Revoltante a cena descrita por Malu Fontes em seu mais recente artigo dominical em A Tarde. Um policial ao chegar a uma ocorrência onde agoniza uma pessoa baleada, filma, interroga a vítima e vai embora na viatura, dizendo que o socorro cabe ao SAMU. E a filmagem feita por ele aparece no dia seguinte em um programa policial na TV.
Causa (ou deveria causar) perplexidade a atitude do policial, mas igualmente espanta o silêncio diante de um absurdo que deveria ser intolerável. Apenas um artigo de jornal numa coluna de crítica de TV denuncia tamanha indiferença pela vida humana?
A indecência não repercute? Não há um promotor para denunciar o crime? Não há um delegado ou comandante de batalhão para punir o policial? A atitude não escandaliza os chefes da polícia, o governador, um juiz, um deputado? A imprensa não toma o caso como um escândalo?
Compreende-se que grande parte da população, por muitas razões, tenha a noção de que quem morre baleado é bandido e bandido tem que sofrer e morrer. Mas se as autoridades e a mídia referendam com sua omissão este entendimento (e até o incentivam, nos programas ditos policiais), então estamos perdidos mesmo.
A fumaça do crack deve ter tomado toda a atmosfera. Estamos todos entorpecidos.
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