19.2.10

As duas bandas da meia-noite

FOTO: REGINALDO PEREIRA

Meia noite em Rio de Contas. A bandinha do município de Pé de Serra toca em um dos palcos e de repente outra aparece no chão da Praça da Matriz, acompanhada dos bonecos gigantes e um bloco de carnavalescos. Surpresas como essa da noite de segunda-feira podem acontecer a qualquer momento no carnaval de Rio de Contas. Afinal é um autêntico carnaval de rua, sem uniforme e com espaço para a criatividade.

Por exemplo, no desfile das baianas, oito – das quais sete eram homens –apareceram “vestindo” um carro alegórico “movido a jurubeba”, segundo um cartaz carregado por uma delas. O carro era só uma moldura em volta da cintura dos foliões e dependia dos passos de cada um para sair do lugar, à moda dos Flintstones. Certamente o único carro do mundo que mesmo sem rodas corria o risco de virar, dependendo do percentual de jurubeba ou outro combustível etílico no sangue dos condutores.


Carros – os fabricados em série pelas montadoras multinacionais – chegam cheios na cidade a todo momento, com três na frente e cinco atrás. Ou mais ainda, se forem transportados na carroceria de um utilitário. Eles vêm principalmente das cidades mais próximas. Este ano, Rio de Contas tem ainda mais visitantes, porque a vizinha Brumado não teve carnaval.

Os moradores se amontoam nas casas de parentes e cedem espaço para a moçada que vem curtir a festa sem muita exigência quanto ao conforto. Uma casa de dois quartos pode ser cômoda para uma família de cinco ou seis pessoas. Mas não para uma turba de 40 homens dormindo em colchonetes. O risco de faltar água é grande. Para esquecer o transtorno, os visitantes “comem água”, ouvem música e dançam. Na frente de uma destas casas, carinhosamente denominada “área escolar”, a moçada improvisou até um palco na calçada, com cantor, microfone e instrumentos.

Segundo o diretor de turismo de Rio de Contas, Gilcarlos Dantas, em 2009 a polícia militar calculou que por dia estiveram na cidade 12 mil pessoas. A sede do município tem pouco mais de 7 mil moradores. “Este ano temos mais gente, mas o cálculo só é feito após a festa. Alguns problemas acontecem, mas as queixas são poucas”, minimiza.

Tão difícil quanto harmonizar o estilo de vida pacato do resto do ano e o turbilhão momesco, é conciliar tradição e modernidade nos palcos. Mas os organizadores, com o apoio financeiro da Bahiatursa, tentam. Duas bandas tocam ao mesmo tempo em palcos separados por poucos metros na Praça da Matriz. No palco do axé, o público é mais numeroso e 100% jovem. No das músicas clássicas da folia, comandado por bandinhas de sopro e percussão, o público típico é de meia idade mas há uma surpreendente quantidade de jovens que preferem a tradição do que o rebolation e suas variáveis.

Posted via email from Glauco Wanderley

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