Pareceu salutar que a Justiça tenha dito à Caixa Econômica Federal que deve cumprir a lei dos 15 minutos. A mim não pareceu, a partir do momento em que se concedeu ao banco estatal o privilégio de descumprir esta obrigação, quando se trata das pessoas que vão às agências em busca de atendimento para os demais serviços exclusivos do banco público, tais como saque de FGTS, seguro-desemprego e outros.
A Caixa é obrigada a receber esta massa de trabalhadores que superlota suas filas e guichês. Mas certamente não está fazendo favor e lucra com esta exclusividade. Muitos outros bancos gostariam de repartir com ela este peso. A vítima, digo, o cidadão que vai ao banco, este sim não teve direito de escolha. Ele é obrigado a ir à Caixa porque não lhe deram a opção de ir a outro lugar.
No entanto, se a Caixa tiver que cumprir os 15 minutos apenas para os correntistas, sob pena de pagamento de multa, poderá relegar (mais do que já faz) a segundo plano estes tantos trabalhadores que recorrerão a ela por falta de opção. E tudo isso por quê? Porque não se trata de uma relação de consumo. Ou seja, como o trabalhador não é correntista, não é cliente, a Caixa não tem obrigações com ele.
Eis que estamos num contexto em que o respeito à dignidade das pessoas não existe. Só tem valor o consumidor. E isso numa sociedade empobrecida em que milhões ainda não atingiram este estágio da evolução humana que é ser um consumidor.
O cidadão não vale nada e não merece ser beneficiado pela regra dos 15 minutos, regra que veio bem a calhar para colocar um mínimo de decência na relação das pessoas com os bancos, neste país em que as empresas do setor financeiro dão as cartas.
Essa exacerbação do valor comercial das coisas faz lembrar a abordagem freqüente da questão do deficiente como alguém que "é tão produtivo quanto qualquer outro trabalhador". Como se o deficiente só fosse digno de consideração por ser capaz de produzir. Ora, reforçar esta visão é condenar a uma vida de eterna indignidade os que não são capazes de produzir, pois muitos efetivamente não são, devido à gravidade de sua deficiência. Se o deficiente pode produzir, trabalhando numa empresa, ótimo. Ele mesmo se sentirá muito melhor, integrado ao sistema que o cerca. Mas se não for, uma sociedade decente precisa prover os meios para que ele tenha uma vida digna, com respeito aos direitos que todo ser humano tem, independente de ser ou não produtivo no sentido capitalista do termo.
"O" ELEITOR
Cada eleitor tem direito a dar um voto. Neste sentido o prefeito José Ronaldo é igual ao José da Silva Lima, um anônimo que compareça diante da urna na mais remota seção de distrito. Porém nesta eleição, o voto de José Ronaldo está tendo o peso multiplicado. Seu apoio é disputado pelos principais candidatos do grupo político. Uns, como Rodolpho Tourinho, porque precisam desesperadamente de ajuda para subir a ladeira. Outros, porque querem mostrar que são mais amigos de Ronaldo do que o colega ao lado (alguns visando o lugar de honra no palanque de 2008, quando Ronaldo não poderá mais se reeleger).
Na propaganda que nos cerca com intensidade cada vez maior à medida que nos aproximamos do pleito, Jairo, Fabinho, Geilson e Eliana, todos são "candidatos de José Ronaldo". Tarcízio Pimenta, que até outro dia fazia bico para o prefeito, colocou uma mensagem em circulação nos seus carros de som onde dirige um "agradecimento especial pelo empenho de Ronaldo à continuidade de sua luta na Assembléia Legislativa". E até na propaganda de Paulo Souto, que não precisa, lá está Ronaldo a testemunhar.
Como se vê, mesmo sem ser candidato, Ronaldo está cotadíssimo nestas eleições.
11.9.06
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