Serra Preta viveu na terça-feira seu dia de centro financeiro. Sob o testemunho de cabras e bodes que pastavam em frente, a rua da prefeitura do vilarejo recebeu talvez pela primeira e última vez, um cortejo de carrões importados: Hilux, BMW, Corolla e até um que meu parco conhecimento da vida da alta burguesia não permitiu identificar.
Foto: Reginaldo Pereira
Que faziam no sertão esses carrões e seus donos? Tentavam salvar seu dinheiro enterrado numa quase falida cooperativa de crédito, que tem sua sede em Serra Preta mas fazia negócios mesmo era em Feira de Santana. A reunião era uma assembléia para decidir o que fazer diante de um prejuízo de R$ 13 milhões acumulado ao longo dos anos de existência da cooperativa, de acordo com relatório de auditoria que foi apresentado na ocasião.
Empréstimos sem garantias, com juros muito abaixo do mercado, concedidos ao próprio presidente ou a empresas dirigidas pela mulher e pela filha dele. Estas foram algumas das situações apontadas em uma representação criminal do Banco Central contra a administração da cooperativa de crédito do Vale do Subaé, que tem o nome de fantasia de Subaé Brasil. A cooperativa diz ter 3.200 filiados em três agências em Feira de Santana e mais cinco cidades vizinhas.
As agências pararam de atender o público, porque faltou dinheiro para os cooperados sacarem os valores que tinham depositado. Ao tomarem conhecimento da representação do BC, os cooperados destituíram o presidente Lourival Araújo. A nova direção encabeçada por Rubens Cerqueira, da Cimentex, deve elaborar um plano de recuperação.
A assembléia marcada inicialmente para as 13 horas, só foi começar por volta de 16. Os empresários feirenses, com grandes volumes de dinheiro depositados no banco se misturavam a agricultores e aposentados que sobrevivem, quando muito, com salário mínimo. Quase ninguém queria contar quanto tinha depositado. O jovem dono de uma padaria em Feira de Santana, Pedro Gonçalves, foi uma das exceções. Ele tinha conta corrente somente nesta instituição e admite que corre o risco de perder valores próximos de R$ 40 mil. “A gente tem medo de guardar dinheiro em casa, com medo do ladrão e acaba entregando na mão do ladrão”, lamentava-se.
A dona de casa Dionísia Correa protestava porque precisa do pouco dinheiro poupado mensalmente do pagamento da pensão que recebe, para bancar as despesas do dia a dia. “Nunca me vi num aperto desse”, lastimava.
Já o empresário João Borges, da Farmácia do Caroá, alegava que tem R$ 2,2 milhões retidos (mais R$ 200 mil da filha) e que pagamentos quitados por ele na cooperativa não foram repassados aos fornecedores, que agora lhe cobram. Ele contratou o advogado João Maia, o mesmo que defende os barraqueiros da orla de Salvador. Maia não deixou por menos. Pediu prisão preventiva, confisco dos bens, busca e apreensão de documentos e até o confisco do passaporte, para evitar uma eventual fuga do ex-presidente da cooperativa, Lourival Araújo.
Mas havia também várias pessoas que duvidavam da veracidade das afirmações de João e achavam que ele estava por ali principalmente para se defender do boato que se espalhou de que ele, ao sacar algo em torno de R$ 4 milhões, teria sido o responsável pela quebra do Subaé Brasil.
O QUE DIZ O BC
O relatório do Banco Central aponta que em um período de seis meses, entre o final de 2006 e início de 2007, a cooperativa concedeu ao seu próprio presidente, 11 empréstimos, que somam R$ 344 mil. Cinco deles com a baixíssima taxa de juros de 0,73%. Os empréstimos são freqüentes porque a prática era usar um novo para quitar o anterior. O Banco Central também aponta uma simulação de compra de créditos de dívidas não pagas, a fim de regularizar a contabilidade e esconder os prejuízos. Quem compra parte dos créditos podres é uma empresa que tem como representante legal a esposa de Lourival. E quem avaliza é outra, que tem como sócia gerente a filha do presidente destituído do Subaé Brasil.
Lourival alegou que a mulher é apenas funcionária da empresa. E que o fato de serem parentes não impede a concessão de empréstimos, já que são também cooperados. Ele não quis se estender sobre as acusações do Banco Central, alegando que há um processo ainda inconcluso e que ele está apresentando sua defesa. O caso está sendo investigado pela Procuradoria da República no estado.
porque a sede é Serra Preta, pra fugir de que?
ResponderExcluirNesse prato também tem Pimenta, se é que vcs entendem...
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