Em apenas 15 anos, a população de Saubara (a 120 quilômetros de Salvador) viu secar quase completamente o rio que nasce no município vizinho de Cachoeira e percorre a cidade – banhada pela baía de Todos os Santos –, antes de desaguar no mar. A rápida degradação foi causada pela retirada de areia em quantidades incalculáveis, que começou há mais de uma década e continua até hoje.
Crianças da escola municipal Caio Moura e membros de um grupo da terceira idade, liderados pelo professor Nilo Trindade, da rede municipal, se uniram em um protesto na tarde de segunda-feira, Dia Mundial da Água, para pedir a recuperação do rio Saubara.
Os pouco mais de 100 manifestantes caminharam da cidade até as margens do rio, cerca de um quilômetro adiante. Como houve dois dias seguidos de chuva, hoje era possível observar um pequeno filete de água no leito. “Antes, era só lama”, relata o professor.
Bem diferente do tempo em que os moradores da cidade, que não contava com água encanada, usavam o rio para tudo: lavar roupa, pescar camarão para comer ou vender, usar nas tarefas domésticas e tomar banho. “Os homens tomavam banho em uma parte e as mulheres em outro”, lembra a dona de casa Edileuza Leite, 52 anos.
Sua companheira nas brincadeiras de infância, Dina Araújo, da mesma idade, confirma a pujança do rio no passado. “Quando chovia, chegava até na cidade. Agora quase não tem água e nem as fontes próximas dão água”, lamenta.
Segundo Pedro Ribeiro, presidente de uma associação que luta pela recuperação do rio, lojas de material de construção de municípios vizinhos, incluindo Salvador, mandam caminhões para recolher caçambas de areia para ser usada em obras. “Cada caçamba é vendida por R$ 200,00”, informa. Além dos comerciantes que usam a areia em larga escala, toda a cidade explorou o recurso natural, sem se dar conta da destruição que provocava. As carroças de areia são vendidas por R$ 10. “Eu mesma usei a areia daqui na construção da minha casa”, admite Edileuza.
A consequência é que o rio, antes estreito, ficou largo, mas seco. Os bambuzais das margens foram derrubados para abrir uma estrada para as carroças e veículos que retiram a areia. “Foi iniciado um replantio nas margens, mas apenas em um pequeno trecho. Com a devastação, já surgiu uma invasão na beira do rio”, alerta o professor Nilo.
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