9.3.10

Prefeitura sabia das rachaduras e infiltrações no coreto que desabou em Coité

A prefeitura de Conceição do Coité, na região sisaleira do estado, sabia que o coreto da Praça 8 de dezembro, que desabou matando uma pessoa e ferindo 53 durante uma tempestade na tarde de domingo estava com a estrutura comprometida. Quem admitiu ter conhecimento da situação foi o próprio secretário de Obras do município, José Venandro.

O secretário comunicou o fato em dezembro ao vereador Adalberto Gordiano, que é membro do conselho paroquial. O vereador, por sua vez, disse que transmitiu a informação na reunião de avaliação da festa da padroeira, que ocorre em dezembro e por isso a igreja não utilizou mais o espaço, que fica em frente à Matriz, em qualquer evento, nem nas celebrações de Natal e Ano Novo.

O padre Charles Bastos, por sua vez, alega que não recebeu qualquer comunicação oficial ou por escrito. “Apenas ouvi comentários sobre o estado do coreto, mas não teve qualquer laudo técnico falando dos riscos”, diz. De qualquer modo, o religioso considera que a responsabilidade pelo local é da prefeitura, a quem pertence o patrimônio. “O coreto está em praça pública”, argumenta.

Até o prefeito Renato Costa (PP) alegou que não foi notificado sobre as más condições de conservação da estrutura. O secretário Venandro admite que fez comunicações apenas verbais e que não interditou o local por achar que apesar de ter detectado rachaduras e infiltrações não havia o risco de desabamento.

O coreto veio abaixo quando dezenas de pessoas que estavam na praça para participar de um bingo, se aglomeraram para se proteger da tempestade que caiu durante aproximadamente uma hora. No sábado já tinha acontecido uma chuva forte. Segundo o estudante Josenir Silva o coreto estava tão cheio que ao suspender os braços não conseguiu mais abaixar. Percebendo o aumento da quantidade de água que caía pelas rachaduras do teto, ele resolveu sair, com medo do desabamento. “Desci os degraus e dei alguns passos, quando desmoronou”, lembra aliviado.

MINISTERIO PÚBLICO APURA

As responsabilidades pelo desabamento serão apuradas pelo Ministério Público, garante o promotor Raimundo Moinhos. Ele acredita que pode ocorrer o indiciamento dos responsáveis por homicídio doloso ou culposo. A Polícia Civil instaurou inquérito a pedido da promotoria.

Segundo o promotor, pode ser responsabilizado tanto quem promoveu o evento na praça quanto quem o autorizou. Havia milhares de pessoas reunidas para o bingo anunciado como beneficente, em favor de uma associação da zona rural. As cartelas custavam R$ 10,00 com sorteio de carros, moto e poupança em dinheiro.

O promotor afirma que o evento é ilegal e disse que foi realizado sem comunicação prévia às polícias civil e militar e à justiça. A própria promotoria teria que ser ouvida para dar parecer autorizando ou negando a concessão do espaço.

O organizador do evento, Vanderlon Mota, mostrou à reportagem cartas para a prefeitura, a polícia, a justiça e até a igreja, pedindo autorização. No entanto eram documentos que continham apenas o protocolo de “recebido”, sem uma resposta dos órgãos dando autorização.

Esta modalidade de jogo é combatida pelo Ministério Público em Conceição do Coité. No ano passado a polícia civil abriu inquérito para apurar a prática, por solicitação do próprio promotor Moinhos. Ele afirma que desde que assumiu a comarca, há pouco mais de um ano, não ocorreu nenhum.

Entretanto, o próprio Vanderlon Mota (irmão de Regi Mota, outro conhecido promotor de bingos em toda a região sisaleira) conta que realizou um bingo em novembro do ano passado em Conceição do Coité. Ele tem um escritório montado na praça, em frente ao coreto que desabou. É um estabelecimento provisório, aberto somente durante o tempo necessário para a divulgação, venda e realização do bingo. A previsão de Vanderlon é concluir o bingo interrompido dia 7 no próximo domingo, dia 14. “Tem cidades que não autorizam, mas nós só fazemos onde a prefeitura dá autorização”, garante.

O realizador do bingo diz que não foi procurado por ninguém para pedir qualquer  tipo de indenização ou ajuda, mas acha que contribuiu bastante isolando a área com cordas de sisal que pegou em seu escritório e mobilizando socorro por telefone no momento do acidente. Vanderlon já tirou suas próprias conclusões sobre a tragédia. “Ninguém tem culpa. Nem prefeito, nem padre. Aconteceu por causa da chuva, que é da natureza. Deus fez a natureza e ele é que sabe de todas coisas”, filosofou.

INDENIZAÇÃO

Uma associação civil chamada Amigos de Coité, anunciou que vai colocar um advogado à disposição das vítimas, para responsabilizar a prefeitura e solicitar indenização, já que o secretário admitiu ter conhecimento do risco e não adotou providências.

No final da tarde, foi enterrada Laurimar Carneiro, de 71 anos, única pessoa que morreu no acidente. O sobrinho dela, Evanildo Araújo, disse que a família considera a possibilidade de entrar na justiça mas não tinha tomado nenhuma decisão.

Em rápida reunião na praça, o prefeito, o padre e o secretário de Obras decidiram demolir o coreto. Duas horas depois, quando o trator ia começar a demolição o secretário desistiu. Disse que não tinha coragem de derrubar o patrimônio histórico, construído em 1951 (esta data se baseia na memória dos moradores, pois não tinha sido encontrado um documento certificando a idade). Foi decidido então que seriam retiradas apenas as partes que ainda ameaçavam cair, para que o destino da construção fosse decidido depois, ouvindo a opinião de técnicos.

 

Posted via email from Glauco Wanderley

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