19.2.10

Se visse Alex você não diria que ele é capaz de matar o filho e estripar a mulher


A faca do crime (fotos:Reginaldo Pereira)

Não consegui esconder a surpresa ao entrar na sala. Só havia uma equipe de TV, facilmente identificável. Então a quarta pessoa só podia ser “o monstro”, como o chama agora o pai da moça estripada.

Um guri.

Novo, baixinho e franzino.

De costas para ele perguntei ao motorista da TV, arregaçando as sobrancelhas: - É esse o cara?


O "monstro" perdera a fala. Suas respostas eram baixas demais, inaudíveis. A repórter reclamou depois: - Teve coragem pra fazer o que fez e não tem pra falar.

O que Alex da Cruz Martins fez foi matar a mulher com quem vivia há menos de um ano, da mesma idade, 19, com facadas. Provavelmente com o mesmo corte que fez em sua barriga atingiu o filho – o próprio filho – já com oito meses, que ela carregava. O feto caiu para fora. A mãe ficou no chão gritando por socorro e Alex foi alcançado pelos vizinhos e espancado. Não morreu porque a polícia chegou a tempo de impedir o linchamento. A ambulância também ainda encontrou a mulher viva, mas quase sem chances de sobreviver. O golpe que arrancou e matou o bebê tirou também vísceras da mãe, de acordo com o policial Antônio Sampaio, que fez o levantamento cadavérico. Pouco depois de partir para o hospital, a ambulância retornou trazendo o corpo.

INDÍCIOS

Quando Joseane Azevedo dos Santos estava grávida de três meses, teve uma briga com Alex da Cruz Martins. Ele descarregou a raiva na cômoda comprada no dia anterior para guardar as roupinhas do bebê que nasceria em março.

A mãe de Joseane, Maria Helena de Azevedo, lembra que a fúria de Alex ao destruir o objeto que serviria para o bebê deixou a família dela assustada. Em outra ocasião, o pai de Joseane, José dos Santos, 55 anos, confessa que chegou a providenciar um revólver para tirar satisfação depois que a filha se queixou de ter apanhado do homem com quem vivia há cerca de um ano, mas não casada oficialmente. “Mas ele se desculpou”, diz José chorando e lamentando a segunda chance que deu.

Alex diz que não lembra do momento exato do crime, ocorrido por volta de meio dia da Quarta Feira de Cinzas. Não lembra nem de quando deu as facadas, cometendo o duplo homicídio, nem de quando quase foi morto espancado pelas pessoas que presenciaram a briga e o assassinato. Conta que bebeu quatro doses de cachaça em um bar, enquanto esperava a chegada da carne que tinha saído para comprar. Calcula que demorou cerca de meia hora e diz que ao voltar para casa encontrou a mulher na cama “se pegando” com um homem que para ele é desconhecido e que fugiu.

O pai da vítima duvida que isto seja verdade. “Como pode ser, se a menina não ia para lugar nenhum sem ele?”, questiona José. A mãe afirma que a garota teve somente um namorado antes de Alex. “Há muito tempo”, acrescenta.

Segundo Alex, depois do flagrante ele apenas chamou a mulher para conversar, ela saiu com a carne dizendo que ia colocar na geladeira, mas correu para se esconder na casa da vizinha. Sua versão é de que neste momento ele pegou a faca e foi buscar a mulher. Joseane tentou fugir correndo, mas foi alcançada e atingida fora da casa, no pasto.

O casal morava na Fazenda Guedes, povoado de Mato Grosso, na zona rural do município de Conceição da Feira, cidade vizinha a Feira de Santana. Alex trabalhava em uma granja e era ajudado pela companheira. Segundo o policial que foi ao local do crime, os vizinhos dizem que a mulher era agredida constantemente.

Alex tem um imenso inchaço na testa, resultado de uma ou algumas pancadas que levou na tentativa de linchamento. De tão grande parece uma outra cabeça crescendo sobre a original.


Meneando a cabeça, o próprio delegado regional Fábio Lordelo parecia perplexo diante do quase menino, sem antecedentes criminais, capaz de fazer uma barbaridade dessas. Para que não fosse morto no superlotado complexo, pediu a transferência do “monstro” para o Conjunto Penal, onde há mais condições de mantê-lo isolado dos outros presos, cujo código de ética condena crimes do tipo que Alex praticou.

Posted via email from Glauco Wanderley

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Espalhe

Bookmark and Share