6.3.06

Sente e espere

Quando ouvi falar em SIT, antes do sistema começar a funcionar, apressadamente concluí que algum criativo bolara a sigla para que soasse como city, que é a palavra para cidade lá na nossa matriz, os Estados Unidos.
Depois que começou a funcionar, me dei conta da literalidade do SIT, que é sentar, em inglês. Na verdade, SIT é só começo do nome, que completo deve se chamar SIT AND WAIT, ou SENTE E ESPERE. Mas aí é que está a ironia (ou a perversidade) do negócio. Sentar como, se quase a totalidade dos pontos e mesmo os terminais, são desprovidos de assentos para tanta gente que precisa de sit?
Escrevo este texto na Getúlio Vargas, sentado, porque saí depois da hora do rush e fui o segundo num destes raros pontos que têm banco. Já espero há 12 minutos por um ônibus que me leve ao terminal central. Enquanto isso, passaram por mim três vans superlotadas. A única que se deu ao trabalho de parar, compactou mais dois passageiros no bagageiro e partiu (bagageiro sim, porque somente objetos e não pessoas andam desse jeito).
17 minutos de espera. Quem não quer esperar, pega um motoboy, o único transporte eficaz na cidade, em termos de horário. É incontável o número dos que passaram por mim nesses minutos de espera pelo ônibus vermelho. De moto é mais caro, é perigoso, mas chega logo. Por isso não faltam passageiros para motoboys legalizados e informais. Por isso eles andam com um celular e quando deixam um passageiro já têm um cliente cativo esperando.
Eu, 22 minutos esperando. Ouço um colega de espera comentar que veio de outro lugar onde esperou em vão por mais de 40 minutos.
25 minutos. Passa a quarta van superlotada, a terceira que não pára. 16 pessoas se acumulam no ponto, quase todas em pé, que os bancos não foram projetados para tanto tempo de espera. Teriam que ter muitos metros de comprimento. Chega o ônibus. Descubro que sou um sortudo por ter esperado menos de meia hora, pois um senhor morador das imediações informa que o ônibus anterior (e de outra linha), passou há 45 minutos.
20 minutos depois estou no terminal central. Hora de esperar em pé. Talvez seja uma medida igualitária. Como é muita gente para esperar, não haveria bancos para todos, então que fiquem todos em pé.
Dessa vez espero só cinco minutos. Mais alguns minutos e estou no meu destino, uma hora depois de chegar ao ponto. Se viesse de motoboy gastaria uns 15 minutos.
Certo que o transporte é coletivo e não está aí para atender minha conveniência. Mas tem que atender a de todos na medida do possível. Com esse tempo de espera, não atende a de ninguém. Talvez atenda às empresas, já que não se importam de perder tantos passageiros para as ágeis motos.

publicado na Tribuna Feirense em 18/11/05

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Espalhe

Bookmark and Share