15.7.09

A miséria entrou na agenda

Nossos políticos sempre foram homens muito ocupados, de maneira que nunca tiveram tempo de se preocupar com os pobres.

Uma passadinha na missa e uns sacrifícios estomacais em época de eleição, combinados à doação de tijolo, areia e saco de cimento tapeavam as agruras de um lado e a consciência do outro. Os miseráveis, gratos, retribuíam com votos.

Mas de repente os votos a favor dos mesmos que desde Cabral controlavam o poder começaram a escassear. A legião de miseráveis, que na falta de desenvolvimento econômico e de planejamento familiar nunca parou de crescer, começou a ficar sempre do lado de Lula, que levou a sério o combate à pobreza e, contrariando críticos e analistas insistiu em colocar dinheiro diretamente nas mãos das pessoas, com um mínimo de intermediários.

Os bilhões transferidos para o povo através do Bolsa Família dinamizaram a economia de municípios pequenos onde são raros os empregos fora da prefeitura. Nas metrópoles tiveram grande impacto também, dando às classes sociais mais pobres a possibilidade de ter algum dinheiro para gastar, o que colocou milhões de pessoas no foco de investimentos de grandes empresas do varejo, o que vem realimentando o ciclo de fortalecimento do mercado interno, sem o qual nenhuma economia pode ser plenamente desenvolvida.

Todos esses beneficiários eram gente de quem os políticos em geral só se lembravam nos três meses de campanha que antecedem as nossas eleições bienais. Gente que passou a receber um benefício todo mês. Que viu pela primeira vez na vida a chance de ter alguma perspectiva de futuro pelo menos para os filhos.

Sem dúvida haverá no meio de tanto dinheiro (que nem é tanto assim considerando o que se esvai na corrupção) e tanta gente recebendo, muito desvio de um lado – com beneficiários que de miseráveis não têm nada – e desperdício do outro – com gente que emprega mal os recursos que recebe. Porém os benefícios são claramente superiores às desvantagens.

Eis então que DEM e PSDB surgem com o Agenda Família. Noticiado como extensão, ampliação e melhoramento do Bolsa Família. Ótimo. O Bolsa Família está longe de ser perfeito ou de ser a solução para o país. É apenas o início do tratamento da miséria, um dos nossos maiores problemas, gerador de tantos outros.

A dificuldade para DEM e PSDB, com o histórico que seus quadros carregam, é convencer a população de que, de críticos dos programas sociais do governo federal, viraram defensores de sua ampliação, por considerá-los muito tímidos, pois deviam ir mais longe. Que de indiferentes pela sorte de dezenas de milhões, viraram defensores dos pobres. Que de expressões máximas da apropriação do poder em benefício próprio, viraram pessoas ansiosas para colocar em prática amplo programa de distribuição de renda.

Um plano bonitinho, bem encadernado, uma boa propaganda, é fácil de fazer. A tarefa de convencer o eleitor será bem mais complicada.

Se houver sinceridade nestes novos propósitos e não apenas uma tática eleitoral, o começo da redenção deveria ser um mea culpa a exemplo dos recentes pedidos papais de perdão pelas cruzadas, pela condenação de Galileu e etc.

Com a diferença de que no caso dos pecados da igreja, o pedido de perdão é mesmo retórica e formalidade, que não pode resgatar mais nada, enquanto no caso dos ex-arenistas, pedessistas, pefelistas (hoje DEM), aliados dos ex-peemedebistas (hoje PSDB), o arrependimento, se for sincero ainda poderá ser comprovado na prática, com uma mudança de postura que por enquanto não se viu, mas que é alvissareiro saber que pelo menos chegou ao campo das promessas eleitorais.

Um comentário:

  1. Eduardo Leite15/7/09

    Não importa o sistema se capitalista ou comunista.Eles, os políticos ou dirigentes, sempre usaram a base da pirâmide(o povão ) para sustentá-los e mante-los no cume da pirâmide. Quem melhor sabe disso é o Lula e seus mais de 40 ´companheiros´´, do alto de seus injustificáveis 80% de admiradores.

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