17.7.06

Clailton com Pimenta

O Judiciário é uma das mais importantes instituições humanas. É indispensável para a existência da sociedade que em qualquer conflito de interesses, exista uma maneira harmoniosa de definir uma questão, cada lado apresentando seus argumentos e acatando a decisão que vier do juiz.
No entanto, entre nós, a chamada Justiça está deixando de ser o amparo dos verdadeiramente injustiçados e o terror dos malfeitores. Tornou-se antes, o álibi dos infratores.
Ainda se encontra, entre a gente mais simples, aqueles que tremem só de ouvir falar em Justiça. Mas os que sabem manejar as armas e armadilhas dos processos, têm tanto medo desta Justiça quanto os caloteiros profissionais têm do SPC. Para estes, a Justiça, ao invés de veneno, é antídoto, pois ao ser pego com a mão na massa, aceitam pacientemente o processo, sabendo que ao final dele, não haverá condenação, ainda que haja provas. E sem condenação, o réu ressurgirá vingado, alardeando: “nada ficou provado e fui inocentado”.
Assim fez o milionário político Orestes Quércia, agora todo assanhado para ser candidato em São Paulo, disputado pelo PT e pelo PSDB, os partidos que antes o carimbaram como corrupto. Assim faz Paulo Maluf, ainda mais desinformado e esquecido do que Lula, pois nem de suas contas bancárias milionárias no exterior, ele sabe ou se lembra.
Em Feira de Santana, não estamos mais sem nosso próprio exemplo de inocência afiançada pela Justiça. Depois de anos, pilhas de processos, documentos, depoimentos, reportagens esclarecedoras estarrecedoras e falsas ameaças de adversários políticos, o ex-prefeito Clailton Mascarenhas foi considerado um injustiçado pelo deputado estadual Tarcízio Pimenta, que com total despudor, anunciou o apoio do investigado à sua candidatura para reeleição na Assembléia Legislativa.
Baseando-se no fato de que na prática nada aconteceu com Clailton em termos de punição, Tarcízio sentiu-se à vontade para considerá-lo vítima e não criminoso.
Faz sentido. Como não ocorre punição, quem vai dizer que o réu é culpado? Na época dos fatos, as provas podem ser fartas e consistentes, de tal maneira que todos se convencem do mal feito e não há muito como negar. Porém, passado o tempo, quem vai se lembrar de tudo que passou? Além do mais, há muitos que nem eram eleitores quando tudo aconteceu. Teria que valer a sentença proferida. Sem sentença, nada feito.
Sorte de Clailton que escapou. Sorte de Tarcízio que pode se aliar a ele sem ser muito recriminado. Provavelmente nem seu tutor eleitoral, o senador ACM, o recrimina, apesar de, nas eleições de 2000, no auge da desmoralização de Clailton, ter prometido, como é de seu feitio, uma faxina moral em Feira de Santana, após a ascensão do PFL ao poder.

Publicado na Tribuna Feirense em 15/07/06

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