Como é notório a qualquer um que não esteja no mundo da lua, o PCC, organização criminosa paulista, adotou a tática de aterrorizar a população, para mostrar que ninguém pode mexer com eles, que ninguém pode contrariá-los. Os ataques começaram direcionados exclusivamente a policiais ou no máximo bombeiros, em maio. Agora em julho, voltaram-se a princípio contra agentes penitenciários, mas acabaram atingindo diversos tipos de estabelecimentos comerciais, vigilantes civis, funcionários aposentados da segurança pública, transporte coletivo e enfim, qualquer um que lhes atravessasse o caminho, incluindo uma mãe e seu bebê.
A tática da intimidação contra quem contraria interesses criminosos não é novidade nenhuma. A diferença do que aconteceu em São Paulo é que ela foi transformada em banalidade e aí é que mora o perigo.
Não é problema dos paulistas. É problema de todos nós, porque o exemplo se espalha e se espalha depressa. Aqui em Feira, acordamos ontem sabendo que um morador de um bairro central (Brasília), teve o carro atingido na garagem de casa, por pedradas que danificaram a lataria e quebraram vidros. E foi atingido aparentemente pelo acaso de ser vizinho de uma pessoa que atua na fiscalização a veículos que fazem transporte irregular na cidade. Pessoa que nem sequer é fiscal, mas dirige carro no qual o fiscal se locomove. E que não estava com o carro na garagem porque o carro está na oficina, vítima de uma ação idêntica, ocorrida também na garagem de casa. O carro do motorista do fiscal não estava, então sobrou para o carro do vizinho.
Não é caso para deixar para lá, para ser esquecido em meio a incontáveis ocorrências policiais. É um precedente sério, que precisa ser investigado pela polícia e punido pela justiça.
Se de fato por trás desta ação estão praticantes de transporte clandestino, é um péssimo sinal. Sinal de não temem nem a prefeitura, nem a polícia militar, nem o Ministério Público, que ordenou há poucos dias um combate à clandestinidade. E, por conseguinte, não temem também a Justiça, onde inevitavelmente irão desaguar eventuais processos.
Tanto mais séria é a situação por existirem policiais atuando nesta atividade clandestina, como já denunciado publicamente por representantes do setor (e comentado na surdina por motoristas do transporte “alternativo”). É perversa a condição de um PM, que tem um trabalho árduo e um salário baixo, sendo por lei proibido de exercer outras funções para complementar renda. Por isso entende-se e tolera-se o exercício de atividades diversas pelos policiais. Mas uma clandestina é impossível aceitar.
Uma impressão de desordem na segurança pública já foi inevitavelmente transmitida pelos acontecimentos dos últimos dias, que tiveram um PM espancado por colegas dentro do batalhão, atentado a bala contra a casa de outro, acusações, ofensas e xingamentos em entrevistas, dossiês de parte a parte e chefia de Polícia Civil recorrendo ao Ministério Público para providências no Batalhão da PM. Tudo isso não ocorreu de uma hora para outra, sem motivo. É o transbordamento de uma fervura que vem de longe e já não podia mais ficar encoberta.
Neste clima, que no mínimo se pode chamar de bagunça, corremos o risco da marginalidade se sentir mais à vontade para agir do que já está. O apedrejamento do carro do vizinho do motorista do fiscal é um sinal disso.
Publicado na Tribuna Feirense em 22 de julho de 2006
22.7.06
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