Se a chamada “indústria de multas de trânsito” fosse mesmo uma indústria capitalista, com dono ou acionistas e executivos, boa parte de seus funcionários perderia o emprego, por falta de produtividade, por desperdiçar oportunidades para faturar.
Porque o que se comete de infração nesta cidade é um espanto. Então, mesmo sem saber quantas multas são aplicadas, sei que está muito aquém do que poderia ser. Eu mesmo vejo a todo momento um guarda liberar um avanço de sinal ou outra infração, porque não conseguiu ou não quis anotar a placa do infrator. Deixou pra lá, como dizemos neste país tão compreensivo.
O caso é que somos tão compreensivos que o cidadão quer pintar o sete no trânsito sem ser multado e ainda se acha no direito de protestar contra uma suposta indústria de multas. A verdade é que o motorista de Feira de Santana ainda não teme a multa. Vá dirigir ali na avenida Paralela em Salvador e você vai ver que (quase) todo mundo vai direitinho nos seus 80 quilômetros, porque sabe que se vacilar, é clic do radar e multa chegando pelo correio (chega pros motoristas feirenses de passagem também). Isso a despeito daquele espação todo, que convida a pesar o pé no acelerador. Vá na América do Norte e passe do limite de velocidade na estrada, pensando que ninguém tá vendo e logo você vai escutar a sirene zoando e piscando no seu retrovisor.
Para grande parte do bicho humano, o que faz com que a regra de convivência em sociedade seja cumprida é o temor da punição. É o mesmo princípio do policiamento ostensivo, que a comunidade cobra tanto para ter mais segurança: o ladrão não vai assaltar vendo o policial ali pertinho.
No trânsito de Feira, a lei da selva ainda tem muitos adeptos. Seta indicando que o sujeito vai dobrar para esquerda ou direita, boa parte dos motoristas parece que não sabe pra que é (será que é um acessório família, pros filhos pequenos brincarem na garagem?). Faixa de pedestre parece mais uma interseção entre os que vão a pé e os motorizados, onde o motorista fica disputando com o pedestre quem vai passar primeiro. Também é muito utilizada por motoqueiros para treinar zig-zag com as pessoas, como se fossem aqueles cones de moto-escola ou exame de habilitação.
Até outro dia, ainda era muito comum, principalmente o morador mais antigo da cidade (talvez achando que antiguidade é vaga), parar em qualquer dia e qualquer hora em fila dupla no centro, fechar o carro e ir ao comércio. Hoje em dia é mais comum a tática do carona que fica no carro pra qualquer emergência de convencer o guarda ou até retirar o veículo se não tiver jeito.
As nossas autoridades de transporte têm muito o que fazer e que melhorar no trânsito. Devem ser cobradas por muita coisa, como o péssimo sistema de transporte coletivo ou as sinaleiras que usam a tática exclusiva da onda vermelha (você pára de sinaleira em sinaleira). Mas o pecado de um suposto excesso de multas, elas não têm.
Que venham os radares, que nos farão avançar em civilização. Civilização é isso. É controlar nossos instintos primitivos, um dos quais é o cada um por si ou no máximo cada um pelo seu grupinho e dane-se o interesse coletivo que isso é algo muito abstrato que a gente passa por cima sem nem ver!
Publicado na Tribuna Feirense em 09/12/05
7.3.06
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