23.6.10

O joio e o trigo eleitoral

(César Oliveira, na edição deste 23/06 na Tribuna Feirense)

Vivemos, atualmente, uma época de falência ética e imoralidade política. Enquanto tínhamos um debate ideológico, ao menos ocupávamos lados diferentes, defendíamos posições determinadas, ainda que as falhas existissem. Com o fim do comunismo como realidade política, os muros de separação ruíram e o único elemento agregador tornou-se o interesse pessoal.

Em nome da obtenção do poder, alianças inimagináveis, estupros ideológicos, se tornam uma realidade cotidiana, desacreditando o eleitor. Soma-se a isto a falência institucional e a impunidade que ronda os políticos, e temos um dos ambientes mais degradados de nossa história. Os deputados e senadores protagonizam escândalos ilimitados e boa parte tornou-se joguete nas mãos do presidente, a custo acessível, sem nenhum compromisso com o destino da nação e de seu povo.

A tendência do perfil das lideranças políticas é piorar. Os movimentos sociais e estudantis manietados e silenciados por verbas oficiais não formam mais líderes e o custo das campanhas afasta do sucesso eleitoral os cidadãos mais honestos e comprometidos. Estima-se que um voto esteja custando entre R$ 130 e R$ 140; uma campanha de deputado em torno de R$ 2 ou R$ 3 milhões; de senador R$ 5 a R$ 10 milhões. São custos inviáveis a quem não se curvar ao capital. Só conseguem este dinheiro aqueles já detentores de fortuna pessoal e os que vão aos cargos na defesa de seus interesses e aqueles – ao menos a maioria – que se comprometem em defender os interesses de seus financiadores.

O voto ideológico tornou-se escasso e o fato de existir uma minoria que se elege sem esta escravidão financeira não chega a redimir nosso modelo eleitoral.

Atualmente, a média dos partidos é de 30 a 40% de seus membros com processos na justiça pelos mais diversos tipos de crimes financeiro-administrativos e quanto mais recursos as campanhas consumirem, pior se tornará nossa capacidade de seleção. Algo precisa mudar no processo eleitoral ou separaremos o joio do trigo, mas continuaremos a eleger o joio.

Posted via email from Glauco Wanderley

Um comentário:

  1. Vânia24/6/10

    Glauco,

    Muito bom este texto!
    Após esta leitura fiquei refletindo sobre o nosso papel, enquanto educadores, em possibilitar aos nossos alunos formação política. A classe trabalhadora precisa chegar ao poder apesar de os dados indicarem que é preciso ter muito dinheiro para isto. Precisa construir utopias. Não podemos continuar legitimando o discurso do "Fim da História". Precisamos construir uma nova alternativa de sociedade a este modelo perverso e falido que é o capitalismo.

    Abraços,

    Profa. Vânia

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