6.6.10

Mucugê se prepara para o São João

Ninguém sabe quais atrações vão se apresentar no São João em Mucugê, na Chapada Diamantina. Mesmo assim, um mês antes das festas juninas, já não havia vagas nos hotéis e pousadas da cidade. As casas particulares, opção adotada por grupos grandes de pessoas, são alugadas por valores que variam entre R$ 1 mil e R$ 3 mil, pelo período que vai de 21 a 27 de junho.

Nenhuma contradição nisso. Artistas da moda servem muito mais para atender o gosto do público nativo, especialmente a juventude. Os turistas buscam mesmo é a tradição, o licor, as fogueiras na porta das casas para espantar o frio de junho em uma das cidades mais altas do estado. Não vão a Mucugê para ouvir shows, mas para fazer parte da festa.

A graça do São João em Mucugê é o ar de cidade pequena. Nada de multidões nem megaproduções. A população ainda vive o período como uma ocasião para confraternização.

São João é o padroeiro de Mucugê. A festa se prolonga por quase todo o mês de junho. Desde o dia 15, começam a ocorrer as “alvoradas”. Antes das 6 da manhã, pipocam fogos chamando para a missa. Depois do evento religioso, sai a bandinha liderando uma procissão rumo ao café da manhã coletivo que ocorre em uma escola pública, bancado a cada dia por um grupo (prefeitura, funcionários da banco, servidores da secretaria de Saúde). De noite, tem novena em louvor ao santo. Esse ritual comunitário se prolonga até o dia 23.

No intervalo entre a missa da alvorada e a novena, os turistas fazem o programa típico da Chapada: trilhas pela mata e banho de cachoeira. Respirar o ar puro e passear pela natureza continuam a ser o grande motivo que leva os visitantes a Mucugê.

“Eles vêm atraídos mesmo pela cidade e não pelos cantores. Todo mundo da cidade também tem parentes morando em São Paulo e é nesta época que eles vêm visitar”, explica Roberto Santos, membro do Conselho Municipal de Turismo. O conselheiro confirma que para o turista, a principal atração é o forró pé de serra, sob o comando de bons sanfoneiros da região. Os trios de forró tocam na rua durante a tarde, antes dos shows noturnos. “Tem fogueira em todas as casas e as pessoas servem licor a quem passa, nem precisa conhecer”, diz Roberto.

Entre os mais animados, está o popular Vadinho, o ex-garimpeiro Euvaldo Ribeiro, que com seus 88 anos virou ponto de referência na cidade. Circula o dia todo, contando historias do garimpo e dos tempos áureos de Mucugê, quando, segundo ele, eram em torno de 30 mil habitantes (hoje não chegam a 14 mil). Ele se queixa do estilo moderno de São João. “Agora é essas bandas, é empurrão. O São João ficou preso num lugar só. Antes era de casa em casa”, lamenta.

Vadinho reclama de não ver mais a Marujada, que achava muito bonita, por mais estranho que fosse a visão de homens vestidos de marinheiros a centenas de quilômetros do litoral.

FOTO REGINALDO PEREIRA






Mas ainda tem quadrilhas. De crianças, jovens e adultos. Os ensaios já estão acontecendo, para fazer bonito na semana do São João, quando há pelo menos uma quadrilha por dia na rua. “As quadrilhas são uma das principais atrações”, orgulha-se o narrador Glauber Ribeiro, que comanda o ensaio de 22 pares de adolescentes de escolas públicas.

Este ano, a tradição vai se juntar a uma novidade que combina perfeitamente com a defesa da ecologia, que se espera ver sempre em Mucugê. A decoração da festa será feita com garrafas pet, transformadas em bonecos, fogueiras e casas. Um grupo está trabalhando o dia todo confeccionando o material, sob o comando da coordenadora Maria das Graças Lima. “Em cada uma das seis casinhas da roça que serão montadas vamos precisar de 5.500 garrafas”, detalha. A matéria-prima é fornecida pela usina de reciclagem mantida pelo município. Terminada a festa, o material volta para a reciclagem. Vai ser transformado em vassouras, em uma fábrica que está sendo implantada.

ANDARAÍ

Na página da prefeitura de Mucugê na internet (www.mucuge.ba.gov.br) há uma lista dos hotéis e pousadas da cidade. Mesmo com a lotação esgotada, podem surgir vagas com alguma desistência.

Uma alternativa que muitos adotam é se hospedar na vizinha Andaraí e se deslocar até Mucugê, distante 46 quilômetros. Andaraí tem um São João ainda mais calmo, já que a cidade concentra seus esforços turísticos na Festa do Divino, que ocorreu de 21 a 23 de maio. Tanto que as amigas Maria dos Reis, 24 anos e Aparecida Silva, 17, moradoras de Andaraí, planejam viajar para Lençóis no São João, atrás de “banda boa”, como elas chamam.

Mesmo assim, Andaraí tem suas referências juninas e uma das principais é o licor de dona Zélia de Oliveira. A fama da fabricante de licores corre o mundo. Segundo ela vem gente de toda a Bahia, do Rio e de São Paulo, comprar a bebida, oferecida nos mais variados sabores. “Até do Amazonas já veio cliente”, lembra.

Quem quiser encontrar, tem que perguntar por ela, já que não há cartaz, fachada nem letreiro que diferencie a casa das outras vizinhas. Ainda assim o movimento dura o ano todo e aumenta nos períodos de férias de verão e São João. O licor de gengibre é o preferido, mas tem para todos os gostos. Ou para a falta de gosto também, já que Zélia dispõe das “marcas” Nada não, Qualquer coisa e Você que sabe, para oferecer aos indecisos. Tudo por R$ 7,00 a garrafa.



A ESTRADA

São 473 quilômetros de Salvador até Mucugê. Quem vai pela BR 324 a caminho da Chapada, ao passar por Feira de Santana deve preferir entrar na cidade, seguindo pela avenida Presidente Dutra, que é a sequência natural da estrada. A opção seria o Anel de Contorno. Nos dois casos, é inevitável pegar um pouco de engarrafamento, mas o Contorno está com a pavimentação em péssimo estado.

Logo ao sair da cidade, já na BR 116 Sul, há um posto da Polícia Rodoviária Federal. A concessionária Via Bahia está fazendo serviços na rodovia, que limitam-se por enquanto, a obras no acostamento, que em alguns lugares já não existia e em outros estava coberto pelo mato.

Até a fronteira com o município de Antônio Cardoso, há diversas curvas perigosas, que exigem cuidado do motorista. A pior delas é a curva do rio Cavaco, que separa os dois municípios, no quilômetro 442. A maior parte dos acidentes na BR 116 na região de Feira de Santana ocorre neste ponto.

O tráfego de carretas é intenso até chegar o quilômetro 131, no povoado chamado Paraguaçu, em que o viajante desvia para a direita entrando na BR 242. Deve-se ficar atento ao combustível, pois até Itaberaba (90 quilômetros adiante) não se encontram postos para abastecimento.

Também é possível deixar logo a BR 116 (e fugir também de um parte da 242), pegando a Estrada do Feijão (BA 052), uma rodovia estadual em boas condições. A entrada para a Estrada do Feijão fica somente seis quilômetros depois da saída de Feira de Santana.

Ao chegar no município de Ipirá, pega-se a BA 488, para Itaberaba. A rodovia foi recentemente reformada e está com asfaltamento e sinalização impecáveis. A distância do trajeto pela Estrada do Feijão e BA 488 é praticamente a mesma. A diferença é que as rodovias estaduais têm muito menos tráfego que as federais.

A partir de Itaberaba, a BR 242 é a única opção. Sem susto. A pista foi recentemente reformada e está com asfalto bom e bem sinalizada. 75 quilômetros adiante, chega-se à entrada para a BA 142 (à esquerda). Até Andaraí, são 50 quilômetros de uma estrada ruim. Os buracos são muitos, mas pequenos, de maneira que ainda não comprometem o deslocamento. A rodovia estadual não tem acostamento.

Chegando a Andaraí, faltam apenas 46 quilômetros até o destino final, a maior parte deles de subida (Mucugê é a oitava cidade mais alta da Bahia, com altitude de 983 metros).

Este trecho está melhor que o anterior, porém também não há acostamento e são muitas curvas fechadas, onde convém ser prudente e nunca abusar da velocidade. Ainda mais porque só a paisagem no trajeto já vale o passeio.



foto Glauco Wanderley

2 comentários:

  1. carla17/6/10

    esta cidade e maravilhosa eu fui moradora dai. ja faz uns quinze anos que nao vou ai.

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  2. Moradora de Mucugê-BA27/6/10

    Moradora diz:

    Minha cidade é linda demais...

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