Foi motivo de debate nas páginas deste matutino o fechamento do Shopping Centro e sua possível relação com a eterna “crise”, palavra evocada para justificar qualquer percalço empresarial.
Eu adoro um debate, mas neste caso, acho que ele nem precisava ter começado, pois não dá para dizer que Feira de Santana está em crise; ou então, nada é o que parece ser.
Foi em 1994 que vim morar em Feira de Santana. Embora eu viesse da segunda maior cidade do país e tida até hoje por muitos como capital federal em alguns aspectos (especialmente pelo poder irradiador de sua cultura), Feira nunca me pareceu uma cidadezinha de interior. Sempre notei uma vitalidade, um dinamismo muito forte.
Mas naquela época, o que mais se ouvia era que a cidade estava mal, muito mal, a caminho do abismo. Eu não entendia bem porque; ou melhor, não concordava com esta visão. Admirava-me de ver tanta gente da própria cidade, a falar mal dela. A coisa chegou a tal ponto que a TV Subaé lançou a campanha Feira Faz Bem, numa iniciativa para combater o baixo astral.
Se em 1994, não havia motivo suficiente para desespero, hoje muito menos. Quem é do lugar, pelo hábito, às vezes não percebe certas mudanças. Como os pais que não percebem no dia a dia os filhos crescerem, e, quando alguém que não via os meninos há alguns meses diz “nossa, como estão grandes”, estranham.
Então penso que devo dar um testemunho para lembrar o tanto de avanços somente do tempo em que vivo aqui.
A maior empresa do mundo, Wall Mart, está instalada na cidade, como proprietária que é do Bompreço. Este por sua vez, situa-se dentro do Shopping Iguatemi, que não veio para Feira para socorrer a cidade, mas porque enxergava nela um potencial econômico grande. E tanto estava certo que anda a cada dia mais cheio e já pensa em ampliação. No mesmo shopping situa-se desde o começo a C&A, uma das maiores do setor no Brasil, também controlada por um grupo estrangeiro e mais recentemente as Lojas Americanas, que em seu segmento, se não é a maior, é uma das maiores do país. Todas empresas que só investem depois de estudar o mercado e se certificar de seu potencial.
Nos principais pontos comerciais do município, houve uma expansão de lojas grandes e médias, com fachadas atraentes e vitrines bem elaboradas, coisa que antes não se via. Novas áreas são agregadas a cada dia a um centro comercial que se expande, trazendo inclusive o efeito colateral da falta de lugar para estacionar onde há pouco tempo só existiam residências.
No setor de eletrodomésticos mesmo, lojas que já atuavam na cidade ampliaram o número de estabelecimentos (como Insinuante e Lojas Maia) e outras chegaram (como Ricardo Eletros). No setor de óticas, outras empresas também vieram de fora, buscar seu pedaço neste bolo.
Claro, as próprias lojas feirenses, como Universal, reagiram, melhoraram, diversificaram, investiram na aparência de seus pontos de venda. A área de decoração, que tinha apenas a Casanova dentro de um estilo mais sofisticado, passou a exibir uma vibrante concorrência, com várias lojas grandes e espaçosas.
Um exemplo dos mais evidentes é das Pedras Maram, que de um ponto comercial misturado com depósito no Contorno passou a um belo e bem projetado escritório comercial na Getúlio Vargas. Certamente esta é outra área em que logo nomes de expressão nacional começarão a desembarcar.
Na educação, também os empreendedores feirenses demonstraram competência, abrindo faculdades particulares que seguem em expansão. Os de fora também não ficaram alheios ao potencial deste mercado e temos agora o que se pode chamar de um pólo universitário, que espero ver crescer e se qualificar muito mais, para que a cidade encontre seu rumo e sua estabilidade definitivamente, por meio desta mão de obra mais qualificada.
E ainda o poder público, que saneado e melhor administrado, recuperou a capacidade de investimento, o que gera emprego e levanta a auto-estima da população, ao ver chegarem melhorias em ruas e bairros que viviam no esquecimento.
Outros exemplos existem, mas nem me ocorrem agora neste levantamento feito de memória nem é infinito o espaço da página, ou o tempo do leitor. Porém estas já são evidências suficientes para esperamos nunca mais ouvir aquela ladainha de que “Feira vai acabar”. Se um empreendimento fecha as portas, é lamentável. Mas as causas do fracasso devem ser buscadas dentro dele e não fora.
Publicado na Tribuna Feirense em 17/03/2006
18.3.06
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