Feira de Santana vive uma escalada de violência, como se vê desde o final do ano passado. Isso causa não apenas horror, como é apropriado, mas certa excitação nas massas. Sabe-se que as notícias de crime chamam mais atenção e os jornais vendem mais nos dias em que um crime repercute na comunidade.
Excitação para uns, indiferença para outros, que dão de ombros e acham que quem morre assassinado aparentemente por encomenda, como está ocorrendo com freqüência, é “vagabundo”.
Temos essa cultura da violência entranhada, em que matar é normal, aceitável e até desejável. Claro, desde que as mortes permaneçam lá entre os desconhecidos e não atinjam a nós, nossos parentes ou conhecidos. A dor de quem fica, as conseqüências familiares daquela morte, a herança da violência deixada nos que ainda vão crescer, nada disso entra na conta dos que dizem: “Morreu porque era vagabundo!”
E todo que morre assim é vagabundo até provar o contrário, coisa que como morto só poderia fazer se fosse personagem de ficção espírita. Então quem mata um “vagabundo” já começa a se achar no direito de decidir quem é ou não vagabundo, visto que tem a licença e até o incentivo da sociedade para matar.
Policiais, que tem a missão de garantir a segurança e não a “faxina”, freqüentemente matam em “troca de tiros” com o marginal. Marginais sempre de péssima pontaria, pois são invariavelmente os que morrem e nunca os que matam. E se morreu é culpado, ninguém discute.
E a comunidade achando bom, porque é um bandido a menos; e não quer saber se o bandido é bandido mesmo; e não acha que lugar de bandido é na cadeia e sim debaixo de sete palmos. Se for pra cadeia, que seja humilhado, coma comida que nem bicho quer, conviva com ratos, baratas, pulgas e piolhos nas celas.
Infelizmente mesmo nos meios de comunicação, colegas de imprensa apregoam estas como as únicas saídas convenientes para quem é bandido.
Ainda que não seja por humanidade, pelo menos por inteligência, por favor, vamos parar com essa mentalidade! Vamos começar a cobrar das autoridades cadeias decentes, polícia que investiga, que previne, que prende. E sobretudo uma justiça que não solte com muita facilidade o que tem advogado, deixando preso somente o que não tem (mesmo que autor de delitos muito menores).
Matar bandido nunca será a solução. O matador que começa matando bandido, sempre acaba se colocando no papel de juiz, para decidir quem é bandido e quem não é. Bandido passa a ser quem pisou no pé dele, quem olhou pra mulher dele, quem comprou fiado no bar do comerciante que gosta do matador e não pagou, quem colocou som alto no domingo, quem pediu para o matador abaixar o som.
E muita gente inocente vai morrer, para depois ser chamado do lado de cá, longe da periferia violenta, de “vagabundo”. Longe mas não tão longe, pois o matador circula e um dia essa mentalidade de faroeste começa a fazer vítimas por toda parte.
Publicado na Tribuna Feirense em 10/02/06
7.3.06
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