O filho do ditador líbio Muamar Kadafi, Saif Kadafi, chegou a Lençóis, na Chapada Diamantina sexta-feira e saiu sábado. Neste curto período, foi feito um esforço para que além de rápida, sua passagem fosse a mais discreta possível.
Uma meta difícil de alcançar, com a presença ostensiva de um grande grupo de pessoas que se espalhou em mais de um hotel da cidade, em função das exigências logísticas do personagem.
Nem o prefeito da cidade ficou sabendo da presença do figurão, que oficialmente veio ao Brasil para participar da exposição O deserto não é silente, que mostra a cultura líbia e foi aberta dia 8 no museu Afro Brasil, em São Paulo.
Apesar do esforço para manter segredo e afastar curiosos, era impossível esconder, por exemplo, quatro jatinhos e um helicóptero estacionados no aeroporto de Lençóis, que tem apenas um vôo comercial por semana.
Os bombeiros foram instruídos a não permitir a entrada de ninguém na área reservada à Sinart e os pilotos alegaram que foram contratados para o serviço, mas que não sabiam quem era o cliente.
Um funcionário do aeroporto, de um hotel que os abrigou e o prefeito Marcos de Araújo (PR) informaram, porém, que os pilotos estavam a serviço da Odebrecht, que seria proprietária de algumas das aeronaves estacionadas no pátio.
A Odebrecht tem negócios de grande porte na Líbia. Foi escolhida em 2007 para construir dois terminais novos no aeroporto internacional e um anel rodoviário em Trípoli, capital do país. As duas obras juntas têm um valor total de 1 bilhão e 22 milhões de euros, segundo informa o site da empresa.
O prefeito de Lençóis disse ter tomado conhecimento de que Saif esteve em alguns pontos turísticos da região, como a lagoa da Pratinha, que fica em outro município da Chapada. Soube também que havia agentes da Polícia Federal no esquema de segurança, além de um grupo de mulheres na caravana. Mas a desinformação foi tamanha que disseram ao prefeito se tratar do presidente do Líbano, país de nome semelhante mas que é uma democracia. Na Líbia, país do Norte da África, Kadafi está no poder desde 1969, quando era capitão do Exército – hoje é coronel – e tomou o poder por meio de um golpe de estado que pôs fim à monarquia.
O filho Saif é um dos candidatos a sucessor do pai. Segundo as especulações da imprensa internacional seu irmão Mutassim, que já tentou um golpe contra Kadafi mas foi perdoado, é o outro candidato. Vivendo em tal ambiente de desconfiança, não é de se estranhar o comportamento arredio de Saif, que quando esteve em São Paulo não se deixou fotografar e na Chapada circulou o tempo todo incógnito dentro de uma das diversas vans com vidros escuros que serviram aos visitantes.
A frota à disposição de Kadafi (foto Reginaldo Pereira)
* Saif deixou-se fotografar na abertura da Exposição. As fotos foram proibidas em uma festa a que compareceu, conforme se lê nos dois links abaixo:
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