24.3.06

Investimento de risco

Os frangos podem ser uma nova fonte de renda para um grupo de 600 e poucos agricultores familiares em Feira de Santana.
Os frangos também podem causar um prejuízo milionário.
O governo municipal, em parceria com o estado e a UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) patrocinou um curso sobre manejo e produção, para 638 agricultores. Cada um terá que construir seu aviário, mas receberá do projeto 25 frangos, 40 quilos de ração e mais um comedouro e um bebedouro.
Tudo que venha no sentido de gerar renda para o homem do campo, a princípio é bom. O problema neste caso é o aparecimento de uma nova realidade, por conta da famigerada gripe do frango.
A revista quinzenal Exame (sobre economia e negócios) que está nas bancas, trata do assunto e mostra que as grandes empresas nacionais do setor estão de cabelo em pé com a inércia do governo federal. Temem que ocorra como no caso do foco de aftosa em Mato Grosso do Sul e Paraná, que foi há quatro meses e até hoje impede que o Brasil exporte carne bovina para 56 países, o que gera perdas anuais de centenas de milhões de dólares.
A posição das empresas é que a criação doméstica de galinhas simplesmente seja proibida, como ocorre na Alemanha e na Holanda (em Hong Kong, que é ditadura, quem criar frangos vai pra cadeia). O produtor caseiro, lógico, tem menos condições de adotar as medidas preventivas necessárias. No entanto, é política governamental, não somente em Feira de Santana, mas no Nordeste, estimular este tipo de criação.
É assunto para ser discutido por especialistas, mas que não pode deixar de ser discutido, pois é da mais alta importância. Exclusive os que entrarem agora para o ramo, subsidiados pela Prefeitura, a criação de frangos já é uma atividade econômica importante na região, com algumas empresas médias e milhares de agricultores.

Agora é moda

A democracia foi timidamente restaurada no Brasil no distante 1985, quando Tancredo Neves ganhou a eleição indireta para presidente e morreu, deixando o governo nas mãos do desastroso oligarca José Sarney, que até hoje não nos deixa em paz.
A democratização é um processo, que se completa mais devagar quanto menor é o nível de educação das pessoas e a consciência sobre seus direitos. Por isso, até hoje tem gente que ainda não se habituou com uma de suas facetas, que é a liberdade de expressão. E eis que, para espanto geral, mesmo na Câmara de Vereadores, uma tribuna livre por natureza, por essência, um vereador ainda quer cercear o direito de outro falar.
Refiro-me à decisão de Renildo Brito de levar Roberto Tourinho à Corregedoria da Câmara, por ter dito em pronunciamento que há vereadores que representam as empresas de transporte. Ora, em alguns casos, esta representação foi até mesmo assumida pelos representantes, e, em tese, não há nada de mal nisto.
Vereadores já enfrentaram passeatas enfurecidas de estudantes, ameaças de quebra-quebra e agressões físicas, para aprovar propostas de interesse das empresas; ou rejeitar propostas que contrariavam estes interesses. A princípio seria louvável essa bravura. Defender as convicções até a morte é um gesto heróico. O problema é que não se vê dos vereadores esta disposição em outras causas, o que naturalmente levanta suspeitas.
Tourinho não afirmou, como disse Renildo, que havia vereadores no bolso das empresas. Seria certamente ofensivo e mesmo assim, talvez não fosse o caso de resultar num processo. Se nem os vereadores, regimentalmente invioláveis em suas declarações, podem dizer abertamente o que pensam, onde é que vamos parar? Em pouco tempo, andaremos todos com esparadrapo na boca.
Ao invés de ocorrer a contestação do discurso com outro discurso e deixar as coisas no campo do debate de idéias, argumentos e contra-argumentos, apela-se logo ao tapetão.
Isso tudo, porém, está claro, é conseqüência do circo que se instalou em Brasília há um ano, que produz resultado quase nenhum, mas popularizou a instância do Conselho de Ética (similar à nossa Corregedoria), que agora está na moda.

Publicado na Tribuna Feirense em 24/03/06

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