Em televisão existe uma coisa que se chama Nota-pé, que vem encerrando, como fechamento de um assunto que estava sendo tratado em reportagem anterior. Por exemplo: "Tentamos falar com o deputado acusado de integrar a quadrilha das sanguessugas, mas ele não foi encontrado". Em boa parte das vezes a Nota pé é lida com um misto de ironia e desilusão, pois serve para dar satisfação ao telespectador, ao mesmo tempo em que informa, porém com outras palavras, que uma determinada autoridade não estava fazendo a parte que lhe cabia.
Assim foi esta semana, depois que o telejornal da TV Subaé noticiou o acidente com uma van do transporte alternativo no Novo Horizonte, em que mais de uma dezena de pessoas ficou ferida, pois o veículo superlotado capotou depois de bater numa mobilete. Pode-se dizer – ainda que seja um tanto macabro – que foi sorte termos um único morto (e que por sinal não estava na van). Então a Nota-pé informou que o funcionário responsável na secretaria de transportes, questionado sobre a superlotação, disse que os fiscais estão diariamente nas ruas em pontos estratégicos fazendo a fiscalização.
Foi com espanto que ouvi esta explicação. Seria importante saber que penalidades são aplicadas e se de fato são cumpridas. Onde moro talvez não seja um ponto estratégico. Porque todo santo dia estão lá as vans superlotadas, vindas da zona rural. Tem gente "sentada" no vidro das janelas (bunda no vidro, ombros e cabeça no teto). Nenhuma providência é adotada. Possivelmente não passou por lá nenhum fiscal. Mas talvez eu esteja morando longe. É razoável supor que um "ponto estratégico" seja o centro da cidade. Por exemplo, ali em frente ao jardim adotado pelo J. Santos na avenida Getúlio Vargas existe um ponto de transporte coletivo dos mais movimentados da cidade. Se algum fiscal andar por lá vai ter dificuldade em encontrar alguma van que não passe superlotada.
Mas peraí. Pode estar havendo uma confusão de conceitos sobre o que seriam os "pontos estratégicos", claro. Ponto estratégico pode bem ser um lugar onde não passa van nenhuma. Onde não haja transporte nem alternativo. Num lugar assim, não existem vans superlotadas. Deve ser lá, estrategicamente, que se encontram os fiscais.
Comercial eleitoral
No rádio, ouve-se uma voz apregoar as virtudes do Partido do Remédio Barato. É horário comercial, não horário eleitoral. O propagandista fala que o partido já fez muito pelo povo e vai continuar fazendo, se você ajudar. O falante não se identifica, mas a voz parece muito com a de João Borges, aspirante a deputado federal.
Mas não pode ser, João Borges é candidato, como pode aparecer fazendo propaganda de sua empresa, se ele saiu dos comerciais (junto com a Mamãe) justamente quando homologou sua candidatura? Seria uma exposição maciça e possivelmente irregular de sua imagem, passível de ser enquadrada como abuso de poder econômico. Então na TV desfaz-se o mistério. A propaganda é com João Borges, mas um da segunda geração. Em geral, atores de comerciais não são identificados. Mas neste caso, lá está o nome creditado, como um apresentador de TV: JOÃO BORGES FILHO.
Assim, espertamente, o candidato pai dá um jeito de driblar as restrições legais e aumentar a exposição de seu nome, ainda insinuando sutilmente na propaganda que se você votar em João Borges o remédio barato seguirá firme e forte.
Ainda que disfarçada, é propaganda eleitoral. Mas parece que os outros candidatos não se importam, pois não questionam.
Publicado na Tribuna Feirense em 26/08/06
26.8.06
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