá, para ser esquecido em meio a incontáveis ocorrências policiais. É um precedente sério, que precisa ser investigado pela polícia e punido pela justiça.
Se de fato por trás desta ação estão praticantes de transporte clandestino, é um péssimo sinal. Sinal de não temem nem a prefeitura, nem a polícia militar, nem o Ministério Público, que ordenou há poucos dias um combate à clandestinidade. E, por conseguinte, não temem também a Justiça, onde inevitavelmente irão desaguar eventuais processos.
Tanto mais séria é a situação por existirem policiais atuando nesta atividade clandestina, como já denunciado publicamente por representantes do setor (e comentado na surdina por motoristas do transporte “alternativo”). É perversa a condição de um PM, que tem um trabalho árduo e um salário baixo, sendo por lei proibido de exercer outras funções para complementar renda. Por isso entende-se e tolera-se o exercício de atividades diversas pelos policiais. Mas uma clandestina é impossível aceitar.
Uma impressão de desordem na segurança pública já foi inevitavelmente transmitida pelos acontecimentos dos últimos dias, que tiveram um PM espancado por colegas dentro do batalhão, atentado a bala contra a casa de outro, acusações, ofensas e xingamentos em entrevistas, dossiês de parte a parte e chefia de Polícia Civil recorrendo ao Ministério Público para providências no Batalhão da PM. Tudo isso não ocorreu de uma hora para outra, sem motivo. É o transbordamento de uma fervura que vem de longe e já não podia mais ficar encoberta.
Neste clima, que no mínimo se pode chamar de bagunça, corremos o risco da marginalidade se sentir mais à vontade para agir do que já está. O apedrejamento do carro do vizinho do motorista do fiscal é um sinal disso.

Publicado na Tribuna Feirense em 22 de julho de 2006

17.7.06

Clailton com Pimenta

O Judiciário é uma das mais importantes instituições humanas. É indispensável para a existência da sociedade que em qualquer conflito de interesses, exista uma maneira harmoniosa de definir uma questão, cada lado apresentando seus argumentos e acatando a decisão que vier do juiz.
No entanto, entre nós, a chamada Justiça está deixando de ser o amparo dos verdadeiramente injustiçados e o terror dos malfeitores. Tornou-se antes, o álibi dos infratores.
Ainda se encontra, entre a gente mais simples, aqueles que tremem só de ouvir falar em Justiça. Mas os que sabem manejar as armas e armadilhas dos processos, têm tanto medo desta Justiça quanto os caloteiros profissionais têm do SPC. Para estes, a Justiça, ao invés de veneno, é antídoto, pois ao ser pego com a mão na massa, aceitam pacientemente o processo, sabendo que ao final dele, não haverá condenação, ainda que haja provas. E sem condenação, o réu ressurgirá vingado, alardeando: “nada ficou provado e fui inocentado”.
Assim fez o milionário político Orestes Quércia, agora todo assanhado para ser candidato em São Paulo, disputado pelo PT e pelo PSDB, os partidos que antes o carimbaram como corrupto. Assim faz Paulo Maluf, ainda mais desinformado e esquecido do que Lula, pois nem de suas contas bancárias milionárias no exterior, ele sabe ou se lembra.
Em Feira de Santana, não estamos mais sem nosso próprio exemplo de inocência afiançada pela Justiça. Depois de anos, pilhas de processos, documentos, depoimentos, reportagens esclarecedoras estarrecedoras e falsas ameaças de adversários políticos, o ex-prefeito Clailton Mascarenhas foi considerado um injustiçado pelo deputado estadual Tarcízio Pimenta, que com total despudor, anunciou o apoio do investigado à sua candidatura para reeleição na Assembléia Legislativa.
Baseando-se no fato de que na prática nada aconteceu com Clailton em termos de punição, Tarcízio sentiu-se à vontade para considerá-lo vítima e não criminoso.
Faz sentido. Como não ocorre punição, quem vai dizer que o réu é culpado? Na época dos fatos, as provas podem ser fartas e consistentes, de tal maneira que todos se convencem do mal feito e não há muito como negar. Porém, passado o tempo, quem vai se lembrar de tudo que passou? Além do mais, há muitos que nem eram eleitores quando tudo aconteceu. Teria que valer a sentença proferida. Sem sentença, nada feito.
Sorte de Clailton que escapou. Sorte de Tarcízio que pode se aliar a ele sem ser muito recriminado. Provavelmente nem seu tutor eleitoral, o senador ACM, o recrimina, apesar de, nas eleições de 2000, no auge da desmoralização de Clailton, ter prometido, como é de seu feitio, uma faxina moral em Feira de Santana, após a ascensão do PFL ao poder.

Publicado na Tribuna Feirense em 15/07/06

16.6.06

A reinvenção da escrita

Não escrevo sobre Copa do Mundo, porque não tenho nada de novo a dizer sobre o onipresente assunto sobre o qual já se debruçam tantos jornalistas que não haverá leitores/telespectadores para tanto que se produz. Mas falo de um texto do blog do Juca Kfouri, dos mais afamados jornalistas esportivos do país, que se mostrava dividido entre o espanto e a satisfação de publicar suas palavras para o mundo todo na internet, por meio de uma rede sem fio, enquanto se deslocava de trem a 250 km, entre uma cidade e outra. É batucar no PC, reler, resolver se está OK e clic: publicar.
Agora o texto viaja pelo ar, invisível, como já faziam os sinais de rádio e TV. A escrita, a pioneira das formas de imprensa, adquire o caráter instantâneo que era exclusividade destas outras mídias.
Publicar suas próprias impressões, opiniões e informações está praticamente ao alcance de qualquer um. Podem-se escrever e divulgar sandices, mentiras, leviandades ou verdades, mas não se pode proibir ninguém de se manifestar. O público mais que nunca é o juiz supremo, decidindo o que ler e no que crer. Não temos ainda a dimensão exata do impacto disso, mas pode-se dizer que é uma revolução.
Penso quanto ao longo da história a palavra escrita já foi motivo de perseguição. Quanta gente já se arriscou e morreu, por carregar livros e textos que os donos do poder não queriam que circulassem. Quantas fogueiras acendidas pela igreja, pelos nazistas, pelos comunistas, pelos ditadores, pelos falsos moralistas.
Penso nas bíblias nos países do leste europeu, desfolhadas página por página quando o cristianismo era proibido, para que assim fossem trocadas entre os crentes clandestinos, em volumes fáceis de serem escondidos ou destruídos sem deixar rastros, em caso de serem seus detentores surpreendidos pela polícia.
Ou nas bibliotecas enterradas no quintal nos tempos da nossa infeliz ditadura militar, por conterem obras marxistas cujos donos nem mesmo compartilhavam daquela visão de mundo, mas queriam ler, entender, informar-se, fazer seu julgamento sem precisar que outros pensassem por eles.
Com a internet, blogs, etc, tudo ficou mais difícil para a repressão. É certo que nos países islâmicos e na China, os governos lutam sofregamente para impedir o acesso a páginas que consideram subversivas. Blogueiros independentes já foram e continuarão a ser presos. Mas o trabalho de repressão torna-se cada vez mais difícil, bem como fica quase impossível vetar o acesso das pessoas à informação, de posse da qual cada um terá melhores condições de decidir em que acreditar, visto que a verdade, para o bem e para o mal, não é algo concreto e imutável, pois cada um tem a sua (tem muita gente que acha Hitler um cara legal e pouco se pode fazer para convencê-los do contrário).
Um dos melhores aspectos de tudo isto é a revalorização da palavra escrita, tão pouco prestigiada nestes tempos em que domina o show televisivo. A palavra escrita é tão importante que se considera que a história da humanidade começou a partir do momento em que a escrita foi criada. Tudo que veio antes é pré-história.
A lamentar, principalmente o fato de que, se a barreira do veículo de comunicação foi quebrada (pois você pode publicar seu blog num servidor em qualquer lugar do mundo, inacessível aos censores), falta vencer outro fator muito mais limitador: o analfabetismo, que impede a leitura ou a compreensão e ainda assola a maior parte de nossa sociedade brasileira e é especialmente forte no Nordeste.

Publicado na Tribuna Feirense em 17/06/06

12.6.06

Corruptos e corruptores

Nem os próprios políticos podem negar que grande parte deles são corruptos. Porém são ainda uma outra coisa: corruptores. Isso porque pagam indivíduos de alguma forma, para obter seus votos.
Para que haja corruptores, é preciso haver corruptos. E neste caso, o corrupto deixa de ser o político para ser o eleitor que vende seu voto.
Alguns políticos me disseram ultimamente que mesmo não querendo, fica quase impossível fazer política e conquistar eleitores sem oferecer favores ou sem atender solicitações diversas, que incluem não apenas o manjado pedido de emprego mas também coisas como vagas em escolas públicas da preferência do pedinte.
O eleitor mais pobre se vende por 10 reais, um saco de cimento, um tanto de entulho. Mas o mais endinheirado também quer um perdão de IPTU, de uma multa de trânsito, uma concessão aqui e outra ali e vão todos buscando seu bocado.
Um dos políticos que se queixou disso a mim disse que não iria mais se candidatar, porque no domicílio eleitoral dele, uma pequena cidade, todos de alguma forma se corrompiam e era impossível ganhar votos pregando idéias.
Tudo isso não é novidade nenhuma e todos que tenham um mínimo de contato com este sistema concordam que é verdade. Quase todos hão de concordar também que está errado. Mas como modificar? Como quebrar este círculo vicioso? É possível fazê-lo?
Extinguir totalmente não é possível. Sempre haverá algum tipo de troca de favores por votos, assim como tem gente que vota num candidato por considera-lo bonito ou com cara de bom menino.
O problema é que essa escolha pouco criteriosa se acentua pela desigualdade social que é muito grande. A grande massa do eleitorado pobre não vê perspectiva de ascensão alguma na vida e acha que só pode ter alguma coisa se o poderoso de cima der.
Isso se expressa até na forma como as pessoas se auto-definem, dizendo “Eu sou fraco” e, apontando para um grupo de deputados e secretários, define: “Ali são os homens fortes da Feira de Santana”.
Evidente que o progresso coletivo e a diminuição das diferenças abissais de renda fariam o problema se atenuar. Ocorre que para o desenvolvimento e a distribuição de renda, a participação do poder público é fundamental.
A educação seria o grande promotor do desenvolvimento, mas a nossa é péssima. O poder público é controlado por gente que não dá a mínima para o problema, até porque em sua maioria também não tem educação. Tanto China quanto Índia, a despeito de terem uma legião de centenas de milhões de miseráveis num contingente populacional superior ao bilhão de pessoas, alicerçaram seu crescimento na educação qualificada de suas elites no exterior (basicamente Estados Unidos e Inglaterra). Com um batalhão de gente altamente qualificada, o desenvolvimento foi inevitável e acabou por beneficiar milhões de pessoas que viviam na miséria, mas que vão aos poucos melhorando de vida.
Mas nem com isso podemos contar. Entre nós, o progresso não se baseia no mérito nem na inteligência, mas na esperteza, aquela esperteza burra, que se vangloria de ser inteligente, parente próxima do “jeitinho brasileiro”.

Sai da sala, meu filho! Vai começar o jornal

Se ainda estivéssemos no tempo em que os pais davam ordens e os filhos obedeciam imediatamente, não haveria telespectadores mirins na hora em que a TV começa a mostrar as notícias do Brasil.
Nos idos de antigamente, quando Roberto Jefferson ainda não tinha levantado a tampa do bueiro, pessoas sinceras e falsos moralistas apontavam as novelas como as grandes professoras de mau comportamento para a criançada. Agora as ruindades de folhetim estão perdendo feio para a realidade.
E os meninos aprendem que no nosso país quem está podendo é o cínico, o mentiroso, o debochado, o que não estudou porque não quis, o que mata mais e outros tipos vulgares.
Ontem mesmo (25/05), uns deputados em Brasília se disseram ofendidos e fingiram que prenderam um advogado que disse ter aprendido com eles, deputados, a malandragem.
Quem há de negar que o advogado tem razão? De qualquer modo, ele não ficará preso. Nem o técnico de som que lhe vendeu por 200 dinheiros a gravação que ajudou a detonar a onda de violência em São Paulo, na qual policiais que só se diferenciam dos bandidos pelo uso da farda, aproveitaram para executar gente que cometeu o crime de ser pobre e morar na periferia sem Estado e sem lei.
Como prender o advogado e o técnico de som se Marcos Valério está solto, Delúbio está solto, Jeferson está solto, Dirceu está solto, Marcola dá as cartas e Lula está quase reeleito? Se quase todo deputado corrupto é absolvido e a Câmara e o Senado já desistiram até de investigar os envolvidos no escândalo das ambulâncias superfaturadas?
Não há como negar. Os últimos 13 meses no Brasil estão ensinando que o crime compensa e que o aborrecimento passageiro que provoca é muito inferior às benesses que oferece (pense por exemplo no Duda Mendonça).
Os ladrões do cofre do Banco Central em Fortaleza, que fizeram o maior assalto a banco da nossa história, tiveram muito mais trabalho e correram muito mais risco do que esse pessoal.
A gente considera que foi um plano engenhoso escavar um túnel por baixo do quarteirão, porém muito mais engenhosos são os políticos, que fazem o dinheiro correr direto para o bolso deles, depositado em conta ou transportado em meias, cuecas, malas e só a dona Mary Corner sabe (mas não fala) aonde mais.
Por fim, os larápios de Fortaleza foram muito desunidos e alguns acabaram caindo pelo caminho, presos ou mortos por colegas. Bem diferentes da turma do colarinho branco onde um acoberta o outro.

13.5.06

Tem deputado demais

Logo poderá aparecer algum intérprete a me acusar de golpista. Mas é exatamente o contrário. Por amar a democracia que, como muitos outros brasileiros, eu gostaria de vê-la funcionando melhor. E uma maneira de azeitá-la seria dar uma boa enxugada na Câmara de Deputados.
Quanto mais deputados, mais gastos. Mais roubo. Mais máfia da ambulância. Mais assessores. Mais verbas. Mais notas falsas de gasolina. Mais apartamentos funcionais.
Uns 200 deputados a menos, talvez ficasse bom. Porém, ao invés disso, eles pensam em aumentar. Não apenas o número de vereadores nos municípios, mas também o número de deputados. Uma reforma para tornar o sistema melhor teria que incluir parlamentarismo e a instituição de uma única casa legislativa. Deputados somente, com o fim do Senado.
O sistema está podre e os anos de 2005 e 2006 só fazem confirmar isso a cada dia que passa. Num único esquema de corrupção (o das ambulâncias), um terço dos deputados estão implicados. Imagine-se quantos sobrariam limpos se fossem desvendados todos os esquemas de desvio de dinheiro público. E é por isso que não temos dinheiro para melhorar educação, saúde, estradas, transporte de massas e tudo o mais.
Além de corrupção, a ineficiência é imensa. Se encontrar o consenso é difícil num grupo pequeno reunido em volta de uma mesa, o que dizer de 513 deputados? Por isso, projetos da mais alta importância tramitam durante anos a fio, como foi o caso do Código Civil e está sendo no momento de muitos outros, que não conseguem entrar na pauta de votação.
É claro que tão somente isso não seria solução para o mau funcionamento da máquina pública. A vantagem é que seria um bom começo para mostrar ao país como cortar gastos públicos desnecessários melhora o conjunto. Ninguém iria chorar por 200 deputados que deixariam de ter cadeiras no Congresso. Nem pelos senadores, esta instância descabida de poder, onde cada estado da Federação possui três assentos, independente de sua população ou peso econômico.
É certo que cada país tem que encontrar o próprio caminho, que não existem modelos infalíveis, que não se pode comparar o processo legislativo do Brasil com a Inglaterra, onde o absolutismo acabou no século XVII e o primeiro ministro tem que enfrentar os debates no parlamento cara a cara com os deputados, ao alcance de um braço, enquanto no Brasil das capitanias hereditárias os “membros da Mesa”, em Brasília como em Feira ou em Chorrochó, ficam num pedestal, destacados de seus colegas.
Se concede-se ao Brasil o direito de encontrar seu próprio caminho, não se concede o direito de esperar mais. O Brasil já passou há muito tempo da hora. O brasileiro é candidato ao troféu de povo mais paciente do planeta. Mas independente da nossa passividade, a história e a economia nos atropelam, como atropelaram a Argentina, que já foi um dos países mais ricos em termos de renda per capita. O que acabou com a Argentina foi a corrupção e a má gestão do Estado. Quanto a nós, todo país hoje cresce mais que o Brasil e vamos ficando para trás. E o maior responsável por crescer ou estagnar é o Estado, que entre nós tem sido eficiente apenas para dar boa vida à corte de Brasília e seus feudos regionais, enquanto o resto trabalha para sustentar aqueles “nobres”.

Publicado na Tribuna Feirense em 13/05/06

5.5.06

Desprivatização ainda que tarde

É certo que Evo Morales está aí nos assombrando com os prejuízos que pode causar ao Brasil com a estatização dos recursos naturais bolivianos e a hora não é boa para defender estatização (a bem da verdade, tem mais de 15 anos que se proclama que só a privatização pode nos levar ao paraíso). Mas a frase do prefeito José Ronaldo, ao declarar que assina com “o coração partido” o aumento dos ônibus, pois se não aumentar as empresas vão à falência, me faz retornar ao inconformismo que há muito tenho em relação ao tema: o transporte coletivo é um serviço essencial, como saúde e educação. Deveria, se vivêssemos de acordo com a lógica, ser proporcionado pelo Estado ao menor custo possível e não servir para dar lucros vultosos à iniciativa privada às custas do sacrifício da população.
As empresas privadas de ônibus, Brasil afora, vivem envolvidas com denúncias de corrupção, sendo o caso mais nebuloso e grave o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Mas ninguém cogita de ser o serviço de transporte coletivo estatizado, como era em muitas cidades antigamente. Em trens e metrôs ainda se aceita a participação do Estado como proprietário, mas no transporte coletivo por meio de ônibus, neste ninguém toca. Formou-se uma aliança inquebrável entre políticos e empresários, pela qual o usuário jamais é prioridade. A percepção que a população tem, devido à má qualidade do serviço, é que embora o governo tenha o poder regulador e fiscalizador, o negócio se conduz da forma como os empresários bem querem e entendem.

Rentabilidade

Quem dera o Brasil chegasse ao menos perto da taxa de juros obtida pelo vereador Fábio Lucena. Pegou o dinheiro em junho de 2005 e devolveu em abril de 2006 pagando o mesmo valor (cerca de R$ 20 mil). Inegavelmente se configurou um empréstimo, mas com zero de juros. Foi um dos melhores negócios do período. A não ser que o dinheiro tenha ficado paradinho lá na conta. Mas isso não saberemos, porque seus colegas preferem não investigar.

Novo Fabinho?

Leio na Tribuna que Antônio Lomes decidiu deixar a política em Serrinha. Ligo o rádio em mais um programa noticioso que surgiu, desta vez ao meio dia na rádio Antares FM, de propriedade do mesmo Lomes e lá está ele, como o entrevistado que teve direito ao maior tempo no programa, a comentar sobre política nacional (a greve de fome de Garotinho, a atitude que o governo federal deve tomar em relação à Bolívia).
Estaria buscando se expor a fim de seguir o exemplo de Fernando de Fabinho, que construiu a carreira na vizinha Santa Bárbara e hoje atua fortemente em Feira? Ou será apenas alguém que gosta do microfone e resolveu utilizar o tempo livre como comentarista? O tempo dirá.

Angelo Almeida
Recebi no blog onde arquivo as colunas publicadas aqui na Tribuna, comentário do suplente de vereador Ângelo Almeida, a respeito de artigo da semana passada, em que critiquei a proposta de aumento do número de vereadores. Naturalmente, ele não concorda comigo, mas publico abaixo na íntegra sua objeção, incluindo a insinuação de que sou preguiçoso:

Prezado Glauco. Brigar para que os "sem dinheiro" possam representar as suas comunidades não é vexame. A redução de vagas elitizou as câmaras e veio cercada de farsa. Primeiro do TSE que usou dois pesos e duas medidas ( corte de vagas/quebra da verticalização). Depois pela própria imprensa, que pautou-se na economia de recursos públicos para defender a redução das vagas. Vendeu uma mercadoria e não entregou à sociedade. Você pode até estar satisfeito com a situação da Câmara de Feira, afinal sem o bom debate, com menos vereadores, trabalha-se menos também. Tenho certeza que o povo da minha terra, quer mais representantes, mais debate, mais fiscalização, mais representatividade. É por isto que luto!! Quanto à qualidade dos mandatos, cabe dizer que não devemos mascarar, a nossa democracia é jovem, precisa ser tratada com carinho, por todos, inclusive pela imprensa, que ajudou a concebê-la. Ajudou, não conquistou sozinha, fomos nós, todos nós que a conquistamos. Saudações democráticas. Angelo Almeida

Publicado na Tribuna Feirense em 05/05/2006

30.4.06

A História de todo dia

Embora a imprensa tenha subido no conceito da opinião pública ultimamente (segundo as pesquisas), tem muita gente que duvida do que é publicado. Esta gente, reconheça-se, tem motivos para fazê-lo, porque notícias podem conter erros, bem como podem ser influenciadas pela ótica de quem escreve, pelo interesse de quem deu a informação, por pressões políticas, econômicas, por um monte de coisas, inclusive pelo fato de que jornalistas não são, como alguns se acham, deuses infalíveis.
Mas notícias impressas são registros históricos de qualquer modo, que transcendem em muito a importância da edição de cada dia. São documentos. Tem um monte de certidão de nascimento por aí forjada em cartório e nem por isso deixa de valer. Vale o que está escrito, ensina, sem querer, o jogo do bicho.
Neste nosso país de maioria analfabeta, poucas cidades que não sejam capitais, têm o privilégio de possuir parte significativa de sua história registrada nas páginas de periódicos. Feira de Santana tem este privilégio. Diversos foram os jornais que circularam ao longo do tempo, como atesta semanalmente a coluna do arqueólogo das notícias, Adilson Simas.
O problema é que além do Adilson, poucas são as pessoas que podem consultar estas fontes. E quem pode, só pode da maneira tradicional e morosa: folheando, coisa que está ficando impensável nestes tempos modernos de bancos de dados e respostas instantâneas para pesquisas em textos.
Os jornais que contam o dia a dia de Feira de Santana são um patrimônio histórico que, mais do que os prédios, precisa ser salvo e colocado à disposição da população, para consultas nas bibliotecas e no mundo todo, via internet.
Feira abriga a quase centenária Folha do Norte. Teve durante muitos anos a presença do Feira Hoje, registrando diariamente os fatos. E vários outros menos cotados. Nada disso está devidamente arquivado, apesar do inestimável valor histórico. Creio que nem mesmo a Tribuna Feirense e a Folha do Estado, embora mais recentes, possuem o próprio conteúdo arquivado em meio digital.
Ao contrário da restauração de imóveis (também inquestionavelmente necessária, claro), a digitalização deste conteúdo, embora possa ser um serviço demorado, não consumirá tantos recursos e terá alcance maior. É tempo da nossa universidade, que tem curso de História, ou a Prefeitura, ou seja quem for, assumir esta tarefa.

Publicado na Tribuna Feirense em 28/04/06

21.4.06

É tudo uma coisa só

A absolvição de deputados mensaleiros na Câmara, a aprovação em comissão de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que multiplica o número de vereadores e a emenda de Renildo Brito para manter o pagamento por sessões extras desnecessárias, que os próprios vereadores pressionam o prefeito para convocar, são todas questões aparentemente separadas, mas que na verdade fazem parte de um mesmo cenário.
Os deputados são absolvidos pelo corporativismo de uma engrenagem que inventa o tempo todo mecanismos para se autoalimentar e reproduzir. São absolvidos porque “todo mundo faz isso (caixa 2) sistematicamente”, como diz Lula. Senão, não se elege.
Parte da lógica deste sistema é que quanto mais cargos mantidos às custas dos cofres públicos, mais gente estará na base, ajudando reeleições dos que estão em cima, na esperança de que um dia consigam manipular os recursos do esquema, para chegarem lá também.
E a ânsia de vereadores em sugarem o máximo possível dos cofres públicos tem a ver com a necessidade de manter os mecanismos de favores ao eleitorado e compras diretas ou indiretas de votos, que tornam caríssimas as campanhas (embora ao TSE eles consigam a façanha de fazer prestações de contas abaixo de R$ 2.000,00).
Elege-se quem tem o dinheiro. Então a luta é encarniçada por salários extras, convocações extraordinárias, diárias de viagens, o máximo possível de cargos distribuídos entre a família ou com terceiros que não sejam parentes, mas concordem em gentilmente ceder parte do salário mensal para o caixinha dos próprios vereadores, que precisam passar quatro anos acumulando e se preparando para a campanha seguinte.
É por isso que não adianta absolutamente nada, quando pelo desgaste de uma legislatura decepcionante, na eleição seguinte ocorre grande renovação, seja na Câmara de Vereadores ou entre deputados estaduais e federais. Pois os novos que se elegem, são filhos do mesmo mecanismo.
Infelizmente, parece que estamos longe do dia em que os nossos políticos entenderão que a sociedade não suporta mais o peso de pagar tanto imposto para alimentar um estado inchado e ineficiente que não cumpre com suas obrigações básicas, mas mesmo assim consome a maior parte dos recursos produzidos, sustentando políticos que pouco produzem e funcionários públicos privilegiados (estes concentrados quase totalmente em Brasília).
É de se lamentar a vibração com que Ângelo Almeida anuncia no rádio o apoio de mais de 470 deputados federais à PEC que aumenta vertiginosamente o número de vereadores. Quem precisa de mais cinco vereadores em Feira? E mais seis em Serrinha? 470 deputados são mais de 90% do total. Se fosse uma proposta em benefício da população não obteria um consenso tão grande.
Mas não é de estranhar que o deputado federal Fernando de Fabinho, cujas ambições incluem a prefeitura de Feira de Santana, não se acanhe de ajudar a empurrar adiante tal idéia. Pois ele sabe que o apoio de tantos vereadores gratos que podem entrar pela janela vale mais do que o pequeno desgaste junto ao eleitorado. Afinal, pouquíssima gente vai se lembrar de que ele ajudou a patrocinar este vexame.
E é por isso tudo que o Legislativo federal não quer fazer uma reforma política de verdade, em que diminua o peso do poder econômico na disputa e onde o sistema representativo seja justo. Esperar uma reforma política séria é tão inútil quanto querer que eles abaixem os próprios salários.

Publicado na Tribuna Feirense em 27/04/06

14.4.06

O problema é político

Tem razão o chefe da Vigilância Sanitária do município, Délio Barbosa, quando afirma que as reclamações de moradores acerca do mau cheiro em Humildes, provocado por uma atividade empresarial, são um problema político.
É um problema político, como é político o problema da violência, a falta de educação, o buraco, a construção de quadras de esporte, a cultura, a preservação do patrimônio, a habitação popular e o transporte de massa.
O problema é político porque afeta as pessoas e as pessoas são políticas, ainda quando analfabetas políticas.
O problema também é político por estarem vereadores, de alguma forma, envolvidos com ele, pois os moradores querem mesmo ajuda do Legislativo para resolver o impasse.
É político também porque a Vigilância Sanitária é um cargo público.
É político porque diz respeito a uma comunidade e os políticos têm que agir no interesse da coletividade e não de grupos ou amigos mais influentes.
E tanto é político o problema que José Ronaldo, como político que é, tomou a frente para dizer que vai resolver e não ficou tentando negar os fatos e olfatos, como fez Délio ao abordar o assunto no rádio, querendo convencer o ouvinte de que as manifestações dos moradores, que discursaram até na Tribuna Livre da Câmara, eram insufladas pelo vereador oposicionista Marialvo Barreto.
Pois, agindo como quem pensa, inclusive politicamente, o prefeito percebeu que se a ação em Humildes render dividendos políticos a quem reclama, há de render a quem resolve porque tem o poder e o dever de resolver.
O problema é político. Ronaldo ensinou na prática o que Délio só sabia na teoria. Que seja bom aluno e tenha aprendido.

Publicado na Tribuna Feirense em 14/11/06

8.4.06

Acessibilidade zero

Tomara que tenha muito sucesso a luta dos portadores de necessidades especiais, que sob a liderança de uma pessoa que conhece bem os direitos que o grupo tem e sabe cobrar, estão tentando fazer o Ministério Público se mexer, a fim que os locais mais inacessíveis, como ônibus, possam melhorar.
Digo que tomara que tenham sucesso não apenas por eles, mas por todos nós, que nas condições em que vive a cidade ficamos todos um pouco portadores de necessidades especiais. Como só eles se mobilizam, poderão beneficiar os demais com os ganhos que alcançarem.
E por que estamos todos em condição parecida? Porque no caso dos ônibus, por exemplo, somos todos um pouco cegos, pois os letreiros que indicam a linha, não tem qualquer padronização e alguns deles amontoam um monte de letras num espaço reduzido, de modo que você só enxerga quando o veículo já está bem perto (daí que muitos candidatos a passageiros fazem sinal, para depois se certificarem se era mesmo o ônibus que queriam, pois se não o fizerem, correm o risco ver passar direto o coletivo pelo qual já esperaram tanto).
Temos todos dificuldade de locomoção, pois alguns destes ônibus tem degraus que desafiam a capacidade dos passageiros que precisam escalar para subir e saltar para sair. São uma montanha na entrada e um precipício na descida. Complicados, principalmente para mulheres de saia, pessoas idosas ou de baixa estatura, o que é tão comum entre nós.
Mesmo se você não está numa cadeira de rodas, os obstáculos para circular a pé são muitos, numa cidade onde cada um faz sua lei e ambulantes tomam as calçadas com carrinhos de mão, barracas (onde servem até almoço em plena Marechal Deodoro), Cds e DVDs piratas (não estavam combatendo a pirataria?). Sobrou espaço? Então fica para os comerciantes exporem bicicletas, colchões, geladeiras, mesas, cadeiras, etc, etc.
Pedestre? O que é pedestre? Ah, é aquele que vai a pé e tem que desviar de tanta coisa e ainda evitar topadas nos buracos do chão de pedras portuguesas arrancadas!
Há outros invasores do passeio. Os carros, claro. Não podiam faltar nesta lista. Estes são mesmo grandes e tomam todo o espaço. Mas se estiverem em região etílica, postam-se ao lado dos donos e de seus amigos, misturam-se a mesas e cadeiras e formam uma barreira que obriga quem passa a descer para o asfalto (ou o paralelepípedo) da rua por um bom pedaço que pode chegar a 20 metros de caminhada, disputando lugar com os carros que circulam. É uma cena do cotidiano na nossa principal avenida, Getúlio Vargas.
Somos todos um tanto quanto mentalmente desorientados, pois circulamos numa cidade onde a regra é as ruas não terem placas e às vezes nem os moradores da área sabem dizer seus nomes (e depois a culpa toda do extravio ou demora na entrega de correspondências cai nas costas do carteiro).
Não somos mudos, mas é como se fôssemos, pois os que nos ouvem (?) as queixas parecem ser surdos. Vai ver perderam a audição madrugada adentro nos bares e festas de trocentos decibéis que desesperam quem tem o azar de morar perto.

Publicado na Tribuna Feirense em 07/04/06

31.3.06

Ainda o Enem

Consegui localizar uma informação que me deixava curioso desde o início da divulgação dos resultados do Enem (o material sobre o assunto é amplo e não cabe todo aqui. Você pode fazer as buscas de acordo com o próprio interesse em www.interuni.com.br/cybercampus).
A mim especificamente interessava a lista dos 100 melhores do Brasil. Nela, o feirense Colégio Helyos aparece na posição realmente honrosa de 22º colocado (nota 75,03). Na Bahia, apenas o Anglo Americano de Salvador está na frente, em 17º (nota 75,63). Em todo o Nordeste, apenas um outro aparece antes, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (9º colocado, com 77,61).
Há um colégio mineiro em oitavo, de Viçosa. Algum colégio da capital, Belo Horizonte, só vai aparecer na lista na 35ª posição. Acima do Helyos, apenas os já citados, mais uma escola de Goiás e escolas do Rio e São Paulo.
Não se trata de enaltecer o Helyos, mas de se alegrar por ver que é possível, numa cidade do interior de um estado bem mais pobre do que os do Sudeste, ter uma educação de qualidade. A nossa torcida é para que nos próximos anos, os alunos do Helyos melhorem as notas e que os demais colégios feirenses, alguns também com bom desempenho em 2005, cresçam. Melhor que isso, só a utopia de ver subirem as notas da escola pública.
As notas listadas aqui são com Correção de participação: de acordo com a Nota Técnica do MEC, o objetivo dessa correção é representar a nota média da escola caso todos os alunos matriculados nos anos finais do ensino médio tivessem realizado o exame, devido ao fato observado de que quando a participação no Enem aumenta, a posição relativa da escola tende a cair, indicando a existência de um viés de participação, qual seja: os melhores alunos tendem a participar mais do Enem.

No aguardo
Equivoca-se o colega articulista Franklin Maxado em seu texto de quarta-feira na Tribuna, quando acusa os que vêm de fora de apenas querer ganhar dinheiro, pouco se importando com a preservação do patrimônio histórico feirense. Como ele mesmo menciona no artigo, é a multinacional Pirelli quem está viabilizando a reforma do casarão dos Olhos d´água, como já viabilizou outros serviços de preservação em nossa cidade. Como já o fizeram Klabin, Belgo e outras empresas de fora.
Os poucos abnegados feirenses que tentam enfiar na cabeça dos conterrâneos a importância da preservação do patrimônio estão a esperar o dia em que empresários locais vão se dispor a ajudar também.

Deixa quieto
Se não seria correto punir o vereador Roberto Tourinho pelo que disse em discurso, sobre o fato de vereadores representarem o Sincol na Câmara, não será justo também punir Renildo Brito pela interpretação que deu às palavras do colega, ao qual acusou de ter dito que os vereadores estavam “no bolso” dos empresários. Está tudo no campo da oratória e não dá para dizer que estas falas constituem quebra de decoro ou coisa parecida.

Publicado na Tribuna Feirense em 31/03/2006

24.3.06

Investimento de risco

Os frangos podem ser uma nova fonte de renda para um grupo de 600 e poucos agricultores familiares em Feira de Santana.
Os frangos também podem causar um prejuízo milionário.
O governo municipal, em parceria com o estado e a UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) patrocinou um curso sobre manejo e produção, para 638 agricultores. Cada um terá que construir seu aviário, mas receberá do projeto 25 frangos, 40 quilos de ração e mais um comedouro e um bebedouro.
Tudo que venha no sentido de gerar renda para o homem do campo, a princípio é bom. O problema neste caso é o aparecimento de uma nova realidade, por conta da famigerada gripe do frango.
A revista quinzenal Exame (sobre economia e negócios) que está nas bancas, trata do assunto e mostra que as grandes empresas nacionais do setor estão de cabelo em pé com a inércia do governo federal. Temem que ocorra como no caso do foco de aftosa em Mato Grosso do Sul e Paraná, que foi há quatro meses e até hoje impede que o Brasil exporte carne bovina para 56 países, o que gera perdas anuais de centenas de milhões de dólares.
A posição das empresas é que a criação doméstica de galinhas simplesmente seja proibida, como ocorre na Alemanha e na Holanda (em Hong Kong, que é ditadura, quem criar frangos vai pra cadeia). O produtor caseiro, lógico, tem menos condições de adotar as medidas preventivas necessárias. No entanto, é política governamental, não somente em Feira de Santana, mas no Nordeste, estimular este tipo de criação.
É assunto para ser discutido por especialistas, mas que não pode deixar de ser discutido, pois é da mais alta importância. Exclusive os que entrarem agora para o ramo, subsidiados pela Prefeitura, a criação de frangos já é uma atividade econômica importante na região, com algumas empresas médias e milhares de agricultores.

Agora é moda

A democracia foi timidamente restaurada no Brasil no distante 1985, quando Tancredo Neves ganhou a eleição indireta para presidente e morreu, deixando o governo nas mãos do desastroso oligarca José Sarney, que até hoje não nos deixa em paz.
A democratização é um processo, que se completa mais devagar quanto menor é o nível de educação das pessoas e a consciência sobre seus direitos. Por isso, até hoje tem gente que ainda não se habituou com uma de suas facetas, que é a liberdade de expressão. E eis que, para espanto geral, mesmo na Câmara de Vereadores, uma tribuna livre por natureza, por essência, um vereador ainda quer cercear o direito de outro falar.
Refiro-me à decisão de Renildo Brito de levar Roberto Tourinho à Corregedoria da Câmara, por ter dito em pronunciamento que há vereadores que representam as empresas de transporte. Ora, em alguns casos, esta representação foi até mesmo assumida pelos representantes, e, em tese, não há nada de mal nisto.
Vereadores já enfrentaram passeatas enfurecidas de estudantes, ameaças de quebra-quebra e agressões físicas, para aprovar propostas de interesse das empresas; ou rejeitar propostas que contrariavam estes interesses. A princípio seria louvável essa bravura. Defender as convicções até a morte é um gesto heróico. O problema é que não se vê dos vereadores esta disposição em outras causas, o que naturalmente levanta suspeitas.
Tourinho não afirmou, como disse Renildo, que havia vereadores no bolso das empresas. Seria certamente ofensivo e mesmo assim, talvez não fosse o caso de resultar num processo. Se nem os vereadores, regimentalmente invioláveis em suas declarações, podem dizer abertamente o que pensam, onde é que vamos parar? Em pouco tempo, andaremos todos com esparadrapo na boca.
Ao invés de ocorrer a contestação do discurso com outro discurso e deixar as coisas no campo do debate de idéias, argumentos e contra-argumentos, apela-se logo ao tapetão.
Isso tudo, porém, está claro, é conseqüência do circo que se instalou em Brasília há um ano, que produz resultado quase nenhum, mas popularizou a instância do Conselho de Ética (similar à nossa Corregedoria), que agora está na moda.

Publicado na Tribuna Feirense em 24/03/06

18.3.06

Nada de choro

Foi motivo de debate nas páginas deste matutino o fechamento do Shopping Centro e sua possível relação com a eterna “crise”, palavra evocada para justificar qualquer percalço empresarial.
Eu adoro um debate, mas neste caso, acho que ele nem precisava ter começado, pois não dá para dizer que Feira de Santana está em crise; ou então, nada é o que parece ser.
Foi em 1994 que vim morar em Feira de Santana. Embora eu viesse da segunda maior cidade do país e tida até hoje por muitos como capital federal em alguns aspectos (especialmente pelo poder irradiador de sua cultura), Feira nunca me pareceu uma cidadezinha de interior. Sempre notei uma vitalidade, um dinamismo muito forte.
Mas naquela época, o que mais se ouvia era que a cidade estava mal, muito mal, a caminho do abismo. Eu não entendia bem porque; ou melhor, não concordava com esta visão. Admirava-me de ver tanta gente da própria cidade, a falar mal dela. A coisa chegou a tal ponto que a TV Subaé lançou a campanha Feira Faz Bem, numa iniciativa para combater o baixo astral.
Se em 1994, não havia motivo suficiente para desespero, hoje muito menos. Quem é do lugar, pelo hábito, às vezes não percebe certas mudanças. Como os pais que não percebem no dia a dia os filhos crescerem, e, quando alguém que não via os meninos há alguns meses diz “nossa, como estão grandes”, estranham.
Então penso que devo dar um testemunho para lembrar o tanto de avanços somente do tempo em que vivo aqui.
A maior empresa do mundo, Wall Mart, está instalada na cidade, como proprietária que é do Bompreço. Este por sua vez, situa-se dentro do Shopping Iguatemi, que não veio para Feira para socorrer a cidade, mas porque enxergava nela um potencial econômico grande. E tanto estava certo que anda a cada dia mais cheio e já pensa em ampliação. No mesmo shopping situa-se desde o começo a C&A, uma das maiores do setor no Brasil, também controlada por um grupo estrangeiro e mais recentemente as Lojas Americanas, que em seu segmento, se não é a maior, é uma das maiores do país. Todas empresas que só investem depois de estudar o mercado e se certificar de seu potencial.
Nos principais pontos comerciais do município, houve uma expansão de lojas grandes e médias, com fachadas atraentes e vitrines bem elaboradas, coisa que antes não se via. Novas áreas são agregadas a cada dia a um centro comercial que se expande, trazendo inclusive o efeito colateral da falta de lugar para estacionar onde há pouco tempo só existiam residências.
No setor de eletrodomésticos mesmo, lojas que já atuavam na cidade ampliaram o número de estabelecimentos (como Insinuante e Lojas Maia) e outras chegaram (como Ricardo Eletros). No setor de óticas, outras empresas também vieram de fora, buscar seu pedaço neste bolo.
Claro, as próprias lojas feirenses, como Universal, reagiram, melhoraram, diversificaram, investiram na aparência de seus pontos de venda. A área de decoração, que tinha apenas a Casanova dentro de um estilo mais sofisticado, passou a exibir uma vibrante concorrência, com várias lojas grandes e espaçosas.
Um exemplo dos mais evidentes é das Pedras Maram, que de um ponto comercial misturado com depósito no Contorno passou a um belo e bem projetado escritório comercial na Getúlio Vargas. Certamente esta é outra área em que logo nomes de expressão nacional começarão a desembarcar.
Na educação, também os empreendedores feirenses demonstraram competência, abrindo faculdades particulares que seguem em expansão. Os de fora também não ficaram alheios ao potencial deste mercado e temos agora o que se pode chamar de um pólo universitário, que espero ver crescer e se qualificar muito mais, para que a cidade encontre seu rumo e sua estabilidade definitivamente, por meio desta mão de obra mais qualificada.
E ainda o poder público, que saneado e melhor administrado, recuperou a capacidade de investimento, o que gera emprego e levanta a auto-estima da população, ao ver chegarem melhorias em ruas e bairros que viviam no esquecimento.
Outros exemplos existem, mas nem me ocorrem agora neste levantamento feito de memória nem é infinito o espaço da página, ou o tempo do leitor. Porém estas já são evidências suficientes para esperamos nunca mais ouvir aquela ladainha de que “Feira vai acabar”. Se um empreendimento fecha as portas, é lamentável. Mas as causas do fracasso devem ser buscadas dentro dele e não fora.

Publicado na Tribuna Feirense em 17/03/2006

13.3.06

Vacinação contra rotavírus

As vacinas contra o rotavírus – uma das principais causas de diarréia grave em bebês – começaram a ser aplicadas nesta segunda (13/3) nas unidades públicas de saúde de Feira de Santana. O município recebeu do Ministério da Saúde 1.665 doses.
Serão imunizadas crianças com idade a partir de um mês e 15 dias até cinco meses e sete dias. A segunda dose deve ser aplicada entre um e dois meses depois da primeira.
O rotavírus pode até causar morte. Os principais sintomas são febre, vômitos e diarréia freqüente. Um quadro que pode durar entre três e seis dias. O vírus é transmitido através de alimentos e água contaminados e também pelo contato direto com pessoas infectadas. O período de incubação é relativamente curto, de um a três dias.
A doença se manifesta com maior intensidade no inverno. A vacinação ocorre antes, para que possam criar anticorpos.

Genésio Serafim assume Secretaria de Habitação

Toma posse nesta quarta-feira no cargo de secretário de Habitação, o vereador Genésio Serafim de Lima. A Secretaria estava sendo ocupada interinamente pelo secretário de Planejamento, Carlos Brito. Na Câmara, ele foi substituído pelo advogado Magno Felzemburg, que deixou o Procon.

Pré-vestibular público é ampliado

Quem estudou em escola pública em qualquer época, pode agora fazer parte do programa Universidade para todos, o cursinho pré-vestibular do governo estadual. Até o ano passado, as vagas eram restritas a pessoas que se formaram nos últimos cinco anos.
Aumentou também o número de vagas. A Universidade Estadual de Feira de Santana vai oferecer 3.180. São 1.605 vagas a mais que em 2005, aumento superior a 100%. Em toda a Bahia o Governo do Estado disponibiliza cerca de 20 mil vagas.
A inscrição para seleção pode ser feita até 24 de março em qualquer escola da rede estadual de ensino. É necessária apresentar originais da: carteira de identidade e CPF, comprovante de residência, históricos de 5ª a 8ª série e do ensino médio e histórico do 1º e 2º ano do ensino médio para alunos, que ainda estão cursando o 3º ano. As aulas serão realizadas no período de 3 de abril a 30 de novembro, com carga horária de 800 horas. Informações através do Disque Somar (0800-2858000) ou pela internet (www.sec.ba.gov.br/matricula2006).

EMPREGO PARA MONITORES
A ampliação do número de vagas também vai proporcionar trabalho com remuneração para 170 estudantes da UEFS que atuarão como professores-monitores, 60 vagas a mais que em 2005. O edital para seleção dos professores já foi publicado e pode ser conferido na internet (www.uefs.br), em “Editais”.

10.3.06

Obras anunciadas para 2006

A lista é longa, ocupa quase duas páginas, mas importante para quem mora nos bairros beneficiados, até para cobrar ao governo a realização do serviço.
Portanto, aqui vai a relação completa do pacote anunciado pelo prefeito José Ronaldo na terça-feira. Nota-se que o governo teve a preocupação de fazer alguma coisa em toda parte, para ninguém se dizer excluído.

Mangabeira
Pavimentação em paralelo das ruas Guarapura, Lourdes Maria, Mathias, Iatabirita, Imbituba, Itapira e travessa Camamu.
Tomba
Pavimentação em paralelo das ruas Emanuela Guimarães, João de Carvalho, Jasmim, Nilo Peçanha, Magnólia, Virgem, Tafarel, Trecho da rua D, Nova Esperança, 2ª travessa Salvador, João de Deus, Tocantinópolis, travessa Tocantinópolis, 1ª travessa Guilherme Azevedo, Leonardo Evangelista, travessa 2 Irmãos, travessa Trajano Morais, travessa Torre de Pedra, travessa Timbaúba, 1ª travessa Caraguatatuba, São João do Cazumbá.
Queimadinha
Pavimentação em paralelo das ruas Lorena, São Paulo, Rio Grande, Minas Gerais, Amazonas.
Conceição
Pavimentação em paralelo das ruas Branca, Palmerindo, Palmito, Vila Mariano, avenida Heitor Villa Lobos
Jardim Acácia
Pavimentação em paralelo, trecho da rua Mercúrio, Belo Horizonte, travessa Belo Horizonte.
Gabriela
Pavimentação em paralelo das ruas Sinhazinha, O Direito de Amar, complemento da rua Flamengo, Santana do Agreste, lateral da Escada, Bravo.
Parque Getúlio Vargas
Pavimentação em paralelo da rua São Domingos.
Santa Mônica
Pavimentação em paralelo da praça Arnaldo Brito, complementação e pavimentação em asfalto das ruas São Romão, Cariri, Itaporanga, Galiléia, Porto Príncipe, Moamedi, Alvin, Cosme e Damião, São Pedro, Tocantins, São Cristóvão, coronel Alfredo Coelho.
Avenida Rio de Janeiro (DNER)
Reurbanização da praça da Concórdia
Feira X
Construção e urbanização da Praça do conjunto Feira X
Brasília
Pavimentação em concreto e paralelepípedos das ruas Rodeio (esquina com a Pedro Suzart), 3ª travessa rio Itapemirim, travessa rio Purus, travessa rio Juruá (Vila Queiroz), travessa Milão, travessa Pedro Suzart, travessa rio Itapemirim e travessa Rio Solimões.
Conjuntos localizados na região do Tomba
Pavimentação em paralelo das ruas do conjunto Fraternidade, do Loteamento Escoteiro, conjunto Luciano Barreto e recuperação da praça poliesportiva do conjunto Feira VII.
Complementação e pavimentação em asfalto da rua Vespasiano (até o novo posto de saúde).
Cidade Nova
Reurbanização da praça do Correio, urbanização da praça da rua Clodoaldo, drenagem de águas pluviais da Cidade Nova à avenida Maria Quitéria (Praça João Havelange)
Olhos D´água
Reurbanização da Praça da Paquera, fechamento do canal da rua Araújo Pinho.
Feira VI
Pavimentação em paralelo da rua Pomedore e rua O.
Serraria Brasil
Pavimentação em paralelo da rua Pedra Cruz
SIM
Pavimentação da rua Passo Alegre
Agrovila
Pavimentação em paralelo das ruas do bairro Agrovila
Campo Limpo
Pavimentação em paralelo das ruas Humildes, Ipanema, Paissandu, Itapororocas, Mirandrópolis, Canidópolis, João Lima, construção da pista de bicicross da cidade (Loteamento Vivenda Anselmo Gomes), complementação e pavimentação em asfalto das ruas Uberaba, Tomazinha, Engenheiro Navarro, Ipanema, Assis Brasil, rua e Travessa Mereópolis, Santo Antônio de Pádua
Novo Horizonte
Pavimentação em paralelo da rua Padre Manoel da Nóbrega e acesso ao bairro
Coronel José Pinto
Pavimentação em paralelo da rua Caxias
Jardim Cruzeiro
Complementação e pavimentação em asfalto das ruas Barrolândia, Barro Branco, Barro Duro, Barro Alto, Petrolina, Senhor do Bonfim, Nazaré, Itambé, Itabuna, Miguel Calmon, Juazeiro, Nossa Senhora da Purificação, construção de muro e alambrado do campo de futebol, ampliação do Hospital da Mulher (setor administrativo).
Nova Esperança
Pavimentação em paralelo das ruas Três Riachos, 1ª e 2ª Travessas Três Riachos.
Parque Ipê
Pavimentação em paralelo das ruas Campo Grande, Portuguesa de Desportos, e construção da Quadra Poliesportiva
Parque Brasil (Conceição)
Recuperação da Associação de Moradores do Parque Brasil (Creche Tio Jonas)
Rocinha
Pavimentação em paralelo das ruas Shalon, Geová Nissi, Isolina Bastos, Ebenezia
Eucalipto
Pavimentação em paralelepípedo da rua Agrônomos
Estação Nova
Pavimentação em paralelo das ruas Peru, Gardênia, Istefânia.
Pedra do Descanso
Pavimentação em paralelo da rua Jacuí
Conjunto Feira IX
Construção da praça esportiva, praça pública da rua A, Caminho 09.
Capuchinhos
Complementação e pavimentação em asfalto das ruas Botelho, Bossoroca, Coromandel, coronel Murta ( Irmã Dulce) e recuperação da quadra poliesportiva da Escola Monteiro Lobato
Subaé
Recuperação da quadra poliesportiva
Centro
Urbanização da praça Jackson do Amauri com a construção do Monumento do Caminhoneiro.
Conjunto Feira V
Pavimentação em paralelo do Caminho 16
Panorama
Complementação e pavimentação em asfalto das ruas Contagem, André Vital, Américo Simas, Afonso Celso, Conceição da Barra, Conceição, Conceição do Almeida (Trechos 1 e 2), Conceição do Araguaia, ruas Cocal (trechos 1 e 2), Álvares de Azevedo, Colinas.
Bonfim de Feira
Recuperação da quadra poliesportiva
Jaguara
Urbanização da praça do povoado de Sete Portas
Tiquaruçu
Pavimentação em paralelo do povoado Alto do Santo
Jaíba
Pavimentação em paralelo do conjunto Renato Costa
Humildes
Construção da biblioteca
Distrito Maria Quitéria
Construção do Salão de Recreação da Escola Francisco Martins da Silva

Micareta: mais de 90% dos camarotes vendidos

A pouco mais de um mês do início da Micareta (20 a 23 de abril), até o final da tarde de quinta-feira restavam apenas 40 camarotes, dos 430 colocados à venda pela Toldos São Paulo (são 120 camarotes com capacidade para 20 pessoas e 310 para 12 foliões).
As vendas foram iniciadas em setembro. Restam 16 com capacidade para 20 pessoas (custam R$ 2.500 divididos em cinco vezes no cartão de crédito Mastercard ou em duas vezes no cheque) e outros 24 camarotes para 12 pessoas (R$ 1.500).
As vendas estão sendo feitas na Central dos Camarotes, no primeiro piso do Arnold Silva Plaza.

Atrações sairão ao meio-dia na sexta de Micareta?

Foi o que anunciou a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, que se reuniu com representantes dos blocos que desfilarão na Micareta na noite de segunda-feira no CIFS (Centro das Indústrias de Feira de Santana).
A conferir quando começar a festa (se bem que depois que começa todo mundo esquece do atraso). A Micareta de Feira de Santana acontece de 20 a 23 de abril.

SIT tem 75% de aprovação

Fui ao Secretário de Transportes e Trânsito e vice-prefeito, Antonio Carlos Borges Júnior, me queixar do SIT e fazer uma série de questionamentos. Não adiantou muito. O secretário sacou uma pesquisa ainda inédita, encomendada pela Prefeitura à Economic, mostrando que o novo sistema tem 75% de aprovação dos usuários.
De acordo com o secretário, o número de queixas que recebe, agora que o SIT está em funcionamento há alguns meses, é bem menor do que recebia antes desta arrumação do transporte coletivo. E mais, o grosso das reclamações hoje é sobre a falta de bancos no Terminal Central e não sobre demora ou qualidade dos ônibus (a propósito, a licitação para os bancos saiu esta semana e o prazo para a vencedora fazer o serviço é de cerca de um mês. Então espera-se que em meados de abril já se possa sentar no Central).
Quanto à qualidade, apenas uma empresa está adequada às exigências de idade da frota e cumpriu com os prazos acertados com a Prefeitura para renovação dos ônibus. As outras duas estão devendo, o que é fácil de perceber ao andar nos ônibus.
Mais radiante ainda ficou o secretário ao saber de pesquisa com a população de São Paulo, que deu apenas 55% de aprovação dos usuários ao serviço de ônibus municipal.
Para mim, há um problema de amostragem aí, sendo os paulistanos muito mais exigentes com o serviço público. Outro dia me espantei ao ouvir um transeunte dizer que "podia ter ônibus pelo menos de hora em hora" para a localidade dele. Ora, para mim, 15 minutos é o tempo máximo admissível. Mas o vice-prefeito não concorda comigo nem com o vereador da base aliada, Getúlio Barbosa, que ainda outro dia queixou-se no rádio de que as empresas prestam um péssimo serviço e não deviam estar falando em aumentar passagem.
Já disse aqui e repito, que o SIT é um primeiro passo, sem dúvida uma evolução em relação ao que tínhamos. Mas precisa melhorar muito ainda, pois espera-se demais em muitas linhas, vans de distritos continuam a andar superlotadas e há ainda quatro tipos de transporte que estão fora das regras: motoboys e vans clandestinas, táxis fazendo lotação e carros particulares fazendo lotação também. Tem gente inclusive que vem de outros municípios trazer algum passageiro e passa o dia rodando em Feira, transportando clandestinamente. Quanto a isso, vem aí uma nova onda de repressão, envolvendo Agerba, Polícia Rodoviária Federal, Superintendência de Trânsito e PM, que já se reuniram com a Secretaria de Trânsito para combinar como serão as blitze. Para mim, permanece o conceito de que se há espaço para tanta clandestinidade é porque o sistema oficial não atende a contento a população.
No final acabei esquecendo uma pergunta, que lanço aqui para reflexão coletiva. Porque há tantos ônibus com a parte de baixo das janelas vedadas, sem poder abrir? Para proteger do frio, neste nosso sertão, é que não é. Eu até poderia imaginar que se tratasse de um modo de evitar que o passageiro pulasse pela janela, sem pagar passagem, mas isto não é viável porque a cobrança é feita logo que o usuário entra no coletivo. Só suicidas em último estágio passariam pela roleta para depois pular pela janela. Eis um mistério que desafia a lógica.

Rali na avenida

Manhã de quinta-feira, tudo estava seco, depois de chuva não muito volumosa da véspera. Mas algo de muito errado existe com o sistema (se é que existe) de escoamento de águas pluviais neste trecho da avenida Getúlio Vargas, na esquina com rua Teu Teu. Muita água e profundidade razoável, o que obrigava os carros a passar em marcha lenta e motoqueiros a desviar o caminho ou se aventurar com as pernas suspensas no meio da poça com extensão aproximada de 100 metros. Dependendo do carro e do entusiasmo do motorista que passasse, podiam-se admirar cenas dignas de rali, com água espirrando longe.

Publicado na Tribuna Feirense em 10/03/06

VEJA ABAIXO FOTOS DA ÁREA ALAGADA, POR VOLTA DE 8 DA MANHÃ DE QUINTA






1 bilhão

Comentei na coluna passada que o negócio é comprar música de uma por uma, em MP3, pagando só pelo que você quer ouvir; e que portanto, CD é coisa ultrapassada.
No domingo, a imprensa norte-americana noticiou que com a compra feita por um adolescente da música Speed of sound, do Coldplay, completaram-se um bilhão de músicas vendidas pelo principal serviço deste tipo no mundo, o Itunes.
A mesma matéria informa que em 2001 foram vendidos nos Estados Unidos 763 milhões de CDs. Em 2005, número caiu para 619 milhões.

Auxílio-gogó

José de Arimatéia, o original, era um homem generoso. Ofereceu um túmulo de sua propriedade para o enterro de Jesus, que àquela altura, tinha passado de profeta, líder de multidões, a renegado, abandonado pelos próprios discípulos, esquecido pelo povo e tido pelas autoridades como um subversivo perigoso, finalmente eliminado.
José de Arimatéia era também legislador, como o nosso vereador de mesmo nome. Era membro do sinédrio, um conselho formado basicamente por sacerdotes. Os estudiosos acreditam que fosse um homem de posses. Generoso e endinheirado, não se imagina José de Arimatéia solicitando ao sumo-sacerdote um auxílio-túnica para comparecer a contento nas sessões plenárias.
O nosso vereador, porém, reclama o auxílio-paletó. E além do pedido de uma verinha a mais, surge com uma justificativa infeliz, a saber, a alegação de que em Salvador houve redução no recesso porque os vereadores ganham esta ajuda. É uma lógica um tanto enviezada. Seria melhor o vereador dizer que ganha pouco e que com estes caraminguás não pode comprar um paletó a mais para dar conta de mais algumas sessões que ocorrerão nestes dias acrescentados ao ano legislativo.
Pessoalmente, eu concordo com a sugestão já expressa pelo César Oliveira, de que o melhor seria, neste calor, abolir o paletó. Mas não somos vereadores e usar este modelito importado de países onde faz frio é assunto que diz respeito exclusivamente a eles.
O que não diz respeito exclusivamente a eles, mas eles fingem que sim, é a forma como se gasta o dinheiro público. O auxílio-paletó é uma vergonha. Mas seriam até aceitáveis uns cursos de formação para ensinar ao vereador qual é o seu papel e como desempenhá-lo melhor. Acrescido, claro, de algumas aulas sobre finanças públicas, lei de responsabilidade fiscal, oratória e filosofia (mal comparando, poderíamos chamar de auxílio-gogó).
A cidade ganharia homens públicos melhor preparados e não teríamos que ouvir propostas deste quilate. Ou como aquela outra de extinguir a Tribuna Livre por ser mal utilizada, como cogitou Fábio Lucena. Ora, mal utilizada a tribuna é frequentemente pelos próprios vereadores e nem por isso se propõe a extinção do legislativo municipal.
Cursinhos preparatórios permanentes, bem que podem valer a pena (atenção: não valem aqueles congressos turísticos onde vez por outra nossos vereadores se aventuravam alegremente Brasil afora e até nas fronteiras internacionais, quando a coisa acontecia em Foz do Iguaçu).

Bancos

Não falo dos bancos fechados pelo Procon, que sobre isso já há um bocado de notícias e debates acalorados. O que me chamou a atenção foi ver a divulgação pela Secretaria de Comunicação, da colocação de sete bancos na agradável pracinha construída nas imediações do EMEC.
A Secom está aí para informar mesmo o que o governo faz. Mas eu gostaria de ler que a Prefeitura colocou pelo menos 700 bancos pela cidade. A Getúlio Vargas mesmo, lugar onde tanta gente caminha, inclusive pessoas idosas, pode-se dizer que praticamente não possui bancos. Tantas árvores frondosas, com sombras que são um oásis no verão! Porém, não há onde sentar. A ausência de bancos é tamanha que a colocação de sete vira notícia.
Mais bancos e mais latas de lixo, por favor!

Publicado na Tribuna Feirense em 04/03/06

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