24.5.10

Centenas de estagiários assumem turmas como professores titulares

O município de Feira de Santana tem 850 estagiários de Pedagogia, para um total de 1.700 professores concursados. Ou seja, o número de estagiários representa a metade do efetivo de professores. Com os docentes em greve desde o dia 10 de maio, mais do que nunca os estagiários vêm sendo fundamentais para manter as escolas funcionando.

O secretário de Educação, José Raimundo Azevedo, estima que 60% das escolas estão tendo aulas mesmo com a greve. Ele afirma que as escolas funcionam não apenas porque contam com estagiários, mas também porque há muitos funcionários que não aderiram.

O sindicato dos professores (APLB) admite que muitas escolas não pararam, porém atribui o fato ao medo de perder o emprego, que assusta os estagiários e os professores concursados que ainda estão em estágio probatório (o estágio probatório é uma espécie de tempo de experiência durante o qual o servidor público é avaliado antes de adquirir a estabilidade no emprego. No caso de Feira de Santana são 3 anos de observação).

Segundo o sindicato, só têm aulas as turmas que estão sob a responsabilidade exclusiva dos estagiários. Entretanto, mesmo sem greve, são muitas nesta condição, de acordo com a diretora da APLB, Indiacira Boaventura. “Tem escola com 3 professores efetivos e 10 estagiários”, denuncia.

Para a dirigente sindical, o uso de estagiários como substitutos de professores traz grandes prejuízos para a educação e provoca atrasos no cronograma escolar. “Como eles ainda estão aprendendo, não sabem elaborar prova, não sabem alfabetizar. E os professores efetivos têm que parar para ajudá-los”, relata.

Os estudantes de Pedagogia assumem sozinhos as salas de aula. Não são apenas acompanhantes e aprendizes do professor. “Se ficassem apenas uma unidade, substituindo temporariamente o titular era diferente. Mas ficam até dois anos. Nunca vi estágio com essa duração”, critica Indiacira.

Luciene dos Santos, coordenadora de uma escola no bairro Novo Horizonte, periferia de Feira de Santana, reconhece que não é bom o estagiário assumir sozinho a turma, mas justifica: “Os pais cobram, pressionam para que os alunos frequentem a escola. Se não tivermos estagiários, eles vão ficar sem aula”. Na escola Otaviano Campos, que Luciene coordena, são 10 professores e 6 estagiários.

Na escola Ester da Silva Santana, no bairro Mangabeira, a situação se inverte. Apenas 3 são professores efetivos e 7 são estagiários, que também assumem sozinhos a sala de aula. “É uma prática que vem desde o governo passado”, detalha a diretora Vanusa Bastos. Ela avalia que muitos apresentam um bom desempenho, mas reconhece que uma parte sente dificuldade, já que ainda estão em formação.

A deficiência é percebida pelos pais. “Eu acho que falta alguma coisa. Eles ainda não têm a experiência necessária. O ideal seriam professores já formados”, reivindica Zenilda da Silva, que tem um filho na 1ª série. Maria José Cardoso, avó de dois alunos, ameniza. “As estagiárias ensinam direitinho”, acredita.

A diretora Vanusa garante que na sala de aula, as crianças não fazem distinção entre quem é formado e quem é estagiário.

A principal diferença entre os dois grupos está no peso dos estagiários para os cofres públicos. São muito mais baratos. Recebem somente R$ 388,00 como pagamento, sem qualquer outro tipo de benefício. Multiplicado por 850, o gasto total não chega a R$ 330 mil mensais. “O governo nos informou que a folha de pagamento dos mais de 1.700 professores custa R$ 5,2 milhões, já somados os encargos”, compara a sindicalista Indiacira.

O secretário de Educação, José Raimundo Azevedo, nega que o governo tenha intenção de economizar quando mantém um grande número de estagiários. Ele ressalta que em sala de aula atuam em torno de 600, enquanto os outros 250 suprem outras áreas, como biblioteca e secretaria.

Para José Raimundo, a necessidade de um grande número estagiários surge em função do elevado número de aposentadorias, licenças-prêmio e licença maternidade. “Fizemos concursos em 2002 e 2006 e todos os aprovados foram chamados”, argumenta o secretário.

Nos registros da secretaria de Administração de Feira de Santana constam a convocação de 851 professores nos dois concursos. Já as aposentadorias estão dispersas ao longo do tempo. Desde a criação do Instituto de Previdência municipal, no início dos anos 90, se aposentaram 871 profissionais da educação.

O secretário diz que está realizando um levantamento para identificar qual a verdadeira necessidade de contratação para que seja feito um novo concurso, previsto para ocorrer este ano, de maneira que os aprovados estejam em sala de aula em 2011.

A greve entra na terceira semana hoje. Em assembleia dia 18 os professores recusaram a proposta de aumento de 6% e depois disso não houve mais reunião com o governo. A APLB reivindica reajuste de 15,93%.

Posted via email from Glauco Wanderley

2 comentários:

  1. Anônimo26/5/10

    Mais do que um fato é uma estratégia do Governo Municipal de Feira, inchar o setor público de "pelegos", guardada as devidas proporções, os estagiários e funcionários em estágio probatório viram vítimas das manobras tiranas. Num mundo capitalista o nosso bolso grita bem mais alto que a ideologia. "Ideologia, eu quero uma pra viver" como diia Cazuza. Alex Santos

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  2. É preciso que os concursados(professores) reunam-se para que o Prefeito em exercício chame os mesmos para ocuparem as vaga dos estagiários.
    Não podemos cruzar as mãos, vamos atrás dos nossos direitos!!! Não é justo abrir novo concurso uma vez que tem concursados na espera.

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