4.3.10

Prisões e apreensões por causa de remédios falsos

Uma indústria clandestina de produtos vendidos como remédios populares, fabricados sem os mínimos critérios de higiene e sem qualquer orientação técnica, foi fechada ontem em Feira de Santana, por uma blitz que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está realizando na Bahia.

 A operação também fiscalizou farmácias e encontrou uma série de irregularidades, como remédios vencidos e falsificados, falta de alvará e ausência de farmacêutico responsável. Em Salvador, na terça-feira, foram presos os donos da rede Estrela Galdino, por venderem sem receita remédios que têm a venda controlada. O crime é enquadrado como tráfico de drogas.

Em Feira de Santana os donos de três estabelecimentos foram presos, entre eles o presidente do Sindicato das Farmácias no município, Noésio Cunha. A Farmácia Cunha foi flagrada vendendo remédio contrabandeado, produzido em outro país e sem licença para venda no Brasil. Como o crime é federal, ele foi conduzido para Salvador por agentes da Polícia Federal que também participaram da operação. Em outras duas farmácias foram presos os empresários Ramon Lima Pamponet e José Pamponet Macedo. As três farmácias foram interditadas.

De acordo com João Roberto Castro, fiscal da Anvisa, duas delas, onde foi encontrado remédio falsificado terão a licença de funcionamento cassada. A investigação ainda vai tentar descobrir quem fornecia a medicação falsificada. Os empresários presos e seus advogados não quiseram falar com a imprensa.

FÁBRICA CLANDESTINA

Os fiscais da Anvisa, juntamente com a Polícia Rodoviária Federal e membros da Vigilância Sanitária do município e do estado, localizaram na rua Belém, bairro Conceição, a fábrica Nature Life, que produzia remédios vendidos como milagrosos, contra derrame, impotência sexual, câncer, pressão alta e todo tipo de males.

Os produtos são divulgados abertamente em emissoras de rádio pelo interior. A distribuição alcança pontos de venda em Salvador, em outros estados e até outras regiões. Apreensões ocorridas ao longo dos últimos meses foram aos poucos revelando a origem dos falsos remédios, anunciados como naturais ou tônicos revigorantes. Entre eles, um dos mais conhecidos é a Flor da Catingueira, cuja fabricação e venda já havia sido proibida pela Anvisa.

A quantidade de material apreendido na fábrica foi estimada em uma tonelada pelo comandante da operação, delegado federal Adilson Bezerra, que é também chefe de segurança institucional da Anvisa, em Brasília.

No pequeno galpão, espalhavam-se caixas, rótulos e embalagens. Os produtos eram feitos em um único panelão que estava cheio no momento da chegada da fiscalização. Havia um filtro imundo que retirava as impurezas mais visíveis do processo de fabricação. Depois de feita o registro na delegacia, tudo seria levado para incineração no aterro sanitário.

O dono da fábrica, Paulo César de Oliveira Cruz Filho, 32 anos, também não quis falar com os jornalistas. O crime praticado por ele contra a saúde pública é considerado hediondo. “A pena é de 10 a 15 anos de prisão”, especifica o delegado Bezerra. No entanto, Paulo César é reincidente. Já foi preso pelo mesmo motivo, pelo mesmo delegado, em outro endereço.

Desta vez Paulo César foi acusado ainda de desrespeitar direitos trabalhistas. Fiscais da delegacia do trabalho foram ao local para fazer o flagrante e tentar garantir a indenização dos funcionários. Uma funcionária que não quis se identificar contou que recebia uma diária de R$ 10,00. Se trabalhasse 30 dias ganhava pouco mais da metade de um salário mínimo. Ela contou que atualmente a fábrica estava com três funcionários, mas que já chegou a ter oito, alguns recebendo pagamentos ainda menores que o dela.

RISCOS PARA SAÚDE

O médico clínico e nefrologista Getúlio Barbosa destaca a possibilidade de contaminação como o maior problema na ingestão destes produtos. “Pode haver contaminação por alguma bactéria como salmonela e levar a uma doença grave”, avisa.

Ele já testemunhou também o agravamento do estado de saúde de pacientes com diabetes, que começam a tomar as “garrafadas” pensando em combater algum outro problema de saúde. “Esses xaropes sempre têm uma dose alta de açúcar”, constata.

Outra possibilidade, ainda que mais rara, é que uma erva usada na composição cause lesões no fígado. “Algumas passam quando a pessoa deixa de tomar, mas outras se tornam permanentes”, observa.

 

Posted via email from Glauco Wanderley

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