18.3.10

Paciente passa três horas em busca de atendimento e morre

Um paciente com hanseníase sentindo fortes dores causadas por complicações da doença morreu em uma policlínica municipal de Feira de Santana, sem conseguir internação nos dois hospitais públicos da cidade. Foram três horas em busca de socorro.

O lavrador Luís de Jesus tinha 63 anos e morava no distrito de Bonfim de Feira. O primo Florisvaldo Andrade foi quem acompanhou o paciente em busca de socorro. O primeiro atendimento foi na Policlínica do bairro Rua Nova. Eram por volta de 7 e meia da noite.

Segundo comunicado do governo municipal, as feridas foram tratadas e tomadas providências para reduzir as dores. Mas como havia necessidade de internação, a policlínica encaminhou Luís para o hospital Clériston Andrade.

O hospital estadual, porém, não tinha vagas. Segundo explica a coordenadora da emergência, Wilma Ribeiro, o caso requeria isolamento, já que se tratava de doença contagiosa. O hospital tem um leito de isolamento na emergência e outros 10 em outros setores, todos ocupados.

A direção do Clériston informou, por meio da assessoria de imprensa, que vai encaminhar um relatório para a secretaria municipal de Saúde e para o Ministério Público. A direção do hospital alega que o paciente não poderia ser transferido sem que a Policlínica checasse a existência de vaga no Clériston.

Como o hospital estava lotado, o médico de plantão recomendou que fosse buscada outra unidade. O primo disse que foram à emergência do hospital Dom Pedro de Alcântara, administrado pela Santa Casa de Misericórdia, onde também não foram atendidos.

O vice-provedor da Santa Casa, o médico Luiz Carlos Seixas, contesta a versão apresentada pela família, porque oficialmente não consta o registro da passagem de Luís de Jesus pelo hospital. Entretanto ele afirma que vai abrir uma sindicância para apuração e espera o comparecimento de algum membro da família para prestar informações. Seixas admite que nenhum paciente pode ser dispensado pela portaria ou recepção e que somente o médico é responsável pela decisão sobre o que deve ser feito. “Não temos vaga para isolamento, mas em caso de emergência a pessoa pode ser atendida no Pronto Socorro enquanto espera o surgimento de uma vaga mesmo em outra unidade”, explica.

O doente e seu acompanhante voltaram então para a Policlínica municipal, mas o homem morreu logo depois de dar entrada. A essa altura já eram 10 e meia da noite. De acordo com Gilberte Lucas, diretora da secretaria municipal de Saúde, “ele voltou com desconforto respiratório, levando a uma parada cardíaca. O médico tentou uma reanimação mas infelizmente ele foi a óbito”.

O quadro descrito pela equipe da policlínica é de feridas por todo o corpo e lesões ulceradas devido à hanseníase. Luís tinha iniciado tratamento no centro municipal que cuida de doentes de hanseníase e deveria estar tomando remédios, mas o primo admite que Luís não vinha usando. “Tem outras duas pessoas na família com a doença”, informa Florisvaldo. A secretaria municipal de Educação disse que vai mandar uma equipe na casa da vítima, para verificar a situação.

 

Posted via email from Glauco Wanderley

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Espalhe

Bookmark and Share