10.3.06

Auxílio-gogó

José de Arimatéia, o original, era um homem generoso. Ofereceu um túmulo de sua propriedade para o enterro de Jesus, que àquela altura, tinha passado de profeta, líder de multidões, a renegado, abandonado pelos próprios discípulos, esquecido pelo povo e tido pelas autoridades como um subversivo perigoso, finalmente eliminado.
José de Arimatéia era também legislador, como o nosso vereador de mesmo nome. Era membro do sinédrio, um conselho formado basicamente por sacerdotes. Os estudiosos acreditam que fosse um homem de posses. Generoso e endinheirado, não se imagina José de Arimatéia solicitando ao sumo-sacerdote um auxílio-túnica para comparecer a contento nas sessões plenárias.
O nosso vereador, porém, reclama o auxílio-paletó. E além do pedido de uma verinha a mais, surge com uma justificativa infeliz, a saber, a alegação de que em Salvador houve redução no recesso porque os vereadores ganham esta ajuda. É uma lógica um tanto enviezada. Seria melhor o vereador dizer que ganha pouco e que com estes caraminguás não pode comprar um paletó a mais para dar conta de mais algumas sessões que ocorrerão nestes dias acrescentados ao ano legislativo.
Pessoalmente, eu concordo com a sugestão já expressa pelo César Oliveira, de que o melhor seria, neste calor, abolir o paletó. Mas não somos vereadores e usar este modelito importado de países onde faz frio é assunto que diz respeito exclusivamente a eles.
O que não diz respeito exclusivamente a eles, mas eles fingem que sim, é a forma como se gasta o dinheiro público. O auxílio-paletó é uma vergonha. Mas seriam até aceitáveis uns cursos de formação para ensinar ao vereador qual é o seu papel e como desempenhá-lo melhor. Acrescido, claro, de algumas aulas sobre finanças públicas, lei de responsabilidade fiscal, oratória e filosofia (mal comparando, poderíamos chamar de auxílio-gogó).
A cidade ganharia homens públicos melhor preparados e não teríamos que ouvir propostas deste quilate. Ou como aquela outra de extinguir a Tribuna Livre por ser mal utilizada, como cogitou Fábio Lucena. Ora, mal utilizada a tribuna é frequentemente pelos próprios vereadores e nem por isso se propõe a extinção do legislativo municipal.
Cursinhos preparatórios permanentes, bem que podem valer a pena (atenção: não valem aqueles congressos turísticos onde vez por outra nossos vereadores se aventuravam alegremente Brasil afora e até nas fronteiras internacionais, quando a coisa acontecia em Foz do Iguaçu).

Bancos

Não falo dos bancos fechados pelo Procon, que sobre isso já há um bocado de notícias e debates acalorados. O que me chamou a atenção foi ver a divulgação pela Secretaria de Comunicação, da colocação de sete bancos na agradável pracinha construída nas imediações do EMEC.
A Secom está aí para informar mesmo o que o governo faz. Mas eu gostaria de ler que a Prefeitura colocou pelo menos 700 bancos pela cidade. A Getúlio Vargas mesmo, lugar onde tanta gente caminha, inclusive pessoas idosas, pode-se dizer que praticamente não possui bancos. Tantas árvores frondosas, com sombras que são um oásis no verão! Porém, não há onde sentar. A ausência de bancos é tamanha que a colocação de sete vira notícia.
Mais bancos e mais latas de lixo, por favor!

Publicado na Tribuna Feirense em 04/03/06

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