14.1.10

Pastoral fundada por Zilda Arns salva vidas em Feira de Santana

Januária (à direita): evitando mortes entre as crianças da Mangabeira (foto Reginaldo Pereira)


A fé dos agentes da Pastoral da Criança nos milagres da multimistura que Zilda Arns espalhou pelo Brasil pode ser exemplificada pela história do garoto Edson, retirado quase morto dos braços da mãe, em favela do bairro Mangabeira e internado no hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana. A criança estava tão mal que o médico disse: “Vou internar, mas vocês voltam aqui amanhã para buscar o corpo”. Quem conta é Januária Oliveira Pereira, pioneira da Pastoral, que começou há 22 anos a atuar na cidade.

“No dia seguinte, voltamos, carregando a multimistura escondida dentro das fraldas, porque não podia entrar com comida. E começamos a dar o mingau com multimistura para o menino de 2 anos”, lembra a animada Januária.

Edson sobreviveu. Hoje tem mais de 20 anos. Mas a favela ainda está no mesmo lugar e bastou Januária chegar com a reportagem para logo aparecerem várias mães com crianças no colo. Como Maria Luiza Oliveira, 24 anos, mãe de Emerson, 3 anos. “Ele nasceu prematuro e estava com peso baixo. Mas a Pastoral ajudou desde o começo, porque acompanham a gente desde que a criança está no ventre”, explica, usando vocabulário aprendido com as voluntárias religiosas, que adotam o princípio de que o trabalho é também de evangelização.

Em casos extremos, as mulheres da Pastoral acabam assumindo totalmente as crianças, ao invés de se limitar a um acompanhamento. Januária ficou seis meses em casa cuidando de uma menina de cinco anos que tinha cinco quilos, quando deveria estar com pelo menos 15.

“A gente aprendeu até receita de bolo com multimistura. É gostoso”, atesta Vanúbia de Jesus, mãe de Denílson, que vai fazer dois anos dentro de um mês. Januária estima que são três mil crianças atendidas na cidade e assegura que se houvesse mais voluntárias, mais gente seria atendida.

As mães da Mangabeira ainda não sabiam que a criadora da obra morreu no terremoto do Haiti. Mas para o padre Antônio Gasparini, 75 anos, que já esteve pessoalmente com a fundadora e introduziu a Pastoral em Feira de Santana, era um momento de tristeza. “Foi uma perda grande, uma pessoa de grande valor, que deu toda a vida para esse trabalho”, lamentou.

A freira Eliete Santos Reis, que entre 2000 e 2004 foi coordenadora do trabalho em toda a cidade disse que a criadora da Pastoral da Criança, “vai com os pobres, negros e excluídos, como começou”.

 

Posted via email from Glauco Wanderley

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