Nenhuma contradição nisso. Artistas da moda servem muito mais para atender o gosto do público nativo, especialmente a juventude. Os turistas buscam mesmo é a tradição, o licor, as fogueiras na porta das casas para espantar o frio de junho em uma das cidades mais altas do estado. Não vão a Mucugê para ouvir shows, mas para fazer parte da festa.
A graça do São João em Mucugê é o ar de cidade pequena. Nada de multidões nem megaproduções. A população ainda vive o período como uma ocasião para confraternização.
São João é o padroeiro de Mucugê. A festa se prolonga por quase todo o mês de junho. Desde o dia 15, começam a ocorrer as “alvoradas”. Antes das 6 da manhã, pipocam fogos chamando para a missa. Depois do evento religioso, sai a bandinha liderando uma procissão rumo ao café da manhã coletivo que ocorre em uma escola pública, bancado a cada dia por um grupo (prefeitura, funcionários da banco, servidores da secretaria de Saúde). De noite, tem novena em louvor ao santo. Esse ritual comunitário se prolonga até o dia 23.
No intervalo entre a missa da alvorada e a novena, os turistas fazem o programa típico da Chapada: trilhas pela mata e banho de cachoeira. Respirar o ar puro e passear pela natureza continuam a ser o grande motivo que leva os visitantes a Mucugê.
“Eles vêm atraídos mesmo pela cidade e não pelos cantores. Todo mundo da cidade também tem parentes morando em São Paulo e é nesta época que eles vêm visitar”, explica Roberto Santos, membro do Conselho Municipal de Turismo. O conselheiro confirma que para o turista, a principal atração é o forró pé de serra, sob o comando de bons sanfoneiros da região. Os trios de forró tocam na rua durante a tarde, antes dos shows noturnos. “Tem fogueira em todas as casas e as pessoas servem licor a quem passa, nem precisa conhecer”, diz Roberto.
Entre os mais animados, está o popular Vadinho, o ex-garimpeiro Euvaldo Ribeiro, que com seus 88 anos virou ponto de referência na cidade. Circula o dia todo, contando historias do garimpo e dos tempos áureos de Mucugê, quando, segundo ele, eram em torno de 30 mil habitantes (hoje não chegam a 14 mil). Ele se queixa do estilo moderno de São João. “Agora é essas bandas, é empurrão. O São João ficou preso num lugar só. Antes era de casa em casa”, lamenta.
Vadinho reclama de não ver mais a Marujada, que achava muito bonita, por mais estranho que fosse a visão de homens vestidos de marinheiros a centenas de quilômetros do litoral.
FOTO REGINALDO PEREIRA
Mas ainda tem quadrilhas. De crianças, jovens e adultos. Os ensaios já estão acontecendo, para fazer bonito na semana do São João, quando há pelo menos uma quadrilha por dia na rua. “As quadrilhas são uma das principais atrações”, orgulha-se o narrador Glauber Ribeiro, que comanda o ensaio de 22 pares de adolescentes de escolas públicas.
Este ano, a tradição vai se juntar a uma novidade que combina perfeitamente com a defesa da ecologia, que se espera ver sempre em Mucugê. A decoração da festa será feita com garrafas pet, transformadas em bonecos, fogueiras e casas. Um grupo está trabalhando o dia todo confeccionando o material, sob o comando da coordenadora Maria das Graças Lima. “Em cada uma das seis casinhas da roça que serão montadas vamos precisar de 5.500 garrafas”, detalha. A matéria-prima é fornecida pela usina de reciclagem mantida pelo município. Terminada a festa, o material volta para a reciclagem. Vai ser transformado em vassouras, em uma fábrica que está sendo implantada.
ANDARAÍ
Na página da prefeitura de Mucugê na internet (www.mucuge.ba.gov.br) há uma lista dos hotéis e pousadas da cidade. Mesmo com a lotação esgotada, podem surgir vagas com alguma desistência.
Uma alternativa que muitos adotam é se hospedar na vizinha Andaraí e se deslocar até Mucugê, distante 46 quilômetros. Andaraí tem um São João ainda mais calmo, já que a cidade concentra seus esforços turísticos na Festa do Divino, que ocorreu de 21 a 23 de maio. Tanto que as amigas Maria dos Reis, 24 anos e Aparecida Silva, 17, moradoras de Andaraí, planejam viajar para Lençóis no São João, atrás de “banda boa”, como elas chamam.
Mesmo assim, Andaraí tem suas referências juninas e uma das principais é o licor de dona Zélia de Oliveira. A fama da fabricante de licores corre o mundo. Segundo ela vem gente de toda a Bahia, do Rio e de São Paulo, comprar a bebida, oferecida nos mais variados sabores. “Até do Amazonas já veio cliente”, lembra.
Quem quiser encontrar, tem que perguntar por ela, já que não há cartaz, fachada nem letreiro que diferencie a casa das outras vizinhas. Ainda assim o movimento dura o ano todo e aumenta nos períodos de férias de verão e São João. O licor de gengibre é o preferido, mas tem para todos os gostos. Ou para a falta de gosto também, já que Zélia dispõe das “marcas” Nada não, Qualquer coisa e Você que sabe, para oferecer aos indecisos. Tudo por R$ 7,00 a garrafa.
A ESTRADA
São 473 quilômetros de Salvador até Mucugê. Quem vai pela BR 324 a caminho da Chapada, ao passar por Feira de Santana deve preferir entrar na cidade, seguindo pela avenida Presidente Dutra, que é a sequência natural da estrada. A opção seria o Anel de Contorno. Nos dois casos, é inevitável pegar um pouco de engarrafamento, mas o Contorno está com a pavimentação em péssimo estado.
Logo ao sair da cidade, já na BR 116 Sul, há um posto da Polícia Rodoviária Federal. A concessionária Via Bahia está fazendo serviços na rodovia, que limitam-se por enquanto, a obras no acostamento, que em alguns lugares já não existia e em outros estava coberto pelo mato.
Até a fronteira com o município de Antônio Cardoso, há diversas curvas perigosas, que exigem cuidado do motorista. A pior delas é a curva do rio Cavaco, que separa os dois municípios, no quilômetro 442. A maior parte dos acidentes na BR 116 na região de Feira de Santana ocorre neste ponto.
O tráfego de carretas é intenso até chegar o quilômetro 131, no povoado chamado Paraguaçu, em que o viajante desvia para a direita entrando na BR 242. Deve-se ficar atento ao combustível, pois até Itaberaba (90 quilômetros adiante) não se encontram postos para abastecimento.
Também é possível deixar logo a BR 116 (e fugir também de um parte da 242), pegando a Estrada do Feijão (BA 052), uma rodovia estadual em boas condições. A entrada para a Estrada do Feijão fica somente seis quilômetros depois da saída de Feira de Santana.
Ao chegar no município de Ipirá, pega-se a BA 488, para Itaberaba. A rodovia foi recentemente reformada e está com asfaltamento e sinalização impecáveis. A distância do trajeto pela Estrada do Feijão e BA 488 é praticamente a mesma. A diferença é que as rodovias estaduais têm muito menos tráfego que as federais.
A partir de Itaberaba, a BR 242 é a única opção. Sem susto. A pista foi recentemente reformada e está com asfalto bom e bem sinalizada. 75 quilômetros adiante, chega-se à entrada para a BA 142 (à esquerda). Até Andaraí, são 50 quilômetros de uma estrada ruim. Os buracos são muitos, mas pequenos, de maneira que ainda não comprometem o deslocamento. A rodovia estadual não tem acostamento.
Chegando a Andaraí, faltam apenas 46 quilômetros até o destino final, a maior parte deles de subida (Mucugê é a oitava cidade mais alta da Bahia, com altitude de 983 metros).
Este trecho está melhor que o anterior, porém também não há acostamento e são muitas curvas fechadas, onde convém ser prudente e nunca abusar da velocidade. Ainda mais porque só a paisagem no trajeto já vale o passeio.
foto Glauco Wanderley
esta cidade e maravilhosa eu fui moradora dai. ja faz uns quinze anos que nao vou ai.
ResponderExcluirMoradora diz:
ResponderExcluirMinha cidade é linda demais...