23.9.06

O voto nulo

As ruas foram tomadas, agora às vésperas da votação, por uma campanha em out-doors pregando o voto nulo. A opção é tentadora. Já pareceu assim também a mim, que estava disposto até a participar da pregação contra o voto. Antes, porém, precisaria me convencer de que se trata de uma boa opção. Não consegui me convencer.
Quem está indignado? Apenas os mais conscientes. Quem é consciente, tende a escolher melhor seus candidatos. Embora não esteja livre de se enganar ou ser enganado. Mas a perda destes votos conscientes só iria beneficiar os piores da política, aqueles que têm seus currais eleitorais e que compram votos e não dependem da consciência de ninguém para vencer uma eleição.
Está claro pelas pesquisas que a maior parte do eleitorado não compartilha da idéia de anular o voto. Propaga-se uma informação de que com mais da metade dos votos anulados, anula-se a eleição. A idéia é atraente, pelo impacto que isto causaria, por expressar o quanto a sociedade está indignada. Mas seria um grande risco. Varreríamos do Congresso políticos melhores, eleitos pelas pessoas conscientes, deixando o Legislativo para os conhecidos curraleiros e mercadores de votos, continuadores dos mensaleiros, sanguessugas e outros bichos.
“Não é o voto que se invalida, mas o eleitor”, advertiu Gustavo IOSCHPE, que é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA), em artigo publicado no último dia 6 na Folha de São Paulo. É fácil constatar isso com uma conta bem simples, que reproduzo do artigo:
“Imagine que o eleitorado consiste de cem votantes e que 41 pretendem votar no candidato A, 24, no B, 10, no C e 5, no D. Vinte pretendem anular/votar em branco/ficar em casa. Resultado: com 41 de 80 votos válidos, o candidato A se elege em primeiro turno. Se os 20 descontentes espalhassem seus votos entre os outros candidatos, teríamos segundo turno”.
Prossegue o articulista: “Quando uma pessoa politizada a ponto de querer usar o voto como arma de protesto o joga fora, o que ela está fazendo é reforçar o peso dos outros eleitores. Delega-se a escolha para pessoas que talvez se importem menos. Aquele que quer anular seu voto por protesto ao sistema vai acabar reforçando os mandarins do sistema que rejeita. Não faz sentido”.
Portanto, leitor, pense, escolha e vote. Pelo menos nesta eleição, com a proibição da boca de urna (o que já será uma maneira de reduzir a influência do poder econômico) você terá direito a votar em paz e pensar bem no que está fazendo. Boa sorte para todos nós.

Publicado na Tribuna Feirense em 23/09/06

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